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Artigos

  • Francisco e o desbarato da Cúria

    Começam as primeiras perplexidades com õ novo pontificado. Nunca, neste último século foi tão longa a demora para a nomeação do Secretário de Estado, sempre reconhecido como a segunda pessoa do Vaticano. Nem se pode dissociar, em toda essa etapa, o nome do papa do seu verdadeiro primeiro-ministro. Curiosamente, o reforço desta autoridade nasceu da reforma de Paulo VI, alterando a visão, antes colegiada, dos dicastérios, a constituir, em todo o seu poder, a Cúria Romana. Essa polarização extremou-se, justamente, no duo Ratzinger-Bertone, frente à repetida insistência do Papa renunciante de se dedicar à tarefa espiritual, senão mesmo, à vida de monge, que estaria entre as determinantes da sua renúncia. Bergoglio depara, antes de uma escolha de nomes, a mudança estrutural deste aparelho e, sobretudo, a delicada composição do cardinalato da Península, entre a Cúria e a própria e distinta hierarquia da igreja italiana.

  • O Brasil e uma obsoleta América Latina

    Os dias após a discutibilíssima vitória de Maduro, na Venezuela, aceleraram a reformulação da carta política da América Latina. Deparamos esse avanço de instabilidades imprevisíveis, ainda há semanas, neste colapso político do pós-chavismo, no impacto sobre o dito "mundo bolivariano". Não há sucessores para o "semideus de Caracas", não obstante o que representa, por exemplo, o protagonismo equatoriano de Corrêa, pelas próprias limitações geopolíticas do país. A passagem de Maduro à defensiva, num regime quase acuado, antevê um fraccionalismo interno e, quem sabe, o espectro de uma guerra civil, com a oposição de Capriles. Mas, de logo, o que também se vislumbra é a eventual do assistencialismo financeiro da Venezuela, vital, hoje, para o sustento de Cuba, da Nicarágua e, mesmo, de Honduras.

  • O 'fico' do ministro Mercadante

    O ministro Aloizio Mercadante declarou que descarta qualquer pretensão à governança de São Paulo, para se concentrar, por inteiro, no avanço das conquistas da pasta de Educação. A notícia impacta frente aos clássicos jogos sucessórios, e na aposta toda das cartas políticas, na governança de São Paulo, como o caminho óbvio para o Planalto. Fortalece, por outro lado, esta maturidade da democracia brasileira, no que o aprofundamento do trabalho das pastas críticas encarece a consciência da verdadeira mudança social do país.

  • A universidade, entre a surpresa e o espanto

    A Unesco vem tornar públicas as conclusões  quanto ao futuro da universidade  contemporânea. Os rumos da educação no novo século sofrem o impacto tanto da aceleração do próprio evento dos nossos dias, como da mudança radical das comunicações pelo mundo virtual. Começamos a deparar o choque da formação e da informação, na perda de sua convergência no espaço social da universidade.

  • Secularização e ‘guerra de religiões’

    A segunda década do século começa, já, a viver de inesperadas contradições, na larga visão das expectativas do futuro. Dava-se por assente o avanço da democracia, a supor, por sua vez, uma crescente secularização da vida pública e a trazida do religioso ao estrito plano das identidades culturais. Desde a Revolução de Khomeini, no Irã, foi-se ao polo oposto: aí estão os Estados islâmicos a fazer da sharia a própria norma da cidadania e sua vigência. Mas, ao mesmo tempo, a Primavera Árabe foi saudada, de início, como este empuxe profundo de uma maturação global do imperativo democrático, com a derrubada de ditadores, quase perenizados, como o da Tunísia, da Líbia,  ou do Egito. Vã a esperança, no que, de logo, se evidenciou na torna desses países à dominante religiosa e, até, às vezes, ao novo exclusivismo da cidadania conferido às crenças. E ainda perdura a hesitação, no Egito, do exclusivismo político da Fraternidade Muçulmana, da plena consagração dos salafidas e sua hegemonia xiita.

  • Sexo, dinheiro e exploradores do evangelismo

    Avulta, nestes dias, a exploração do evangelismo, a aproveitar-se cada vez mais da nossa subcultura. Do campo político ao da dominação dos crentes, na esbórnia sexual do pastor Marcos Pereira. As fiéis de sua igreja aí estão às portas do presídio, nas fotos da vigília da fidelidade, em batas coloridas e esperas pelo ídolo. Foram salvas pelo sexo, na retribuição exigida pelo abraço do pastor. Inclusive, na organização sistemática de orgias em prédio da Avenida Atlântica. Mas a gravidade maior desta infestação pseudo-religiosa reside na mídia, no anúncio dos milagres de auditório, com a repetida e proclamada cessação de dores, no minuto certo, e o subsequente “agradecimento ao Senhor”, acompanhado da esmola farta. A liberdade religiosa nada tem a ver com a impunidade das trampas destes programas e a passagem à impostura, com a garantia da presença do demônio, nas sextas-feiras, às 5h da tarde. A exploração vai ao exponencial, nas multi-igrejas dos “últimos dias”, e na formação instantânea dos ditos pastores, nascidos das conveniências da hora.

  • O Brasil anticatastrófico

    A reação brasileira, diante do quadro geral da crise de 2008, já permite um distanciamento a assinalar esta característica de anticatastrofismo, a ser, talvez, um novo dado da nossa cultura cívica. Por força, a dinâmica da nossa economia, voltada, cada vez mais, para o mercado interno, e a queda acentuada da marginalidade social, serviram de para-choque para as ameaças externas. Mas o que sobreleva é esta como blindagem aos pessimismos contumazes, pelo que revela e vem de salientá-lo o ministro Marcelo Neri. É um nível crescente de satisfação, que marca o nosso sentimento de bem estar. Nos índices internacionais, ele vai aos 63% nas tabelas internacionais do nosso IDF – Índice de Desenvolvimento Familiar – e, especialmente, nos quesitos de risco de vulnerabilidade familiar, disponibilidade de recursos, desenvolvimento infantil e condições habitacionais. Mas cai na exigência de acesso ao conhecimento para 38% e, sobretudo, nas incertezas quanto o acesso ao trabalho, lindando os 29%.

  • Desponta o Brasil africano

    As decisões de Dilma, na Etiópia, em favor dos países africanos já tiveram o seu impacto nas oposições. O volume do apoio a nove Estados do continente provoca o questionamento do Congresso sobre até onde isso envolve o suporte a empresas brasileiras para as novas obras e, quem sabe, ligadas ao Planalto para a campanha de 2014.

  • Plebiscito e república das praças

    As desordens da Praça Tahrir, na Turquia, no centro de São Paulo e na Avenida Presidente Vargas, evidenciam a nova irrupção do inconformismo cidadão com atos de governo, que vão desde o aumento das passagens urbanas ã instalação de um shopping em parque de Istambul. Põe-se em causa, inclusive, a partir dos incidentes turcos, a utilização do mais incisivo dos instrumentos da vontade popular, qual o do plebiscito. Há três anos, com o "Occupy Wall Street" e as invasões da Praça Mayor, em Madrid, não se tinha chegado à adoção do recurso in extremis. E a própria vontade representativa que se substitui, no caso, pela voz direta e final das praças. Tanto é a democracia profunda a marca da contemporaneidade, tanto o seu avanço está abrindo caminho para a manifestação que se quer como o prolongamento do grito, hoje, das praças públicas.

  • Cidadania, protesto e vandalismo

    Os protestos da Praça Tahrir, da Avenida Paulista ou da Presidente Vargas são os de um terremoto social pressentido, muito mais do que aguardado. Irrompem de um inconsciente coletivo, num abalo primeiro do enlace entre a própria sociedade e o Estado, nesta nossa dita e redita pós-modernidade. Não vem de agora, mas já da “praça dos indignados”, em Madri, ou do “Occupy Wall Street”, e pode remontar ao “Maio de 68” parisiense. E o que está em causa é a perda da acomodação entre a expectativa visceral da mudança, nutrida pela expectativa do Estado de bem-estar, e a demora do aparelho público suposto a provê-las.

  • A morte anunciada do protesto

    O impacto das marchas e desordens nas principais cidades do Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro, evidencia este paradoxo entre o avanço da cidadania e o desfigurar-se da mobilização pelo vandalismo crescente, na sua cauda. Só se reforçam, ao mesmo tempo, os empenhos de manter a nitidez da mensagem, ao evitar todo o contágio partidário, sobretudo das legendas radicais. O recado é o do próprio símbolo da insatisfação geral com o estado de coisas da nossa vida pública, e o imperativo de mudança.

  • O fundamentalismo pós-democrático

    O imprevisível avanço, na última década, da "guerra de religiões" só se acelera, hoje, com a debilidade do implante da democracia, entendida como o marco definitivo da modernidade. De saída, pela perplexidade do impasse da Primavera Árabe, marcada pelo retrocesso democrático, após a queda das ditaduras na Tunísia, no Egito e na Líbia. O afastamento de Mursi inquieta, exatamente, pela quebra das regras do jogo, no golpe literal infringido à primeira presidência constitucional do país. O que estaria em causa seria o limite dentro do qual a garantia das maiorias eleitorais seria empolgada por uma dominante religiosa, tal como evidenciada pela Fraternidade Muçulmana. É nesse mesmo limite que a Primavera Árabe ressente-se da força da contradição interior na sua identidade, e do advento possível de um Estado religioso e muçulmano como o seu resultado. Retoma-se, no pressuposto da vigência democrática, o mesmo confronto da volta da sharia iraniana, na repulsa mais funda do implante, já multissecular, da dominação ocidental em toda a região. Da mesma forma, o novo levante de facções budistas em Mianmar extrema essa nova "guerra de religiões", no empenho de eliminar completamente, senão reduzir, os direitos das franjas islâmicas desse país ganho à independência, após o Raj britânico.