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Artigos

  • Cansaço das esquerdas e velhice das direitas

    A derrota do Partido Socialista espanhol é muito mais que acidente de percurso, é um réquiem para a esquerda europeia. Cai o governo que, desde 2004, derrubara o regime de Astiz, visto, então, como a  mais decidida implantação de uma direita no continente. A vitória de Rajoy surge como a torna do sistema, com toda carga ideológica da mantença do modelo capitalista, inclusive em etapa de crise geral do que se via, há uma quarentena, como a mola do mundo e da prosperidade Ocidental.

  • Imaginário democrático e diálogo universal

    A XXIV Conferência da Academia da Latinidade, que vem de se realizar em Hammamet, nas cercanias de Túnis, coloca o problema fundamental de saber se ainda se mantém um verdadeiro diálogo internacional, diante da emergências das "guerras de religião", da permanência do terrorismo e, sobretudo, como mostra a "primavera árabe", da ameaça do advento, após as ditaduras do Oriente Médio, de um inquietante fundamentalismo islâmico.

  • Doha e a nova globalização

    Vem de terminar a Conferência das Nações Unidas, em Doha, no debate do que sejam, hoje, as prioridades de uma Aliança das Civilizações. Insistiu na defesa do desenvolvimento sustentável em todas as componentes de uma definitiva conquista da melhoria coletiva em nosso tempo e, sobretudo, na sua dimensão cultural. Ecoou a uma tônica na nossa experiência, nestas últimas décadas, mostrando que não se faz só do econômico e do social a conquista deste "mais ser" coletivo. Ela reclama uma tomada de consciência-fenômeno especificamente cultural - como responsável, tanto pela globalidade dos seus benefícios, quanto, sobretudo, da sua aceleração. É o que marca o nosso país, na busca de uma visão da justiça, no advento da melhoria social. Não é pelos progressismos simplesmente econômicos que se logra esse resultado, mas por uma política pública consciente, qual a que entremostrou o modelo Lula ao mundo, pela imediata redistribuição de renda na mudança.

  • A caminho do terrorismo democrático

    Os ganhos de Mitt Romney nas pré-escolhas republicanas já são o indício promissor de derrubada do espectro temido ao fim de 2011. Vai-se ao isolamento da extrema direita do Tea Party, de Rick Santorum, respondendo, afinal, a um sentimento político americano de rejeição dos extremos. Mesmo se o candidato a avançar não proponha nada, mude de convicção a todo mês e tenha uma convicção absolutamente doméstica da coisa pública. De toda forma, deparamos um freio contra esse sinal dos tempos das radicalizações, frente a este recado tenebroso da Nigéria, de agora, do movimento Baba Tunde, de radicalidade muçulmana, passando da instalação da Sharia, da perseguição frontal dos cristãos e judeus, da destruição dos templos e morte dos crentes. É a etapa, também, em que a Primavera Árabe escreve o seu primeiro epitáfio, na descrença da democracia, como o liame da convivência das nações africanas e do Oriente Médio, liberadas do seu autoritarismo pós-independência, no meio século passado. El Baradei condena, de vez, o futuro das eleições egípcias, deparando o comando do processo pelas forças militares. O que estaria em jogo, entretanto, numa visão mais larga, é a contradição da consciência política desses Estados, ao se dar conta de que o último fruto da democracia será a islamização desses países e o risco da desaparição do laicismo. Não é outro o temor da Tunísia, ainda que o partido confessional vencedor não mantenha o mesmo perigo da Fraternidade Muçulmana, no Cairo, já associado ao pior radicalismo islâmico dos selafidas. O que importará, no novo paradoxo institucional, é o papel das Forças Armadas nesses territórios, como árbitros da liberdade religiosa, e instituições neutras da emergência da modernidade destes países. Esteia-se o Egito, no exemplo da Turquia, às, agora, vias de conflito com o governo, enquanto o exército, fiel à histórica revolução de Atatürk, é o contraponto ao islamismo de Erdogan, e à ameaça de uma torna ao Estado confessional.

  • Questão de consciência

    Deparamos, no fruir do ano, os primeiros votos do Supremo relativos aos limites da ação fiscalizadora do Conselho Nacional de Justiça sobre o Judiciário. Está em causa a manifestação crítica que a nossa Corte terá sobre esta instituição, que começa, no país, o sistema de controles externos dos poderes públicos. O Conselho caracterizou-se como o maior avanço da nossa democracia profunda, permitindo a eliminação de toda a velha autonomia, no exercício da competência dos Poderes, e no dispor sobre a sua remuneração.

  • Dilma e o sucesso sem surpresas

    Registra o país 59% de apoio, entre ótimo e bom, do governo Dilma. Sua crescente estabilidade foge das expectativas clássicas e da esperança das oposições, como alternativa de chegada ao Planalto. Essa dominante de opinião pública não se chocou com as derrubadas ministeriais, tal como, no passado recente, passou em branco pelo mensalão. É o que só aumentou a desarticulação do chamado "país do tudo bem", habituado ao quadro do velho status quo, entre as condenações moralistas do situacionismo, e, após, de quem lhes tomasse o poder. Esta toada pendular seria o cantochão da mudança, ora tão frontalmente desmontada pelo país de Dilma. Aí está o esfacelamento do DEM e o choque do PSD histórico, nas nossas áreas mais afluentes.

  • Opinião pública e democracia profunda

    O ministro Gilberto Carvalho avançou, no fórum de Porto Alegre, proposta crítica  para o aprofundamento da  democracia em nosso país.  Mas, no quadro da sua problemática  contemporânea,  não há só a reconhecer o  avanço do Brasil, hoje, diante  das perplexidades das esquerdas europeias e do risco fundamentalista americano, frente à complexidade da vida social e econômica dos nossos dias. Ou, sobretudo, dos sistemas de controle que aquele regime político engendra, assegurando a liberdade para o exercício pleno da cidadania. O ministro evidencia a grande tensão atual entre a manifestação da opinião pública e o seu controle pelo universo mediático, que pode levar às adesões de massa aos interesses de um status quo generalizado, a partir do capital financeiro internacional.

  • Prioridades democráticas e neofundamentalismo

    O fato de ser o Brasil o país-foco da Conferência de Davos só ressaltou mais a contundência do pronunciamento do ministro Patriota, diante da interpelação equívoca do presidente da Human Rights Watch, Kenneth Roth, sobre a nossa falta de apoio à presença militar externa na Líbia, e às sanções ao governo sírio. Pode, de vez, Patriota, aclarar o quanto o intervencionismo internacional nesses países não poderia mascarar o neoimperialismo da Otan na área, em contraponto à tarefa que caberia às entidades regionais, como foi o intuito da Liga Árabe, e, exatamente, com o apoio brasileiro.

  • Os republicanos rendem-se ao óbvio

    O avanço, já insuperável, de Mitt Romney para a candidatura republicana, afasta, de vez, também, o radicalismo fundamentalista do partido, na competição com Obama. Há um esvaziamento doutrinário, em bem de um hiperpragmatismo, nas defesas do status quo capitalista do país. Romney é um multimilionário dono de negócios, a apostar no caráter acidental da crise do sistema, e na volta à idade de ouro do desempenho econômico de há uma vintena. Mas o candidato, que reforçou sua escolha na América profunda, o fez na Flórida, e confia no suporte crescente do Texas. O apoio a distância de Jeff Bush, irmão do ex-presidente, levanta a interrogação de se não é este o candidato encoberto, caso os contornos mais nítidos de um oposicionismo levem à torna da era dos Estados Unidos imperiais, a quererem se impor à nova globalização.

  • Os simétricos descaminhos europeus

    Não temos precedentes de certezas tão tranquilas de derrota, quanto as que se pronunciaram, neste último biênio, em situações limites como a da Espanha e, agora, da França. O governo de Zapatero escolheu como candidato um bode expiatório, certo da derrota, como a própria condição de sobrevivência do Partido Socialista Espanhol a largo prazo. Os números devastadores do desemprego, a mostrar a profundidade da crise de 2008, não deixavam nenhuma ilusão quanto às esperanças das esquerdas, então no poder. De toda a forma, a fragmentação dos resultados locais, especialmente na Catalunha, não deu ao governo Pujol a visão de uma maioria nítida e, sobretudo, a de uma mobilização conservadora. Desaparecia toda programática, diante de um mal-estar difuso do país, roído pela crise, mas, especialmente, pela ambiguidade ou mesmo pelas contradições das fórmulas saídas da crise, num anticlímax que perdura após a derrota das esquerdas espanholas.

  • O neodireitismo eleitoral francês

    O governo Rajoy vem de autorizar a dessindicalização do proletariado espanhol. Não se conhece, contemporaneamente, maior golpe ao que se sempre viu como uma conquista definitiva da democracia, independentemente de governos de esquerda ou direita. Do dirigismo, ou da torna aos modelos liberais do fim do século, até como se voltássemos ao mais crasso "salve-se quem puder" pelo emprego, em que o choque de 2088 continua a minar as condições de estabilidade econômica mínima do país. E é nesse despenhadeiro de incertezas que a campanha presidencial de Sarkozy se alinha à direita nas teses, inclusive mais imprevisíveis, ainda, ao início do ano. A bem da proteção ao mercado de trabalho, defende a proscrição migratória, a expulsão de estrangeiros do país, à procura do reforço de forças extremistas que já, por sua vez, querem barrar-lhe a escalada inopinada. É, já, o caso de Marine Le Pen, que, nos últimos dias, ganhou, afinal, o número de assinaturas mínimas - quinhentas, de várias autoridades públicas - para entrar na contenda.

  • Otimismo com o país de Dilma

    Há faxina contra a corrupção, uma nova política externa, mais renda e menos clientelismo. Avança a democracia, com o CNJ e com as ações do BC. O ano de 2012 representa, para o governo Dilma, um marco da consolidação indiscutível de uma política de desenvolvimento sustentado, em nítido avanço em comparação com o governo anterior.

  • Dilma defronta o superpoder econômico

    A reunião da presidente Dilma com a cúpula da economia privada do país é marco inédito no aprofundamento da nossa democracia. Reúne a troca ampla de opiniões com a discussão das prioridades no plano de convênio, e das expectativas da prática do lobby, ou a pressão sobre as organizações políticas. Integrou-se, no objetivo da reunião, um quadro de licitações recíprocas entre o que pede o país econômico ao Planalto e o que esse pode sinalizar, na dinâmica do desenvolvimento nacional.

  • Participação social e democracia profunda

    Os 77% de apoio popular a Dilma não vêm de uma súbita onda de êxito. Nasceram, sim, da consolidação maior do que seja, hoje, no Planalto, o avanço das diretrizes e da maturação do governo petista, na convergência de seu aprofundamento democrático na sustentabilidade do desenvolvimento, e, sobretudo, do avanço da inclusão social no país. Começamos a atentar a alguns desses lastros profundos, quando da consolidação da presença da sociedade nas políticas públicas, expressa pela sigla emergente OSC (organização da sociedade civil), que mal entra, ainda, no linguajar político do país.