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A universidade, entre a surpresa e o espanto

 

A Unesco vem tornar públicas as conclusões  quanto ao futuro da universidade  contemporânea. Os rumos da educação no novo século sofrem o impacto tanto da aceleração do próprio evento dos nossos dias, como da mudança radical das comunicações pelo mundo virtual. Começamos a deparar o choque da formação e da informação, na perda de sua convergência no espaço social da universidade.

De saída, hoje, o dito "estar-se em dia" exige a torna ao campus das gerações maduras. Só tínhamos, há uma década, 0,6% de idosos voltando à universidade, e hoje é já de 2,6% este afluxo temporão. A multiinformação e sua nova complexidade aí estão reptadas pela comunicação eletrônica. Desaparece o acesso pedagógico à memória, como conhecimento da própria identidade e da coletividade em que se insere.

O acesso automático aos "googles" elimina toda personalização da lembrança. E é a própria iniciação ao conhecer que se altera, enquanto o mundo midiático já pré-organizou o que se pede à realidade, domesticou a expectativa, senão o imaginário do próprio pensar. Desaparece, cada vez mais, o pluralismo de ideias, que é próprio da  atividade universitária, nitidamente reconhecido pela  nossa Constituição.

A comunicação virtual, por outro lado, criou a tribalização  do coletivo, e as novas gerações se reconhecem, de  saída, nas conversas fechadas dos próprios "twitters", todo  o contrário do verdadeiro encontro. Perde-se a própria  noção da alteridade coletiva, cada vez mais devolvida ao  anonimato. Tanto a civilização do consumismo reduz este  mesmo "outro" a um objeto de fruição predeterminado. O campus fica contra a corrente, como esta experiência, cada  vez mais, limitada do diálogo, frente ao seu simulacro,  nos auditórios do encontro midiático. 

Significativamente, a nossa Carta Magna nos guarnece dos rumos frente a este acelerado tempo de crise. Assegura-nos o princípio do desenvolvimento da pessoa e da cidadania, diante da formação profissional, cada vez mais prisioneira da hiperfuncionalização do mercado. Só se acelera o aniquilamento da antiga "vocação" pelas demandas do complexo industrial, por sua vez, cada vez mais concentrado. Torna essa especialização escrava da demanda exclusiva, cada vez mais afastada da interdisciplinaridade, e presa a uma incidência sem volta. É uma robotização literal, a que pode levar o primado das carreiras tecnológicas, no extremo oposto ao que seria o espaço universitário, como aprendizado da verdadeira liberdade, sufocada pela sociedade programada. Ou deste humanismo em desaparição, como quis acautelar, premonitória, a nossa Carta Cidadã.

Jornal do Commercio (RJ), 10/5/2013