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Artigos

  • O novo mandato de Lula

    As conclusões do G-8 indicam a exaustão de uma audiência internacional para as arengas clássicas do que possa ser a dita e redita boa vontade dos ricos por um mundo melhor. Quem hoje consegue, ainda, sensibilizar-se pelo rame-rame do auxílio dos países ricos às periferias desvalidas, ou atentar ao montante desses números, ou ao que foi, de fato, concorder à superação da fome neste começo de século: Ou, mais ainda, quem prestou ouvidos ao mesmo reclamo, por mais piedoso, de Bento XVI na mesma batida quase inaudível?

  • Os paradoxos da democracia boliviana

    O avanço da era Obama dá ênfase em todo mundo ao empenho democrático e às exigências da cidadania e dos direitos humanos. Na dimensão latino-americana depara-se a interrogação das reformas constitucionais da Bolívia com vistas à mudança do suporte social do sistema político e permite aos povos indígenas chegar, de fato, ao comando do país. Até onde a ideologia do Estado-nação castrou o verdadeiro substrato cultural do país na força de sua identidade pré-colonial, a reclamar hoje a retomada de sua autonomia decisória?

  • Os perigos do udeno-petismo

    O establishment brasileiro encontrou, nestas décadas, formas repetidas de resistir à mudança de fundo em que avança o “país de Lula”. Com razão, em 45, na ditadura Vargas, de par com o processo da melhoria social, trazido pelo populismo. A União Democrática Nacional surgia, então, desse primeiro ímpeto do país “bem” frente à nação que começava a usufruir de novas redistribuições de renda, logradas pelo avanço do salário mínimo e pelas múltiplas conquistas sindicais saídas do Estado Novo.

  • Sem Lula, o povo de Lula

    Exauriram-se nestes idos de setembro as possibilidades constitucionais para um terceiro mandato presidencial. Não existe dúvida quanto à propensão nacional para acolhê-lo, quer através de emenda da Carta ou, sobretudo, diante de um plebiscito. É o que refletem as últimas pesquisas do voto espontâneo em Lula, por mais de um terço dos consultados, em distância arrasadora de qualquer outro nome. A decisão contra o Presidente, na sua solidão na grandeza, diante da responsabilidade histórica que o levou ao Planalto.

  • Um Brasil só de esquerdas

    Lula, ao falar sobre o novo horizonte político nacional, declarou que só deparam as alternativas de esquerda. É a consequência do salto objetivo do País, acelerado desde o governo petista. E a sensação é tão funda que, hoje, para o presidente, a direita pode ser vista como troglodita, congelada na paleologia de uma vintena atrás. O que está em causa é o quanto ganhamos uma consciência de mudança, e é irreversível a superação do País com 2% da população proprietária de 46% do território ou dos 5% mais prósperos detendo metade da riqueza brasileira. E não tem sentido falar-se em assistencialismo, na visão ideológica dos reformismos de todo o sempre, diante do que representa, hoje, constituir a nossa classe média emergente 56% dos brasileiros ou termos reduzido a menos de 10% a população ainda fora de uma efetiva economia de mercado.

  • Sucesso político e anticlímax

    Não há que insistir mais sobre a permanência do coeficiente de 83% de apoio a Lula, mas talvez dentro de uma perplexidade quanto ao passo adiante. O Presidente vive, sem perda do seu prestígio, no impasse objetivo que lhe custa a estrita observância das regras do jogo democrático. Não se duvidaria também do resultado de um plebiscito, fosse adiante a busca de um terceiro mandato, no que se destaca tanto, e de vez, dos governos perpétuos das equívocas repúblicas bolivarianas, a partir de Hugo Chávez.

  • A classe c já na universidade

    O mandato de Lula acaba sem o desfecho do grande projeto de reforma universitária. Mas as políticas de avanço social poderiam enfrentar, desde já, um dos atrasos mais dramáticos neste salto para o conhecimento do terceiro grau. Contamos hoje com 22 milhões de brasileiros que cumpriram o ensino médio e param no acesso à nova etapa de sua educação. E a cada ano, dentre 5 milhões de nacionais capazes de chegar ao campus, 1 milhão fica fora no impasse entre a falta de espaço e vagas na universidade pública e a dificuldade de custeio do ensino particular.

  • A era Obama paga seu preço

    A inequívoca aceleração história do mundo pós-Obama aí está na tomada de oposição da extrema direita conservadora, nos Estados Unidos, e nas antigas periferias, na dissesão da "esquerda da esquerda", nas coletividades indígenas da América Andina. Demorou ainda o republicanismo bushista, a encontrar o foco do confronto com a nova Presidência, avivada agora pela consagração que lhe dá -too much, too soon - o Prêmio Nobel da Paz. Este reconhecimento maciço vem de par com o avanço da idéia gêmea à da democracia, que é a do pluralismo na multiplicidade de expectativas de mudança que se abrem a um país que se liberta de sua insegurança internacional pela guerra preventiva, e pela "civilização do medo".

  • Um futuro sem lentilhas tucanas

    O presidente já anuncia para o começo do ano eleitoral um regime de 40 horas semanais de trabalho. Não se diga que é reivindicação aguilhoada, ou premida, num país que indiscutivelmente já frui do bem estar inédito pelo qual 56% da população já se pode dizer, pelo IBGE, instalada numa emergente classe média. A redução da jornada é uma das promessas que pode disparar o gatilho do regime petista.

  • O Brasil dos Brics

    A recepção a Ahmadinejad em Brasília ou nosso apoio defunto a Zelaya são riscos da nova e larga mirada internacional que o governo Lula deixará como legado do Brasil potência. Não se precisa insistir sobre o contraste hoje com a América Latina, de cuja moldura saímos, de vez, no peso da população, do PNB e, sobretudo, de um modelo de desenvolvimento sustentado, com nítida desconcentração da riqueza. Nesse destaque das velhas fatalidades geográficas, o Brasil passa a nação dos BRICS, que se livraram da velha canga de um mundo dividido entre centros e periferias neste século XXI. Nosso dinamismo vai à comparação com a China e a Índia. Centramo-nos no mercado interno, na crescente mobilidade coletiva em que o consumo das classes menos favorecidas respondeu tão profundamente pelo escape aos vaticínios e apocalipses do que seria a crise de 2008.

  • Corrupção acima de todas as suspeitas

    Este fim de ano permitiu que se chegasse ao extremo da corrupção política, no que o escândalo Arruda se soma ao affair Sarney e ao velho mensalão. Deparamos com o sistema e o contrassistema, no que o provedor de dinheiro põe à sua mercê, sem volta, o beneficiário. O pagador filma, desde saída, a quem corrompe, e o torna cúmplice forçado de toda a operação, a qualquer tempo de uma denúncia. Pouco importa a desfaçatez das tomadas dos pacotes, nas cuecas, nas meias ou nas bolsas.Ou a naturalidade dos recebimentos em que este montante de paga entrou nos lobbies dos contratos públicos, e não se fale mais nisso. No caso antológico do govemador do Distrito Federal, é o próprio cappo quem reparte as notas, para toda a malha hierárquica dos facilitadores, no maior à-vontade burocrático. Não são atravessadores, a sugerir propinas esquivas, mas agentes em Palácio a dia, hora e pacote de cédulas novas e contadas, de pagamento em espécie, com o timbre dos espaços públicos e a sofreguidão da coleta.

  • Esquerda e tirania utópica

    O futuro alinhamento eleitoral não vai apenas, no voto-opção, ao confronto entre o governo e o tucanato. Encarna as fraturas de repúdio a Lula, nascidas da extrema esquerda brasileira. Paga aí o Planalto, num paradoxo, o preço da sua política de vigências políticas e de manutenção, necessária, das maiorias para o avanço do programa de mudança. E tal para vencer o enfraquecimento do PT e das garantias de que permaneceria o roldão político da vitória de 2002 e a legenda originalmente responsável por esse resultado. O que vemos é a ruptura entre o consenso da militância e as dúvidas que começam a levantar uma intelligentsia do partido no seu seio. Esta se expõe aos radicalismos inevitáveis de uma insatisfação com o teor das mudanças, conforme um ideário rigoroso de esquerda. Acredita num modelo de superação do capitalismo, sem, entretanto, a visão global do processo histórico de agora e, sobretudo, da amplitude real das contradições da crise internacional dos nossos dias.