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ABL na mídia - O Globo - Espiritualidade, aposentadoria e Beatles: Monja Coen e Ailton Krenak fazem 'esquenta' de debate do Rio Innovation Week

 

Monja Coen e Ailton Krenak se conheciam somente de leituras e de assistir um ao outro na televisão. O primeiro encontro entre a autora de “Aprenda a viver o agora” (Academia) e o imortal da Academia Brasileira de Letras estava agendado para a próxima quinta-feira (15), às 18h30. Os dois participarão da mesa “O que é realidade — Realidade e resiliência: perspectivas budistas e indígenas sobre o mundo contemporâneo”, mediada pelo físico Marcelo Geisler, no Rio Innovation Week (RIW), que começa na terça (13) e vai até sexta-feira (16), no Píer Mauá, na região central do Rio. No entanto, a pedido do GLOBO, os dois concordaram em antecipar o primeiro encontro, num aquecimento para o debate no RIW.

— A ciência é só uma das perspectivas para entender mundo. Complementar a perspectiva científica com uma visão indígena e uma visão zen-budista nos ajuda a perceber que existem várias maneiras de olhar para a realidade e que cada uma delas traz contribuições fundamentais — diz Geisler.

A conversa com o GLOBO foi on-line. Monja estava na biblioteca do templo budista Taikozan Tenzuizenji, em São Paulo, e Krenak em sua aldeia no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Às vezes, o papo era interrompido para ouvir o canto dos sabiás e reclamar do barulho do trem de uma mineradora que passa perto da terra indígena. Krenak chamou o trem de “meu inferno astral” e denunciou que a mineração está “reduzindo as montanhas em pó”.

Nos últimos anos, Monja e Krenak se tornaram intelectuais públicos. Autores de best-sellers, críticos do consumismo e defensores do meio ambiente, ele partem das perspectivas budista e indígena para provar que outras formas de vida (mais respeitosas com a vida que está em toda parte) são possíveis. A seguir, os principais trechos da conversa entre os dois.

‘Maluquinhos’

Monja Coen: Sempre vejo Krenak na TV, as entrevistas em que ele nos convoca a pensar. Mas esta é a primeira vez que conversamos. Os princípios da minha ordem religiosa são direitos humanos, meio ambiente e cultura de paz. Krenak fala sobre isso, que não estamos separados das outras formas de vida da Terra, que somos pequenininhos e precisamos do planeta, do nosso entorno, para não desaparecer. O nosso DNA quer sobreviver. As pessoas estão carentes de afeto. Quando falamos, nós dois acolhemos toda a família humana. Acham que a gente é maluquinho, mas vem com a gente que você pode ser feliz, encontrar a plenitude.

Ailton Krenak: Posso dizer que eu e a Monja nos conhecemos desde sempre porque, antes de nos avistarmos nestes sacos de pele, já viajamos desde a eternidade no oceano da impermanência. A presença da Monja no universo cultural brasileiro sempre me tocou. Independentemente da abordagem transcendente que ela tem do sentido da vida, me interessa o que ela trouxe para a conversa, sendo capaz de animar as pessoas com uma conversa mais afetiva e respeitosa.

‘Inter-ser’

MC: A discriminação não acontece só entre seres humanos, mas também com as outras formas de vida. Temos que sair do antropocentrismo, saber que não somos o centro do universo e conviver com harmonia com tudo o que existe. O monge vietnamita Thich Nhat Hanh fala em “inter-ser”. Não é “eu sou”, “tu és”, “ele é”; mas sim “eu inter-sou”, “tu inter-és”,“ele inter-é”. Nós somos juntos. A Terra é nossa casa, nosso corpo comum. Por que gostamos de ouvir os passarinhos cantando soltinhos lá no Krenak? Porque nos reconhecemos neles, no desejo de viver em liberdade, na cantoria.

‘Começo, meio e começo’

AK: O que mais angustia as pessoas é a finitude. O Nego Bispo (1959-2023), um intelectual quilombola que já se encantou, tinha a capacidade de expressar as ideias de forma poética. Ele dizia que a vida é “começo, meio e começo”, não tem fim. Se você está no meio, é porque logo vai começar de novo, então não precisa ter medo. Os kaxinawá, lá do Acre, têm uma expressão que repetem em seus cantos que podemos traduzir como “vida sempre”. Eles cantam: “vida sempre”, “vida sempre”. Não tem outra coisa acontecendo, é tudo vida, é vida sempre. O Belchior já disse que viver é melhor que sonhar. Mas sonhar também é bom, porque sonhando se aprende a viver.

Matéria na íntegra: https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2024/08/13/espiritualidade-aposentadoria-e-beatles-monja-coen-e-ailton-krenak-fazem-esquenta-de-debate-do-rio-innovation-week.ghtml

13/08/2024