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Artigos

  • Um futuro sem esquerdas

    Não nos damos conta, possivelmente, dos efeitos inéditos das atuais perplexidades dos avanços democráticos sobre as velhas certezas de que um regime de liberdades aprimora a normalidade social e a busca de consensos coletivos. E é em tal quadro que se pode associar, sempre, também, democracia e mudança, como exigência do bem-estar coletivo. Não é outra a perspectiva sempre de uma esquerda, na sua ruptura com o status quo, e na luta contra os conservatismos, interessados no já conquistado e na manutenção de seus privilégios. O que mostram os nossos dias é a falta de alternativa de futuro num pensar-se, de fato, a mudança e a esquerda que a encarna.

  • Primavera árabe e reversão democrática

    A multidão da Praça da Catalunha, em Barcelona, e da Praça Real, em Madrid, nos dois últimos meses, manifestou uma revolta profunda com os procedimentos democráticos tradicionais para o avanço das liberdades do bem-estar do nosso tempo. Põe em causa, e imediatamente, o fracasso das mediações políticas vividas pelo Ocidente desde a Revolução Francesa e Americana. Retoma-se o questionamento de si, as maiorias congressais exprimem um conformismo dominante, e, por aí, as visões da mudança exigem a presença contínua das minorias na decisão política. Tal, sobretudo, quando a opinião pública ou a comunicação social expõem-se aos controles midiáticos ou, sobretudo, ao tribalismo da internet e das novas sociedades fechadas, no intercâmbio desses grupos e de sua visão da realidade. Antes de se esvaziar, a Praça da Catalunha constituiu-se em grupos e subgrupos, divididos não só entre as prioridades de um que fazer, mas sob a própria dúvida da chegada a qualquer consenso. Ou, mais ainda, à visão ampla das contradições em que irrompe a nova década.  

  • América Latina e o Brasil dos Brics

    O protagonismo internacional do Brasil no mundo dos Brics e de uma nova globalização vem suscitando cada vez mais a compreensão do seu perfil latino-americano. Ou melhor, de como as assimetrias cada vez mais nítidas com os nossos países fronteiriços, nos deixam no polo oposto das velhas perspectivas de integração continental. 

  • A nova aposta em ciência e tecnologia

    A presidente Dilma Rousseff, na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, deu a máxima ênfase à organização do novo programa de formação profissional e tecnológica - o Pronatec - que deverá ser objeto, sem maiores delongas, de Medida Provisória. E, ao mesmo tempo, pela iniciativa do ministro Aloizio Mercadante, soma ao projeto a intensificação da qualidade de ensino, através de amplo convênio com múltiplas universidades estrangeiras, entre as quais as de Princeton, Oxford, Cambridge, Salamanca e Harvard. O projeto deve envolver uma primeira convocatória de 28 mil candidatos. A presidente afirmou a marca de salto estratégico que tem a iniciativa, permitindo superar toda a defasagem entre as formações tradicionais e o input deste saber-fazer, buscado lá fora, para acelerar a nossa política de desenvolvimento sustentável. E é também nesse quadro que é tempo de o Brasil assinar o Pacto de Bolonha, nos dando acesso a toda a rede de intercâmbio que já criou esta verdadeira agora de conhecimento no espaço continental europeu. O programa sofreu a crítica de que, no quadro da classificação das bolsas, beneficiaria a população mais rica do país, frequentadora dos melhores colégios, e repetindo no âmbito deste intercâmbio, paradoxo que leva as classes mais favorecidas a se classificarem para as universidades públicas, beneficiando-se da sua gratuidade. Por força, o regime não poderá deixar de contemplar o sistema de quotas e ponderações que ensejem, de fato, a presença expressiva de grupos sociais das classes C e D, na circulação internacional desse conhecimento.O que se perguntaria, sim, é do quanto, neste empenho de extrema valorização do input de ciência e tecnologia, se definiu o quadro de carreiras e vocações dos atuais bacharelados no Brasil, merecedores desse incentivo. E pode Aloizio Mercadante mostrar que os cursos de engenharia respondem apenas a 1% das procuras do ensino superior.  

  • Sofisticação escandinava

    O horror do crime de Anders Behring Breivik põe em causa drasticamente a diferença dos níveis de civilização atingidos pelos povos nórdicos diante do mundo contemporâneo. A repressão à criminalidade e o castigo das penas não passam normalmente de 20 anos, para não falar da abolição, já há mais de século, da pena de morte. Os tribunais recorrerão a expedientes protelatórios para manter na cadeia o facínora por mais de duas décadas, se já não beneficiado pela soma generosa de indultos que prevê a lei, por bom comportamento na cadeia. A solitária é uma exceção que, via de regra, não pode durar mais de vinte dias. E o confinamento não exclui a televisão mais moderna, o banheiro privado e os passeios diários no pátio da penitenciária. Estão também abertos a detidos como Breivik cursos de culinária e artesanato, bem como de estímulos à leitura e à criatividade. A Noruega se orgulha de uma taxa de recuperação de 70% dos prisioneiros após o cativeiro. Não temos precedente dessas 73 mortes, em responsabilidade individual, fora dos morticínios por bomba ou explosão, em catástrofes como a de Lockerbie pelo terrorista líbio no céu da Escócia.

  • O fantasma, já, do Tea Party

    O maior impacto da crise econômico-financeira global está, já, no rigor da polarização antecipada que criou para as eleições americanas de 2012. Percurte nela a torna do fundamentalismo dos Estados Unidos, em que o cerne dos rednecks, no seio do continente, e de sua população desligada de qualquer realidade mundial, criou o próprio antídoto ao padrão básico da democracia, e do país das liberdades jeffersonianas. E, significativamente, foi buscar os ossos do elitismo pré-independência, no entendimento do país dos puros, vindos do Mayflower, afirmando toda descontaminação com o bárbaro, no contexto em que se enraizava. O movimento que o encana hoje, o Tea Party, vai até, praticamente, à recusa dos imperativos do que seja um Estado moderno, à busca do país das liberdades selvagens e da drástica redução de impostos.  O que é significativo agora, diante dos novos e primeiros alinhamentos eleitorais, é a mediocridade geral das propostas dos republicanos. Confrontam a iniciativa de Obama, que remete à ideia de justiça social qualquer políticade mudança fiscal e prometendo a redução dos impostos da classe média. Os pré-candidatos da direita radical aí estão: Herman, Pawlenty, Romney, Perry, Huntsman e Michele Bachmann, a indicada pelo Tea Party, ainda dentro da indefinição de Sarah Palin. Mas Perry parece emergir como favorito. Após um começo democrático, foi convertido ao mais explícito dos evangelismos e à visão do futuro como entregue ao providencialismo divino. 

  • Golbery e a lucidez do poder

    Celebra-se, neste mês, o centenário do general Golbery do Couto e Silva. Confronta-se um dos reptos mais instigantes, do que seja o recado final da pessoa ao vencer todos os estereótipos fáceis do vulto crítico do governo militar de 64. Fundador do SNI, foi o responsável pelo avanço determinado de uma tecnocracia autoritária.

  • Corrupção e tolerâncias majoritárias

    Vai, adiante ou não, a faxina de Dilma, e até onde? O problema - diz tão bem o senador Jarbas Vasconcellos -não é de voluntarismo, nem de um desassombro inflexível no ir-se adiante. Os freios estão no inconsciente coletivo e na sua lentidão tectônica. Dele dependerá o passo adiante de uma consciência social, ou o acomodar-se, de volta, no que é a trama de interesses, e a Cosa Nostra a definir sempre um status quo. As virtudes da dita "ordem social", via de regra, confundem-se com a estabilidade dos regimes de exploração, ou do que, já em pleno avanço da mudança social, se expõe às bactérias antigas da corrupção. Brotaram no regime petista, na prática do mensalão, ao lado das tolerâncias de sempre, que veriam, como mero pecadilho, as caronas de governantes, nos jatinhos das empresas fornecedoras das obras públicas. A propina incorporada, já sistematicamente, às comissões desses contratos, rola no silêncio azeitado às condições de mercado, nos percentuais acordados entre os competidores. E tanto é, hoje, maior a complexidade destes fornecimentos, tanto a partilha múltipla do bom bocado se incorpora, consentida, à dinâmica da dita prosperidade nacional.

  • Prospera a democracia dos indignados

    Em Madrid, na Praça Puerta del Sol, acelerou-se, nestes dias, este novo protagonismo imediato da democracia dos indignados. Deparamos esta irrupção do dissenso no emergir do século, que põe em causa o próprio cansaço do princípio de representação democrática. Retornamos ao arcano senão à memória ancestral do "povo na praça", nas ágoras atenienses, manifestando o desacordo e o aplauso, na cidade, em reunião a céu aberto. Não há, por outro lado, que confundir estas manifestações com os protestos cutâneos como os das marchas episódicas, entre nós, contra a entranhada corrupção do sistema. O novo da Espanha e a maturação da sociedade democrática dos nossos dias, ao lado de todos os aperfeiçoamentos parlamentares, levou ao desponte também desta manifestação do protesto e do dissenso. Dele nasceu o Maio francês de 68 e a procura, das novas liberdades "na praia, desenterrada do paralelepípedo urbano", nos motes de então.

  • O Congresso dos fatos consumados

    Celebramos o cinquentenário da renúncia de Jânio e, ao mesmo tempo, da crise que levaria à desestabilização do regime, facilitando o golpe de 64. José Augusto Ribeiro vem de nos dar o trabalho monumental, em dois volumes, tecendo o romance do gesto desastrado, e, nele, da ação de José Aparecido contra a obsessão golpista de Carlos Lacerda. Recorda-nos a interrupção das iniciativas do presidente, no apoio à reforma agrária do projeto José Joffily, nas diretrizes sociais e descentralizadas, trazidas ao Banco do Brasil, ou no começo de uma comissão de planejamento nacional. Mas é na linha da afirmação da política externa, resultante da cooperação de Afonso Arinos, desde a viagem de Jânio a Cuba, que se atenta ao quanto prometia a volta de Jango da China, na abertura desta nova atitude' internacional. Dever-se-ia muito ao vice-presidente na capacidade de ouvir e de induzir consensos, ao transformar uma missão comercial do empresariado brasileiro, numa nítida visita de Estado, na direta interlocução com Mao Tse-Tung.  

  • Democracia e cosa nostra

    O possível confronto entre a Presidência e o Judiciário, na organização do futuro orçamento, põe em causa a legitimidade da iniciativa do Terceiro Poder em proveito próprio no dispêndio nacional. Repetição clássica das políticas de clientela, e da cosa nostra, na prática política nacional? Ou exercício inconteste, em função da autonomia dos poderes, de alocações específicas no gasto da União? O impasse trazido à opinião pública evidencia, de saída, o desconforto do próprio presidente do Supremo. "É página virada", repetiu, como a passar rápido aos fatos consumados frente à " consciência do País. Não se indaga das situações comparativas, no tratamento orçamentário dos salários destes funcionalismos, tal como volta a lume o nepotismo do Judiciário, ainda há pouco denunciado pelo Conselho Nacional de Justiça, como órgão de controle externo deste poder. Inquieta, ao mesmo tempo, o Brasil da democracia popular o quanto o velho status quo não se conforma com o repto deste mesmo Conselho, e não desiste de querer reduzir a sua competência. 

  • A presidenta e a grande potência

    O discurso da Presidente Dilma nas Nações Unidas, na sequência de uma tradição ininterrompida, enfrentou os estereótipos das crises mundiais e, sobretudo, do convencionalismo da sua expectativa. Frisou o caso inédito da primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da organização, não sem repetir a clássica reivindicação brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. No quadro geral dos problemas trouxe a tônica  indiscutível, do ponto de vista das nações em desenvolvimento, do que seja, de vez, a superação das globalizações hegemônicas.

  • Imperativo humanitário

    O discurso da presidente Dilma nas Nações Unidas, na sequência de uma tradição ininterrompida, enfrentou os estereótipos das crises mundiais e, sobretudo, do convencionalismo da sua expectativa. Frisou o caso inédito da primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da organização, não sem repetir a clássica reivindicação brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.