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Prioridades democráticas e neofundamentalismo

 

O fato de ser o Brasil o país-foco da Conferência de Davos só ressaltou mais a contundência do pronunciamento do ministro Patriota, diante da interpelação equívoca do presidente da Human Rights Watch, Kenneth Roth, sobre a nossa falta de apoio à presença militar externa na Líbia, e às sanções ao governo sírio. Pode, de vez, Patriota, aclarar o quanto o intervencionismo internacional nesses países não poderia mascarar o neoimperialismo da Otan na área, em contraponto à tarefa que caberia às entidades regionais, como foi o intuito da Liga Árabe, e, exatamente, com o apoio brasileiro.

A falta destas desmediações, depara-se, na Líbia, a clara desintegração de um Estado-Nação, levando o retrocesso clânico aos conflitos entre a Cisjordânia e a Tripolitânia, ou, mais ainda, ao trágico, senão caricato, crescimento do apoio a Kadafi, na própria área de Benghazi, sede das primeiras forças rebeldes contra o ditador.

Da mesma forma, esse intervencionismo fez-se da presunção do automatismo entre democracia e advento dos direitos humanos, supostos pelas afirmações de Kenneth Roth. Ao contrário, a Primavera Árabe, nos países mediterrâneos, defronta o risco da desaparição do secularismo na nova constituição tunisina, e a reinstalação da Sharia, no Egito, com a torna de uma religião de Estado, e a presença contundente do grupo dos sefávidas, dentro da Fraternidade Muçulmana. E só começa, neste recado brasileiro, uma real prospectiva para a democracia profunda, livre, de vez, do fatalismo das crenças, do obsoletismo inquietante de organizações como o "Human Rights Watch", diante de um caminho distinto dos ocidentalismos fáceis, no essencial da legítima melhoria coletiva dos países em desenvolvimento.

 Afirmações como a de Patriota quebram a arrogância de uma dominação do inconsciente coletivo contemporâneo, ainda adormecido sobre as prioridades das nações, de fato, sujeito de sua história.

Jornal do Commercio (RJ), 10/2/2012