A fama de Cícero, o homem que leva sempre um galo de nome Tufão no ombro esquerdo, vem crescendo nos últimos meses na Vila Madalena, ao redor do Pasquale, na Rua Girassol.
A fama de Cícero, o homem que leva sempre um galo de nome Tufão no ombro esquerdo, vem crescendo nos últimos meses na Vila Madalena, ao redor do Pasquale, na Rua Girassol.
A cantina, que nasceu e cresceu na Eugênio Leite, em uma garagem, ganhou fama velozmente como o melhor canto de aperitivos de São Paulo. Dali ela saltou para a Rua Amália Noronha, ganhou status com os pratos da Puglia e as parreiras que sombreavam a varanda.
Nos finais do ano, comprávamos os cachos de uva e a renda ia para instituições sociais.
Expulsa pela construção de um edifício, o que vem sendo comum em São Paulo na última década, a cantina pousou na Girassol, maior, e ali reina, sob comando de Cleide e Pasquale, que fazem pessoalmente tanto a soppressata (um tipo de salame) como o limoncello, tendo como base as receitas caseiras trazidas da Itália.
Por que falo da cantina? Por causa do Cícero. Não o tribuno romano nascido em 106 antes de Cristo, autor das Catilinárias, homem que odiava os pobres. Nosso Cícero é outro. É aquele que anda para cima e para baixo com um galo de nome Tufão, pousado sobre o ombro esquerdo, subindo e descendo a rua e estacionando carros.
Por anos, um misterioso pequeno terreno ficou grudado ao restaurante, vazio. Cheio de mato e com uma cerca. Diziam que era de uma viúva que se recusava a vender. Também, ceder para quê? Estreito, tinha restado de algum descuido, é um terreno que por décadas viveu vazio, colado à cantina.
Enquanto isso, a vila transbordava de carros, bares, restaurantes, e os estacionamentos se multiplicavam. Prédios surgiam, a vila veio se descaracterizando. Mas, mistério. Aquele terreno grudado ao Pasquale continuava fechado.
Até que um dia, meses atrás, vimos o terreno aberto com alguns carros ali. Vocês não sabem o que é estacionar na vila. Mistério sobre a transformação dele, curta faixa, em estacionamento comandado pelo Cícero.
Você chega e grita, ele surge e, com habilidade de Ayrton Senna, ajeita nosso carro em terreno exíguo. Saiba mais. Lá no fundo, em lugar sagrado, vivem duas galinhas, Carminha e Nina, alimentadas pelo Cícero. Se o Tufão é macho mesmo, logo teremos pintinhos na vila. Até o dia em que uma incorporadora construa um esguio edifício de um metro de largura e 400 andares. Tudo pode acontecer em uma São Paulo à deriva.