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Artigos

  • Saudades da velha dominação

    Reuniu-se em Alexandria, por iniciativa estrita de uma entidade da intelligentsia, a Academia da Latinidade, um conjunto de pensadores ocidentais e islâmicos para a crítica do diálogo internacional transformado em retórica política, senão em impostura assumida diante da brutalidade do conflito pós-queda das torres em Manhattam. Não se trata mais de invocar-se o lugar comum do choque e seus vaticínios acadêmicos, mas do entendimento do que seja, de fato, a partir de uma “civilização do medo”, o começo de um universo hegemônico, mal raiado o novo milênio. Não se cogita mais também de discutir o cenário do mundo unipolar, como mera exasperação dos colonialismos, ou das dominações conhecidas, ou repetir os paralelos entre impérios, ao fio todo da história, como a conhecemos até hoje. É escapar a realidade do que agora começa, recorrer-se a comparação entre Roma e Washington ou acreditar que o poder universal como o que constrói o Salão Oval tende a se afrouxar, necessariamente, a largo prazo, e exaurir-se pela própria inércia.

  • Alexandria e a esquerda global

    A recém-terminada Conferência de Alexandria, organizada pela Academia da Latinidade, começa já a ter as suas repercussões, tanto no debate de seu apelo no Parlamento Europeu entre nós, graças ao inédito acompanhamento pela imprensa, nos rumos da busca mais ampla do que seja uma esquerda no mundo global. Ou melhor, no limite mesmo em que se configura a hegemonia, e o confrontá-la, ainda, com uma alternativa, antes do fechamento do novo sistema. Não estamos mais no bom tempo da dominação, por sua vez herdeira do velho colonialismo, seus epítetos, suas denúncias, mas diante de um complexo inédito de condicionamentos coletivos, em que se afirma rapidamente no pós 11 de setembro a superpotência transformada em reitora das cruzadas do Ocidente.

  • Míssil marcado para Arafat

    A Conferência de Alexandria sobre a nova “civilização do medo”, juntando pensadores ocidentais e islâmicos, numa iniciativa inédita da Academia da Latinidade, terminou com a denúncia do terrorismo de Estado, a recrudescer no mundo hegemônico, exatamente no dia do assassinato do sucessor do xeique Yassim, responsável pela ação do grupo Hamas. E poucas horas depois, Sharon se encarregava de abrir caminho à caça livre a Arafat desertando de vez o diálogo, para armar os mísseis do poder público no extermínio seletivo dos antagonistas.

  • Desconstruindo o diálogo global

    A Conferência de Alexandria, recém-finda, reuniu na Biblioteca reconstruída, e de impacto simbólico incomparável, pensadores do Ocidente como do Islão, para discutir, após a guerra do Iraque, o novo repto à convivência internacional, fundada na construção da paz, e no diálogo como seu instrumento a toda prova. Até agora depararíamos idas e vindas, recuos táticos ou escaramuças maquiavélicas. Mas, de princípio, não se saía da crença na interlocução entre os povos - e na visão das guerras como acidente ou entorses ao progresso mundial.

  • Hegemonia e civilização do medo

    Realizou-se na semana passada em Alexandria conferência de pensadores e líderes voltados às presentes tensões do diálogo das civilizações, por iniciativa da Academia da Latinidade. Difícil encontrar-se lugar mais simbólico que o da reunião, na Biblioteca quase mitológica para o encontro entre cabeças do Ocidente e do mundo islâmico a enfrentar a ruptura de pontes do pós 11 de setembro. Todo o debate se desenvolveu sobre o tema da hegemonia e da civilização do medo, tônica que Alain Touraine pôde arrematar pela pergunta: o crescente pavor de agora não coloca em perigo de morte o próprio Ocidente?

  • Não higienizemos o futuro

    A Conferência de Alexandria ora em seu remate está gritando a fome de esclarecimento e de reciprocidade de perspectivas, a vencer a civilização do medo, e a depender do trabalho do intelectual à frente do seu tempo. Foram convidadas pela Academia da Latinidade personalidades ligadas ao nervo do pensamento contemporâneo, marcado pela reflexão do pós-moderno; pelo debate, no seio mesmo da hermenêutica islâmica, do que seja o seu horizonte de diálogo; pela paralisia do próprio centro do mundo ocidental, preso à ambigüidade, entre a arrogância e o receio, decorrente da vulneração, pela primeira vez, do próprio “santo dos santos” do território americano, pela catástrofe das torres gêmeas.

  • Vieira Coelho, um Diógenes Brasileiro

    No mesmo ano em que celebramos duas décadas da morte de Alceu Amoroso Lima - o nosso leigo canônico - perdemos, a 8 de dezembro último, José Vieira Coelho, seu sucessor imediato na presidência da Ação Católica Brasileira nos idos do meio século e do começo dessa interrogação pela Igreja no seio do seu tempo que levaria ao Vaticano II. Paraibano, sucedia ao carioca cosmopolita, ex-aluno de Bérgson, e aberto ao diálogo internacional, a partir da experiência francesa.

  • Nosso sucesso, nossa solidão externa

    Todo o prurido, aqui, nestes dias, com o deslanche das reformas, só contrasta com os elogios lá fora, que Lula vai colher na Europa. Apenas começa o desfrute, por um Governo consciente, da nova força desta imagem, e de como pode fazê-la pesar, no que seja a nossa originalidade como possível alternativa ao neoliberalismo exausto. Avoluma-se a ânsia de classificar a novidade.

  • Oriente Médio: Lula lá

    Lula marca agora no Oriente Médio o fio natural de desdobramento desta inédita presença exterior do Brasil. Sistemática, conseqüente, e disposta a encher o palco desta nossa nova visibilidade. Chega à Beirute dias após o reconhecimento, pela Time, desta liderança emergente do Brasil que não se quer mais ver na prisão sob palavra do Mercosul. Cancún foi o começo do arranco a mostrar o quanto a estabilização foi tão só o cacife da nova credibilidade internacional do governo que começa a falar grosso, no avanço das reformas internas, e lá fora pela rebeldia aos rótulos de periferias, ou terceiro-mundismo.

  • Entre Atocha e o Mar Morto

    O atentado da estação de Atocha trouxe à mídia mundial o semblante da Espanha toda; olhares certeiros, em excesso, semblante por semblante, desses oito milhões que foram às ruas, em nada massa nem sombra, perfis acutilados, na vigília que começava a mudar em horas a história de seu país. É quase inédito este lance de nossos dias, ajudado pelas vésperas do voto, numa alteração de cabeça do povo, assestada muito para além de uma mera reprimenda, ou de um desconforto passageiro do eleitorado. O governo Aznar precipitava-se num poço sem fundo, frente às certezas e tremeluzes da vitória certa, até a quinta-feira das explosões.

  • Ruína moral e dever histórico

    A quem importa, de saída, o escândalo Waldomiro? Na verdade, 47% do País, segundo os jornais, nem tomaram conhecimento, e 26% reconheceram estar mal informados, mesmo quando quer um afastamento de Dirceu. O escândalo importa a 26%, de todo o Brasil de sempre. Há todo o Brasil de sempre, entranhado ainda num sistema e numa estrutura de que a corrupção é a segunda natureza. Não será o último, o auxiliar pestiferado, peça de uma engrenagem clássica do subdesenvolvimento que privatiza a função pública; faz do cargo a oportunidade que a vida econômica lhe negou, da passagem pelo poder, a condição de enriquecimento instantâneo dos ditos espertos.

  • Uma desnecessária usura do poder

    Como o Governo Lula responde ao “a que veio”, em tempos e seqüências tão distintas das expectativas do Brasil estabelecido? O primeiro ano de mandato transformou os aliados eleitorais do PT em sócios efetivos de um programa de poder: deu a partida nas reformas ditas de base como índice de modernização institucional do País; diferenciou o caminho da mudança à margem dos purismos ideológicos e dobrou a sua facção radical; inaugurou uma política externa de novas alianças, por fora dos denominadores tradicionais das periferias e de seu petitório clássico.

  • Esperança selvagem

    O quadro das expectativas do governo Lula enfrenta, com a crise Waldomiro, risco muito diverso da clássica decepção com mais uma equipe do Planalto que não escape ao ferrete da corrupção. Um governo da mudança e intrinsecamente disposto à transformação social é também o dos olhos de ver a realidade de onde parte; e do que seja a estrutura social em que se enraíza.

  • O PT, velha e nova esquerda

    O que resultou, de fato, da reunião de São Paulo, quando, pela primeira vez, abrigamos na terra de Lula, e do novo símbolo da mudança social o encontro da Internacional Socialista? E para dizer dos outros caminhos do mundo, assediado pela hegemonia do mercado global? Foi talvez um alerta aos cuidados, senão a novas guinadas, o não se ter entoado o hino lendário da entidade durante a enorme reunião. Estaria ou não, aí um sinal de que é outra, agora, a clarinada de fundo, para formular a alternativa ao universo unipolar em que mergulhamos?

  • O primeiro dever de Lula

    Enganam-se as Cassandras a procurar em episódios como o de Waldomiro, o começo da perda de encanto do Governo. A matéria-prima do enlevo com o regime não se atrita pelas escaramuças continuadas, onde é a retranca do status quo que aparece e não o despontar do inédito de agora; do que realmente sensibiliza o que antigamente se chamaria do povão; do que responde por esta sensação de que se virou a página do País que estava aí. São outras as expectativas do enorme estrato de população que pela primeira vez se vê no poder, e quer o recado material de que o País mudou. Do sucesso do Fome Zero à transferência das águas da bacia do S. Francisco, fertilizando o Nordeste, ao sucesso da Bolsa-Escola. A busca destes resultados vem de par com a rememoração, a cada momento gratificante, da investidura de Lula, e as iniciativas que a reflitam, na expectativa de um outro Brasil, de outra exigência, que a da reiteração do imperativo ético nas relações de poder.