O presidente já anuncia para o começo do ano eleitoral um regime de 40 horas semanais de trabalho. Não se diga que é reivindicação aguilhoada, ou premida, num país que indiscutivelmente já frui do bem estar inédito pelo qual 56% da população já se pode dizer, pelo IBGE, instalada numa emergente classe média. A redução da jornada é uma das promessas que pode disparar o gatilho do regime petista.
No quadro de poupanças parcas, de dispêndio financeiro não produtivo do grosso das reservas bancárias, tal iniciativa de Lula repercute na melhoria, de pronto, da inovação e produtividade do empresariado brasileiro. A se armar para 2010, o Planalto reserva-se a última palavra sobre,a dinamização dos fundos públicos e previdenciários, para a aplicação econômica, e o quadro de aliança de seus beneficiários no último nível da grande empresa nacional.
A crise destes meses só logrou sinalizar a manopla que tem o governo, nesta aceleração do desenvolvimento, ganhas a estabilização e a nova configuração de mercados neste Brasil potência. Frente às velhas dependências econômico-eleitorais do sistema, esta coligação objetiva, do capital privado e do poder de Estado, define a continuidade do modelo, independentemente de Lula. Esta realpolitik foi tão longe, que desarmou todo interesse efetivo de uma reforma eleitoral, ou da antiga dança dos idealismos reformistas, para maquiar a dominância de coronéis e cangaceiros no controle político do País.
Mais do que eleitoreiras, as iniciativas do ano entrante, quais a da aprovação da reforma tributária, já são as do avanço de etapas de um processo que veio para ficar ou, sobretudo, mostra a distinção de natureza, hoje, entre governo e oposição. O vigor dado, recentemente, pelo ex-presidente Fernando Henrique às possíveis teses dessa diferença só elucida, contra a globalização hegemônica neoliberal e os esponta-neísmos do mercado, a opção por Lula. Esta envolve a presença intrínseca do Estado na vida econômica, e a afirmação do clima do desenvolvimentismo de Juscelino, na definição dos pesos reais dos atores da mudança, e de uma convivência controlada com o privatismo voltado, de fato, para o mercado interno nacional e sua imediata melhoria social.
É nesse quadro em que a consciência nacional é de uma opção que vai ao voto fora do entra-e-sai crônico que permite a democracia, para o exercício de uma nova consciência popular. Nunca foi tão prêssega e afoita a estimativa de futuro pela oposição, mantido o silêncio e a tranqüilidade das certezas do "povo de Lula". Mesmo porque, vivendo uma noção prospectiva que o petismo trouxe à chegada ao Planalto, intui o Presidente como o País sabe para onde não volta. Só vão às urnas opções entre esquerdas, na consciência de que o PAG deixa o Brasil sem alternativas, e o sucesso do governo de São Paulo acompanha o rumo emprestado pelo Planalto ao futuro do País.
A política financeira sem quebra de Henrique Meireles pôs-nos, de fato, a salvo de toda desestabilização inflacionária. Os projetos de desenvolvimento da infraestrutura, do sistema portuário aos aproveitamentos de energia, reforçam a certeza do pré-sal já para daqui a um qüinqüênio, como o contrário do privatismo tucano da dependência, hoje, perempta, do leva-e-traz de dinheiros externos.
A renúncia do presidente a toda veleidade de um terceiro mandato, entretanto, é que fica como pano de fundo do Brasil do voto em 2010. A democracia brasileira planta-se hoje mais fundo que o próprio desenvolvimento e sua sustentabilidade. E o "povo de Lula" não é herdeiro, mas co-partícipe do que foi esta chegada ao Planalto, e de como não se transige sobre a escala de nosso futuro.
Jornal do Commercio (RJ), 20/11/2009