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O Brasil anticatastrófico

 

A reação brasileira, diante do quadro geral da crise de 2008, já permite um distanciamento a assinalar esta característica de anticatastrofismo, a ser, talvez, um novo dado da nossa cultura cívica. Por força, a dinâmica da nossa economia, voltada, cada vez mais, para o mercado interno, e a queda acentuada da marginalidade social, serviram de para-choque para as ameaças externas. Mas o que sobreleva é esta como blindagem aos pessimismos contumazes, pelo que revela e vem de salientá-lo o ministro Marcelo Neri. É um nível crescente de satisfação, que marca o nosso sentimento de bem estar. Nos índices internacionais, ele vai aos 63% nas tabelas internacionais do nosso IDF – Índice de Desenvolvimento Familiar – e, especialmente, nos quesitos de risco de vulnerabilidade familiar, disponibilidade de recursos, desenvolvimento infantil e condições habitacionais. Mas cai na exigência de acesso ao conhecimento para 38% e, sobretudo, nas incertezas quanto o acesso ao trabalho, lindando os 29%.

O quadro da dinâmica geral deste processo pode se manifestar pelos empréstimos na mediania brasileira, a atingir a 43,75%, num quadro todo o contrário da inércia social, e a se sustentar na aposta geral de avanço do atual “pibinho” de 1,7%. E fica de pé a esperança de que a alta de juros se mantenha abaixo do dito ponto de equilíbrio, na zona gris entre 7,5% e 8,75% a.a, dos limites de previsão dos analistas. Este empuxe vai à força da expansão agrícola, de 6,8%, a compensar a forte queda do crescimento industrial, baixado aos 2,5%. Mas não há de se esquecer o avanço da indústria caminhoneira, de par com a política de apoio público aos investimentos previstos para o próximo quadrimestre.

A confirmação das nossas certezas pelos dados importa pouco, diante desta componente cultural do nosso inconsciente coletivo, de nação da esperança, como, no passado, fomos o país cordial. E, mais ainda, é esta uma satisfação intrínseca, que não se preocupa com as comparações além-fronteiras, no desempenho competitivo com o bem estar dos outros. De toda forma, o adicional, hoje, de nosso país, no que lhe constitui como 7ª economia do mundo, e a diferir, de vez, de seus colegas de ranking, é este condão secreto do otimismo da coletividade. E, sobretudo, do país “para si”, não importa o catastrofismo das nações mais ricas, quando algo parece descarrilar.

 

Jornal do Commercio (RJ), 7/6/2013