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Artigos

  • Urnas do óbvio, não da mesmice

    Vamos cada vez mais às urnas, sob dois comandos. Rege as nossas preferências a absoluta definição de pesquisas entregando-nos à fatalidade dos jogos já feitos por antecipação. Em princípio ganhará quem já está na frente, e é por estes índices que se organizam as chapas, formam-se as coalizões e desbanca-se toda a veleidade de candidatura do "bolso do colete", ou de maiorias silenciosas, correndo por fora dos boletins da preferência, semana por semana, demonstrada previamente pelo eleitorado. Torna-se um anacronismo patético, um não se acreditar nesses números entrados de vez no círculo vicioso dos próximos resultados eleitorais: vota-se engrossando o que, já por antecipação, fizeram dos ibopes a voz das parcas e o recorte inevitável do futuro.

  • Ainad Lula

    São, na verdade, os resultados das eleições municipais de outubro de 2000 que vão fixar de vez em torno do PT o avanço o congruente contra o que está aí, a partir do peso estratégico da mudança brasileira, dentro do perfil que lhe apontou o censo recém publicado, dando pela inaudita percentagem de 81% dos brasileiros vivendo em cidades, e a sua larga maioria nas nossas megalópoles.

  • A universidade, mudanças e impasses

    O começo do Governo Lula tem sido marcado pela recarga de debates, congressos e troca de opiniões, concernentes ao projeto de futuro do Brasil, ligado às grandes vertentes estratégicas em que a educação cobra o seu quinhão decisivo. O ministro Cristovam Buarque quer-se deliberadamente instigante, senão até provocador, no que considera como o recurso contra o pior risco na tarefa do Estado e das políticas públicas, neste front onde o essencial é manter-se a luta sem quartel contra a obsolescência. E não é maior o seu repto, num país ainda a viver as tensões do subdesenvolvimento. O nível de aceleração histórica em que vivemos evidencia uma multiplicidade de tempos para superar atrasos e ao mesmo tempo saltos ao futuro. Experimentamos o empuxe tecnológico e o arcaísmo que resiste à mesma inquietação de Darcy Ribeiro e Paulo Freire.

  • O duplo tombo dos neocéticos

    Superou toda clássica desconfiança do País de sempre o ganho logo em primeira votação da reforma tributária, menos de um mês após o sucesso na da Previdência. Vem em catadupa a afirmação do Governo Lula, saindo dos pessimismos crônicos, ou das sabedorias inerciais do excesso de prudência de novas presidências, que perderam o rompante do "que fazer" imediato, tal como aconteceu com FH.

  • "Campus" contra a violência

    O impacto da violência nos "campus" da Estácio de Sá em março último, chegando ao tiro que acidentou para a vida a estudante Luciana de Novaes, levou à mobilização permanente das universidades a enfrentar esse risco endêmico e estrutural das megalópoles.

  • Lula, os radicais e os 'sem palácio'

    Entre estilhaços e questões de ordem, emendas aglutinativas e destaques, o placar de aprovação em primeiro turno da reforma da Previdência dá-nos a prova dos noves do sucesso do governo. Por entre tantos anticlímaxes, pessimismos de praxe, pragas e vaticínios das Cassandras e sabenças derrotistas, o resultado não deixa dúvidas quanto a verter o regime o sucesso eleitoral em máquina de votos para as primeiras reformas. E garantir o a que veio Lula.

  • Depois da terceira via

    Vivemos, nestes dias, essa desforra da cabeça na política brasileira, pedindo um anticlímax à fieira de sucessos do primeiro semestre presidencial. Mais do que crise, o que se vê é a superestimação de frustrações, aqui e ali, mais pelo clima de expectativas desatendidas do que por tensões concretas, a deixar cicatriz para um futuro imediato. É todo um quadro de retaliações antecipadas que voltam atrás.

  • O Congresso e as escolhas de Sofia

    O Congresso está em dramática contagem regressiva, para manter a sua imagem diante do País. Varre do seu seio os denunciados por corrupção e se expõe a uma devastadora fila a se sentar no banco dos réus? Doutra parte, o que representam as manifestações antecipadas do Supremo objetivamente bloqueando averiguações ou rasgando outro rumo para o seu desfecho? O que significam as medidas judiciais defensivas, por enquanto, ao tramitar da cassação do deputado José Dirceu? O impeachment de Roberto Jefferson, de toda forma, torna as oposições prisioneiras do script iniciado pelo ex-deputado, possuído do velho fantasma do lacerdismo.O depoimento, por outro lado, de Daniel Dantas abre outra dimensão ao nosso abuso econômico-político, e expõe a novidade do presente escândalo nacional. É que este regride ao governo anterior em toda esteira de combinações entre o "Opportunity" e a administração tucana, na esteira ambígua das privatizações brasileiras. Dantas declarou que foram seus sócios ou empregados exatamente na seqüência da atividade internacional das suas empresas, Pérsio Arida então Presidente do BNDES, e Helena Landau, responsável por toda a política crítica das mesmas privatizações. A perspectiva que se confirma a partir da vastidão e complexidade do depoimento de Dantas evidencia como o que começou pelas denúncias de Jefferson, na verdade põe em causa uma investigação ampla dos dinheiros públicos, do BNDES aos fundos de pensão, com as oportunidades pioneiras abertas pelo empresário do "Opportunity".

  • Lula, nem pressa, nem carisma

    Os primeiros seis meses de governo sedimentam a marca de 43% de satisfação plena da opinião pública, a que se somam mais 40% no considerar a performance, de razoável para boa. O país pró-Lula não sofre assim, no chão do bom senso popular, da zoeira da intelligentsia ou dos grupos radicais, inconformados com a demora do a que veio o PT, argüindo quer da consistência de uma ação de esquerda, quer do próprio compromisso com a transformação social. O inédito desses dias, em que pretende o partido cassar os seus radicais, tem um recado mais fundo: a legenda penetrou-se da realidade e só quer, a partir das tensões concretas, ponderar toda a contundência do que possa ser uma alternativa ao status quo , à mesmice de um regime apenas sobrevivente à asfixia internacional.

  • Os EUA do Ocidente

    O pós-Iraque levou a União Européia a se organizar como protagonista cada vez mais reconhecível, no mundo ameaçado pela hegemonia galopante do outro poder ocidental. Frente a Washington, reforça agora as suas instituições políticas, e avança para o referendum da Constituição Continental.

  • O legado de Kofi Annan

    Deixando o cargo a 1° de janeiro, Kofi Annan recebeu nítido reconhecimento internacional pelo empenho manifestado, nesse decênio, na efetiva construção de uma cultura da paz para o nosso tempo. A última Assembléia Geral já manifestara maciçamente nos seus aplausos o apoio à determinação do Secretário Geral, por um mundo decidido a superar os limites estreitos da soberania nacional. Seu discurso antecedia o de Lula e teve, na seqüência, o do presidente Bush. Compactavam-se, assim, as mensagens contrastantes, entre a busca de um novo Estado de Direito universal e o avanço da hegemonia protagonizada pela potência exclusiva e, sobretudo, pela visão missionária do horizonte político do Salão Oval.

  • A Copa, de vez, sem deuses

    Os melhores cálculos retificam que mais de 1 bilhão de pessoas, coladas às televisões ou às telas públicas, presenciaram o desfecho da Copa do Mundo. Jogaram os países com a sua auto-estima, diante das surpresas em campo, nunca a por tanto à tona o brio das nações que entravam no gramado. Os finalistas provaram na carne o quanto as equipes podiam mudar até a visão política dos governos nas suas crises imediatas. O mau desempenho inicial do time de Domenech viu-se como metáfora da crise do Ministro Villepin, mas o país saiu do marasmo cada vez mais ao se referir à “equipe de France” e ao desempenho extraordinário da sua segunda fase. A Itália esqueceu o impasse das maiorias milimétricas do seu governo e o sucesso final é de uma retomada única de confiança no futuro.

  • Europa sob medida para Bush

    Nunca se vira, até os 2 x 2 contra o Togo, um mal-estar da França com seu time na Copa, numa verdadeira metáfora do clima de pessimismo e incertezas que rondaria, neste momento, o próprio futuro do país no grande horizonte europeu. Claro, o gol de Zidane contra a Espanha abriu nova clareira. Mas a lamentação inicial do povo francês contrastava com a incrível mobilização alemã, que não joga só no próprio chão. Faz destas partidas, inclusive, o símbolo mais exuberante deste país que, de vez, superou a dificuldade, de mais de uma vintena, em absorver o seu Leste, empobrecido durante toda a Guerra Fria. O desencanto francês inicial, passando do jogo à política, deflagrou-se na vindita única do Primeiro Ministro Villepin, apostrofando o líder socialista Xavier de Holande, e acusando-o, sem rebuços, de covardia, senão de desonestidade política.Era como um último desabafo final da frustração continuada em que o governo, desde a queda da lei de facilitação do primeiro emprego, vem tornando sombria a sucessão de Chirac, e, de vez, a truncar toda a esperança do seu atual Chefe do Executivo. Villepin troou na Assembléia, em Paris, meneios da juba, olhar poderoso, todo aplomb do delfim do regime, ainda há um ano, seguro no savoir faire de futuro, mesmo fosse o único pretendente sem ter merecido, como parlamentar, uma prévia sanção dos turnos. . Seu antecessor, Raffarin, não lhe poupa crítica, do quanto os gestos de Narciso, somados à vitalidade da tribuna, deixam-no à exposição dos adversários, e ao jogo demasiadamente ostentatório para ganhar, de fato, a liderança do machucado situacionismo francês.

  • Democracias e eixos do mal

    O meio do ano desarma as perspectivas críticas da estabilidade mundial, avivadas desde o começo do ano pela vitória do Hamas na Palestina, às primeiras declarações de Ahmadinejad de ameaça de confronto nuclear com os Estados Unidos. Mas venham-nos as boas novas inesperadas pela aposta direta no próprio jogo da persuasão e da democracia quanto aos jogos feitos da hegemonia e a fatalidade dos proclamados abates dos "eixos do mal". De saída, pelo tino de estadista do Presidente Abbas, no veio de Arafat, entendendo o quanto à força das eleições só se sobrepõe a da consulta plebiscitária à população. A vitória do Hamas em eleições indiscutíveis e fiscalizadas pelas Nações Unidas trazia ao poder a facção sofrida pela luta anti-Israel e a ganhar votos após o desgaste do partido de El Fatah, mantendo-se no embate crônico com o governo de Jerusalém.À força da mudança seguiu-se o da consolidação, pelas próprias regras do jogo, destas maiorias inesperadas vindas ao poder, e mantendo de saída a nova radicalidade do confronto com Israel. Venceram-se as pressões externas contra o governo, a eliminação dos subsídios a partir dos Estados Unidos,ao risco até da queda da máquina burocrática da Palestina e seus 165 mil funcionários. Demorou, por outro lado, o atendimento da promessa dos países árabes,em pagar a conta deixada em aberto pelo Ocidente. Mas a pertinácia do respeito às instituições sob a inaudita pressão da hegemonia do Salão Oval vem agora, pertinaz, de pagar os seus frutos. À democracia, mais democracia. E dentro de semanas o povo da Faixa de Gaza vai responder ao plebiscito para confirmar, ou não, o propósito radical do governo eleito há um semestre.É embalde, aliás, que, revelando a sua afoiteza de chegada ao poder, o Hamas considere que o seu eleitorado já resolveu a questão, não adianta voltar às urnas. Ao contrário, as primeiras sondagens de opinião mostram que 77% deste mesmo eleitorado vão ao plebiscito com a gana da paz e com a dissuasão de soluções violentas para a desocupação do colonato de Israel ou do reacerto das fronteiras com o vizinho.A democracia mostra o quanto é o único caminho para responder ao nervo de uma tensão social e que esta de fato é vista com senso comum pelo povo muito mais do que com as elites comprometidas com o jogo paroquial de poder. Com o apoio já pressentido Abbas deverá conduzir o seu tino político à conciliação da convivência, de vez, com Israel e adaptação do Hamas à realpolitik e à possível virada de página do mais pertinaz e contundente dos conflitos internacionais de nossos tempos.

  • Lula no G-8, mas não tanto

    A Conferência de São Petersburgo levou Lula ao novo rondó do G-8 com as periferias. Convidados, dois a dois, os países da Ásia, África e América Latina, para ninguém pôr defeito, nos cerimoniais de um novo consenso, de até onde podem ir os donos do mundo, na crescente consonância entre os Estados Unidos e o Velho Continente. Não há que se sublinhar a efetiva satelitização por Washington de todo o bloco oriental, já com pé nas decisões de Bruxelas e Estrasburgo. Na seqüência do encontro de há semanas na Áustria, reconheceu-se a prioridade do problema do terrorismo internacional e o fato consumado do intervencionismo americano para debelá-lo, a partir do Oriente Médio. O veto contundente de Bush, no Conselho de Segurança à contenção de Israel no Líbano, mostra o quanto essas novas lógicas da dita estabilização internacional afastam as Nações Unidas de um multi esforço coordenado para superar-se o 11 de setembro. O cenário de São Petersburgo apresentou todas as características da pasteurização democrática para o espetáculo desta nova Rússia, como a espera o Salão Oval. Protestos nas ruas, dissidências aplaudidas, perigo de vaia, na boa claque em que o protesto minoritário e estridente faz parte das regras do jogo e da boa consciência da presente ordem global. Neste quadro dissiparam-se, também, as reivindicações ditas periféricas, a que o governo Lula deu a maior ênfase de sua presença internacional. Não prospera nosso projeto inicial, de pacto com Pretória e Nova Deli. A ascendência americana, subseqüente às novas eleições hindus, eliminou a primeira proposta brasileira, de retomada de um jogo possível de barganhas e de reequilíbrios, frente à efetiva concentração do poder econômico global. Mais ainda, a Índia se beneficia, hoje, de todas as bênçãos americanas, para a expansão da sua energia nuclear para fins pacíficos, em contraste com o veto acirrado e crescente ao vizinho Irã. Ao mesmo tempo, o novo rumo dos pactos continentais africanos recentra a política de M"Becki, para, ainda, mediatizar a política de doações internacionais nascidas da devastação social e econômica da mais desvalida das periferias. Ao lado do presidente do México, Lula foi ao Palácio dos Tzares, mão na mão, debutantes do novo luxo político. Mas dentro de um contraste prospectivo, quanto à solidez política e econômica dos dois maiores países da América Latina. Se é tranqüila a reeleição brasileira, a vitória do sucessor de Fox se dá por um fio de cabelo e a força, nas ruas, do eleitorado de Obrador mostra um país dramaticamente partido quanto as opções do desenvolvimento. Juntando a África do Sul ao Congo, o G-8 reduziu o convite a uma nova exigência protocolar. O segundo parceiro africano preencheu a vaga para tão só evidenciar a solidão hoje do governo de Pretória como, de fato, a economia a sobreviver no Continente, pela legítima expressão política e econômica nacional. Na parceria asiática, Washington demonstrava o sucesso da conquista de Nova Deli e a certeza de que a presença chinesa não faria verão, ou agregaria os países de população bilionária do século.  O clima de segurança que irradia nestes dias o Salão Oval pôde permitir a declaração grotesca votada, por bancada mínima, no Congresso americano, da denúncia do polvo terrorista, como hoje visto pelos neo-conservadores dos Estados Unidos. O Brasil torna-se suspeito por esses parlamentares, de ceder à conspirata internacional de Zarkawi, e permitir, a partir da tenebrosa área das três fronteiras, em Iguaçu, a entrada na América Latina da subversão para chegar ao México, e atravessar a fronteira "para cometer ato de terror". Grave não é o delírio da perspectiva, mas o quanto ela pode evidenciar, pelo seu próprio desvario, a fragilidade da opinião pública americana, ao receio da agressão externa, e o apoio sem mais discussão do empenho da sua ação militar preventiva em todo o mundo. A quebra da estabilidade libanesa pode ser o primeiro passo de descarte dos governos legítimos, na abertura dada a Israel como gendarme do status quo, como pax americana. De toda forma, a exasperação das condições de segurança urbi et orbe revoga por contraste a temática básica do velho clamor periférico, em que cresceu, nestes anos, a liderança brasileira e a voz de Lula nos cenários internacionais. E a possível discrepância da Rússia, no imo do G-8, aquietou-se de vez, diante do novo surto terrorista da Chechênia, e o primeiro reflexo de São Petersburgo será a sucessão de Kofi Annan em setembro próximo. Na questão de fundo o que fica claro é o quanto os Estados Unidos vão ao garrote terrorista, independentemente do que pensem ou digam as Nações Unidas. Bush e Blair podem até repetir como palavrão o que vem como empecilho à sua visão da paz mundial. E até onde a escolha do novo homem-chave, na sucessão do ganês, pode levar à saída dos Estados Unidos e à repetição do colapso da velha Liga das Nações em Genebra. Quem ainda se lembra dela?