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Artigos

  • D. Hélder e a nossa maturidade profética

    As comemorações de cinco anos do falecimento de D. Hélder Câmara, em Recife, dão-nos a envergadura desta presença na mais rica prospectiva para a Igreja brasileira. De saída, pela própria força do grupo reunido em torno do Centro Dom Hélder recém criado, do Centro de Estudos da Igreja da América Latina, no âmbito da Universidade Federal de Pernambuco.

  • Kerry entre a alternativa e a hegemonia

    Na campanha eleitoral americana, pela primeira vez, em fins de agosto, as pesquisas mostram Kerry à frente de Bush, no que era, ainda, o seu bastião de fiabilidade eleitoral. O democrata, numa opção de 47 contra 46%, é o comandante-e-chefe que passam a preferir os americanos, para o conflito continuado com o Al-Qaeda e o desfecho decisivo na guerra do Iraque. O mais importante é que esta mudança está associada a uma convicção ainda mais contundente quanto ao futuro do país. A invasão de Bagdá e a derrubada de Saddam não tornaram os Estados Unidos mais seguro, pensam 52% da população contra só 38%, a apoiar o propósito bélico de Bush.Ao mesmo tempo, a opinião pública americana repudia a tentativa de um grupo de militares da extrema direita, financiada por milionário texano, de contestar o heroísmo de Kerry durante o conflito do Vietnam. O tiro saiu pela culatra, levando um dos maiores baluartes republicanos, John Mcaint a denunciar a manobra. E o próprio Bush a reforçar o respeito ao senador de Massachusetts, confirmando a página de herói que escreveu no conflito asiático.

  • Justiça, pacto social e cláusula pétrea

    A decisão do Supremo Tribunal, de 18 de agosto, sobre a contribuição dos inativos para a Previdência explicita de maneira exemplar o que seja a prática da democracia profunda pela cultura petista hoje no poder. Lance a lance, cada voto respondeu à interrogação cidadã, de até onde o imperativo de mudança se compadece com a garantia dos direitos adquiridos, e sua consagração no atual Estado de Direito no país. Ou melhor: em que termos a exigência da Justiça pode ir além do pacto social solene da Carta e, nele, das suas cláusulas pétreas, que não comportam sequer emendas constitucionais?

  • Vôte, arreda, urucubaca!

    Lula começa a sair da onda de desencanto dos 500 dias. Marta emparelha com Serra no tira-teima que parece que serviu como decisivo para o plebiscito antecipado do governo, e agora chega o número chave para vencer-se as areias movediças da estabilidade econômico-financeira assentada na jugular do mítico superávit primário. Teríamos saído da dita inserção passiva na globalização nesses atuais 2 bilhões de saldo nas transações correntes, o maior resultado já ocorrido desde 47, quando começam os dados do IBGE. O sucesso estrondoso do setor de exportações nos empresta um saldo comercial de 24% este ano, quando o comércio mundial cresceu 2,5%. E não é bolha, como insinuou o ex-ministro Sayad, mas resultado para ficar, num impulso ao resto do país que aumenta as vendas internas.

  • Depois de Brizola e do populismo

    As entradas em campanha dos partidos para a eleição municipal só fizeram referendar a sensação clara da prática desaparição do populismo, tal como encarnado por Leonel Brizola frente às próximas urnas. Fica a marca enorme do herói, da personalidade de que não se poderá apartar toda luta pela redemocratização do País já marcada, nos seus pródomos, pela dificuldade de acesso de Jango à Presidência, quando da renúncia de Jânio. Todas as manifestações do choque nacional com a morte quase instantânea deste nosso vulto tutelar põem em causa a expressão objetiva, ponderável de sua herança. É como se Brizola tivesse sobrevivido ao que representasse a força de sua pregação e de seu poder de mobilizar uma esquerda brasileira. Isolou-se no correr do Governo Lula na primeira ruptura contundente com o Planalto, repetida no recado amargo e irredutível de seu artigo semanal, no canto de página de nossos periódicos.

  • O Iraque refém de Saddam

    Chegou atrasada à hora do julgamento a fotografia-chave de Saddam na entrada do tribunal: a do ex-presidente aguardando a retirada das correntes passadas pelas pernas, pela cintura estrangulada, e a travar-lhe os braços. Tratava-se, de saída, de opróbrio muito para além do castigo normal da imposição tão só das algemas - e abertas - durante toda a presença do acusado frente ao juiz. O lance esclarece mais do que toda a montanha de afirmações, ou dilúvio dos sites ou da ruminação de rua, o quanto se abre todo um novo estágio de afirmação do Iraque, após o começo da destranca do ferrolho americano. A volta à cena do ex-ditador é também da iniciativa para a discussão pública do pré e pós-invasão. O personagem-mor, pela sua estrita sobrevivência, agora agressiva, subverte os jogos feitos de um futuro exaustivamente determinado pelos Estados Unidos. O crescimento da guerrilha contra as forças americanas reforça-se no processo monstro, pela contradita à visão dos vencedores que passa agora pela decisão das novas autoridades, sem cortes, à mídia mundial.

  • O PTB e o clientelismo esclarecido

    Estes meados de 2004 vêm revelando características inéditas de extrema instabilidade, na definição dos cálculos políticos a longo prazo, a partir do próximo pleito municipal. Aí estão, de saída, estas variações do Ibope de, em menos de mês, um pulo de 10% de vantagem de Serra sobre Maluf e Marta, esta última já a perder do contendor clássico na Paulicéia. São subidas e descidas a ganhar já um efeito perverso no saber-se até onde a quebra da prefeita impacta o presidente. Ou de se a demora na arrancada do espetáculo, prometido pelo Governo, começa a derrubar as presunções tranqüilas de um ano atrás, quanto a um octonato petista. É possível que a dúvida crescente quanto ao pacto dos futuros alcaides com o homem do Planalto atrase-se ainda face ao espanto desses altos e baixos em São Paulo, vistos por tantos como o termômetro definitivo do sucesso de Lula.

  • Réquiem para um Senado rebelde

    Na reconfirmação dos 260 reais para o salário mínimo, a vitória do Governo acaba com as incertezas de uma possível rebelião do Congresso neste meados de 2004. Cercava-a a primeira queda séria da popularidade, baixada aos 56% depois da plataforma majestosa, dos quase 70% de aprovação continuada. Estes primeiros temores de queda, de qualquer forma, teriam como termômetro de fundo a perspectiva de reeleição de Marta Suplicy na Prefeitura, por excelência, dona do futuro do Governo diferente.

  • A espera e o fio de bigode

    A última reunião ministerial - que trocou a solenidade do Planalto pelo aconchego do Torto - quis trazer ao país o recado das mangas arregaçadas e do todo vapor, assentada a casa e antes da prova dos nove que representam as próximas eleições municipais. O presidente veio à melhor das rotinas, com um barco a velocidade segura, controlando as rotas financeiras, cobrando o desemperro dos gastos, saindo do jejum da transição e a mostrar que o PT não era o governo da forra da utopia e do facilitário social. Os créditos ganhos lá fora e o reconhecimento do presidente como a maior liderança hoje do velho mundo periférico atritam-se agora com o debate salvacionista, ou da tosquia da taxa de juros, desatenta aos impasses da globalização, e do continuarmos ainda um país de conjuntura mais do que de assunção decisiva de um projeto de mudança.

  • No funeral de Reagan, o epitáfio de Bush

    Chirac e Schroeder deixaram ostensivamente Washington antes do funeral-monumento de Reagan. De Gaulle, que compareceu às exéquias de Kennedy, de fausto análogo na capital do império, teria feito, sem dúvida, o mesmo. Impossível imaginar-se espetáculo mais apurado em todos os drinques de celebração da hegemonia, que a dessa herança ostensiva assumida por Bush, do imaginário que abriu o caminho às Star Wars , ao mercado absoluto e ao desenfreio da primeira e segunda guerras do Iraque - tal pai, tal filho, no Salão Oval.

  • Administrar ainda a esperança

    O aumento, afinal, do nosso PIB nesses dois trimestres suados, tem o impacto do apontar, afinal, para a saída do nosso imobilismo nesta última década. E o espetáculo adiado de Lula, é exatamente este do número difícil e sofrido, mas que pode finalmente retirar-nos do túnel da inércia, e dar-nos o arrimo entre contra-vapores continuados de expansão. O passo à frente patina no pantanal da globalização e do vai e vem, afinal, de uma economia onde não existe ainda projeto, mas só conjuntura. O impacto de 53% da dívida externa sobre o PNB nos obriga a este ganho do dia-a-dia, miragem amanhã, não fosse a estiva de cada hora do tandem Palocci-Meirelles.

  • Elite apressada, povo paciente

    Os amuos que ora respondem pela queda da aceitação do Governo continuam a responder pelo tempo social das elites, que não largam a ribalta do evento brasileiro. O espetáculo a que convida Lula não tem como destinatários as platéias e os telões nobres da população, afeitos de sempre às luzes mediáticas. Quem elegeu o petista não está, ainda, no procênio da nossa vida política, para dizer da sua acolhida e apoio ou, sobretudo, tolerância, com o que ainda não aconteceu, ou inscrito numa agenda que pode escapar até à visibilidade dos primeiros resultados. A nova platéia trazida à recepção da conduta política nacional não temporizará indefinidamente com seu acontecimento gradual, exigindo novas mediações simbólicas - só à mercê de Lula - para contrapor-se à explosão súbita de um desagrado. E estas, possivelmente, numa rede de propagações que possam, de uma só vez, reverter o apoio de base por um repudio súbito e catastrófico pela percepção, de vez e sumária, de uma não virada de página. Na verdade o Governo se organizou em maiorias inéditas no Congresso, e as administra pagando o imediatamente pactuado. Mas estas transações não vão ao tecido da vida social, cuja única intermediação é a do PT, no seu controle, pelos sindicatos, pelas Ongs ou pela miríade de associações em que se levantou o país da marginalidade. Continua a mobilização básica e histórica que chegou ao efetivo exercício do direito de votar. É significativo que Lula, ao primeiro aniversário do Governo tenha sensivelmente mudado a retórica do espetáculo e do milagre e figurado ao país a cenarística dura para caucionar a promessa saída do palanque. No quadro deste passivo inicial para a demarragem do Governo, e que Lula exibiu ao país, somam-se respectivamente o emperro agravado da máquina burocrática, onde se agregam os freios clássicos e a inexperiência muitas vezes da nova equipe; a demora da operacionalização regulamentar dos setores públicos; os obstáculos emergentes, na concatenação entre as entidades governamentais e a sociedade civil, a que a cultura petista se volta maciçamente no incentivo às ongs e entidades comunitárias. Podem-se assim repetir os casos de travame, por exemplo, do programa de Microcrédito, pela falta ainda de uma regulamentação pelo Banco Central, ensejando a que ao fim de 2003 essa iniciativa, ligada à determinação do presidente, e de maior impacto na dita política de descentralização só tenha permitido o desembolso de seis milhões, dos quatrocentos milhões disponíveis, para esses mutuários de baixa renda. Da mesma forma, as reduções ainda sobrevindas às dotações iniciais, como o do Ministério das Cidades, sofreram a quebra sobre a quebra dos recursos mínimos assegurados, reduzindo de 509 milhões para 414 milhões, e, na prática, logrando a aplicação de 339 milhões no Programa Nacional de Urbanização das Favelas. Por outro lado, o programa de incentivo aos agricultores do Nordeste para produção durante a seca, previa a meta oficial de 500 mil famílias mas, na prática, viu-se reduzido a 300 mil Identicamente começa a indenização pela perda da safra, abrangendo 35.118 plantadores. A urgência do projeto básico amargou, ainda, a falta de estruturas locais para dar a necessária irradiação ao crédito, somando-se à rigidez do aparelho bancário a fim de atender a dupla operação, indenizatória e de compra da safra. Ganhou ritmo ascendente a construção de cisternas na área rural. Mas ainda a depender da facilitação dos repasses pelo Ministério da Segurança Alimentar que, afinal, só chegou a 38% do prometido com a instalação de 8.390 unidades sobre as 22.040 inicialmente previstas. As vezes já se azeita por inteiro o novo aparelho de atendimento à frente de impaciências pela melhoria social que urge, de maneira tão nítida, o Ministério das Cidades ao lado do de Desenvolvimento Social. Atentar-se-á, por exemplo, a que o problema da regularização fundiária nas favelas permitiu na dita operação “papel passado” terminam o ano de 2003 com gastos executados de 1,291 milhão, importando 92,2% dos montantes estipulados. Já com um coeficiente de 70% do que anunciou, o Ministério da Agricultura entregou ao Programa de Agricultura Familiar 1,5 bilhão para 500 mil contratos, 121 milhões para investimento, além de 1,379 bilhão para 488 mil contratos de custeio. Toda a análise do começo do mandato de Lula pode se fartar da boa justificação, para a demora de resultados, enquanto o realismo político foi a resposta mais honesta, senão adequada, à avalanche da vitória, e à dimensão do Brasil que votou pelo PT, em geral, independentemente dos profundidades diversas da opção por um país diferente. Mas qual é hoje a margem de transição profunda com a espera? Existe um vulcão de inconformismo, ainda silencioso? Reforça-se a sideração pessoal pelo presidente? E até quando? De toda a forma esta interlocução profunda é só sua. Seus números de popularidade resistem a qualquer apropriação pelo Brasil de salão. E o mínimo que sai do papel agora no programa de base reforça em exponencial estas crenças. O pano de fundo esperou demais para saber que lhe chega, nunca tardo, porque de vez.

  • Ganhar e governar

    O vigor da popularidade de Lula atravessa momento em que um começo de resultados se torna essencial para a renovação da esperança. Na verdade, trata-se da mostra, mais que de um plantel de êxitos, do toque de confiança personalíssima que lhe assegura essa vitória única da fé no presidente, pelo mínimo que lhe exige o povo, a continuar o enlevo.

  • PT e continuísmo na contramão

    Não nos basta a derrota da lei antibingos, o disparo do dólar, o desnecessário quiproquó internacional com o New York Times. Essa chegada aos meados de 2004 levanta incidente mais inquietante à imagem política que o PT trouxe ao primeiro plano do poder. Difícil emergência mais nítida, puxada pelo roldão da vitória, que a de João Paulo Cunha no comando da Câmara. A sua expertise devemos a votação das reformas da previdência e fiscal. O deputado paulista tornou-se peça chave na administração desta inédita supermaioria do Governo, transpondo, sem perda, da massa, o peso dos partidos aliados, aos votos no Congresso para o desemperro do statu quo brasileiro. João Paulo, a partir do trabalho conjunto com a Casa Civil, costurou o fio do adesismo mais atilado, com a visão clara dos prêmios e rações efetivas a que poderiam fazer jus, pondo em marcha o aparelho legislativo nacional.

  • Das Torres ao polegar da infâmia

    A foto da dupla de beleguins-soldados, polegar ao alto, frente à pirâmide da nudez retorcida dos detentos de Bagdá vale a da menina de My Lai do desamparo total, fugindo do napalm, no Vietnam, há 30 anos. Empatam no horror que vira, por insuportável, uma página da crueldade dos homens. Esse toque de repulsa definitivo é o de uma saturação que chega ao inconsciente social generalizado de nosso tempo. O riso da soldado England, vinda de Fort Ashby, cidadezinha da América profunda, voluntária da cruzada de Bush, é, de saída, o do prazer perverso, de posar frente à pilha dos corpos nus e roliços, superpostos à sua frente, carne cega e submissa. Mas a gargalhada que se segue é de um desfrute do poder ou da impunidade sem limites, nascido das star wars, de suas máquinas apocalípticas de devastação, impelidas ainda pela forra das torres de Manhattan pelo povo eleito - como salienta o presidente Bush -, que não tem mais contendor para as guerras que fizer e pelo tempo que exigir o senhorio da Casa Branca.