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Um Brasil só de esquerdas

 

Lula, ao falar sobre o novo horizonte político nacional, declarou que só deparam as alternativas de esquerda. É a consequência do salto objetivo do País, acelerado desde o governo petista. E a sensação é tão funda que, hoje, para o presidente, a direita pode ser vista como troglodita, congelada na paleologia de uma vintena atrás. O que está em causa é o quanto ganhamos uma consciência de mudança, e é irreversível a superação do País com 2% da população proprietária de 46% do território ou dos 5% mais prósperos detendo metade da riqueza brasileira. E não tem sentido falar-se em assistencialismo, na visão ideológica dos reformismos de todo o sempre, diante do que representa, hoje, constituir a nossa classe média emergente 56% dos brasileiros ou termos reduzido a menos de 10% a população ainda fora de uma efetiva economia de mercado.


Ao mesmo tempo, entretanto, o cenário do novo País exerceu do PT, tanto que o povo de Lula tem o dobro do assentimento popular da legenda fundadora. O tucanato, por outro lado - e nele pensou o presidente ao falar das esquerdas amplas - , avançou sobre a socialdemocracia no modelo de desenvolvimento vinculado, também, mas que à produtividade ortodoxa, à efetiva e imediata redistribuição de renda.


Mas em que termos, hoje, a esquerda de Lula pode fazer frente às novas contradições, a permitir, de fato, pela sua superação, um indiscutível futuro que saia dos progressismos fáceis e do mero espontaneísmo liberal? Ou que, de fato, se dê conta da importância essencial que o Estado tem na nossa economia, e no controle da sua efetiva expansão? De saída, há que atentar à exigência de maior controle do próprio capital bancário do Brasil e a à necessidade de sua efetiva orientação para mudança. Liberados os recursos compulsórios detidos durante a última crise, 80% dos dinheiros dos grandes bancos brasileiros não foram à realimentação do empréstimo a pequenas ou à média empresa, mas maciçamente à negociação de papéis no jogo da bolsa. Torna-se, hoje, peremptório o quanto a presença do Estado na infraestrutura da economia é essencial ao avanço do desenvolvimento sustentado, exatamente, sobretudo, no quadro de investimentos estratégicos do tecido rodoviário ás usinas hidroelétricas, criando aqueles exponenciais de expansão, reclamados pelo crescente planejamento brasileiro.


Nesses termos, há que re-situar a importância de problema ambiental nessa estratégia integrada. O atraso na permissão do aproveitamento da Bacia do Xingu demonstra esse emperro perfeitamente dispensável. Mas a tensão mais grave, na garantia do salto à frente, ocorre no entendimento pelo Estado do efetivo modelo da Petrobras, como sinônimo do que seja melhor exploração da nossa economia sob controle público. É desnecessário repetir a dimensão macroestratégica que a empresa desempenha no quadro do nosso aparelho e produção. Mas o desponte das riquezas do pré-sal evidenciam, por outro lado, o quanto não é dentro de um benefício societário que se pode de fato maximizar para o bem público esse novo ganho da riqueza nacional.


Uma esquerda prospectiva no Brasil dá-se conta da importância do sistema de partilha e de como o marco regulamentar do pré-sal é um novo gatilho da nossa prosperidade. Pode, em proporções imprevisíveis, ir à educação, à ciência e à tecnologia, fora das somas tradicionais da vantagem das concessões ou dos dividendos das empresas, mesmo brasileiras. O povo de Lula é beneficiário desse novo lance, no que o presidente presente a nossa grandeza num quadro de escalas e, neles, não teme as outras esquerdas. Desenvolvimento sustentado não é o de todas as cautelas do progresso, mas dos despontes em que o verdadeiro futuro nasce da sábia e temerária exploração de toda a sua potencialidade.


Jornal do Commercio (RJ), 25/9/2009