Não há que insistir mais sobre a permanência do coeficiente de 83% de apoio a Lula, mas talvez dentro de uma perplexidade quanto ao passo adiante. O Presidente vive, sem perda do seu prestígio, no impasse objetivo que lhe custa a estrita observância das regras do jogo democrático. Não se duvidaria também do resultado de um plebiscito, fosse adiante a busca de um terceiro mandato, no que se destaca tanto, e de vez, dos governos perpétuos das equívocas repúblicas bolivarianas, a partir de Hugo Chávez.
Doutra parte, 2010 é um ano de pleno exercício da iniciativa política, e Lula realisticamente mantém os aliancismos de respeito às maiorias necessárias à passagem das medidas fundamentais da reforma tributária. No eixo deste impulso está o do modelo assumido para o nosso desenvolvimento sustentado, que não quer apenas garantir a expansão de um PNB, mas assegurar também a sua redistribuição imediata na redução das diferenças entre o Brasil dos milionários e a nação que agora conseguiu, neste qüinqüênio, trazer 56% dos brasileiros à nossa classe média.
Enfatiza ainda este resultado a nossa capacidade de ter saído da crise externa e garantido esta dinâmica do futuro nacional, que vai ao mercado interno e à densidadede suas trocas, inclusive na saída definitiva
de 90% dos brasileiros da economia de mera subsistência. O anticlímax nasce de que todo este recado e desejo espontâneo do seu continuísmo em novo pleito não ungiu um sucessor natural, que deixasse a campanha mais ao debate de programas que do aponte de pessoas.
O anticlímax em que entramos neste último quadrimestre é o da ausência, ainda, do gesto presidencial buscando dentro dos quadros partidários estritos por seu herdeiro, e confiando nos resultados progressivos, passando, talvez, a exponenciais do PAC, ou de se cristalizar, de saída, um governo de união nacional com ou sem os partidos aliados pelos cabeças de chapa.
Neste contexto ainda, a presença imediata de Dilma é de quem tem, agora, horizontes nítidos, somando a manifestação inequívoca do petismo à vontade presidencial. Devastador, sim, é manter-se a possível proliferação de candidaturas. Estas sinalizações meramente potenciais prejudicariam o momento da lógica objetiva, das escolhas, livre das miniestratégias regionais espertas de resultados. O avanço do nome de Ciro Gomes não precisava marchar por essas veredas, somando contra o verdadeiro aliancismo de que o PSB é sócio histórico. Não há também por que esperar para ver quem soma ao ainda balaio da situação. Mas, de vez, desmontar o poder de barganha dos atrasados. O povo de Lula está alerta e sabe dos jogos já feitos com que vai às urnas.
Jornal do Commercio (RJ), 2/10/2009