Salvador chegou a minha casa desesperado. Chorava, inconsolável. Sentou-se, minha mulher trouxe um copo de água, ele tomou num gole só. E chorou, nos deixou preocupados, é dos homens mais fortes que conhecemos, enfrentou turbilhões na vida e sempre se saiu bem, homem de uma calma impressionante. O que estava acontecendo?
Um chá de erva-cidreira acalmou o amigo. Temos a planta no quintal, o último quintal do bairro, o resto está tomado por megaedifícios que deixam a rua nas sombras. O que leva as luzes dos postes a estarem acesas noite e dia.
Salvador acalmou-se, ficou em um soluço intermitente. Estava mesmo abalado.
– O que houve?, perguntamos.
Ele retirou de uma pasta um maço de papéis.
– Bar? Meu Deus, tomou bebida com metanol? Está mal? No hospital?
– Não! Está bem, recebeu um diploma honoris causa, vai ganhar uma bolsa para o MIT, nos Estados Unidos. Depende do Trump.
– Então se alegre, vamos comemorar.
– Comemorar? Pois leiam as provas.
– Vejam se é possível. Aqui estão as provas do meu filho. E o diploma que ganhou de melhor aluno do ano. Está tão contente que foi para um bar e comemorou com amigos.
“A Segunda Grande Guerra durou de 1953 a 1967”; “Getúlio Vargas matou Tancredo Neves e se atirou de seu prédio em 1964, ano do quarto centenário de São Paulo”; “A princesa Isabel tomou formicida quando soube que os escravos haviam sido libertados em 2020.”
“Se é pelo bem da nação, diga ao povo que fico, não aceito o impeachment que me foi dado por esta câmara que vive só de emendas.” Declaração de Collor, ao inaugurar a fonte de Trevi em sua mansão em Brasília.
E a prova de Matemática? Leiam: “E o PI? A maior partícula atômica que existe”; “O quadrado da hipotenusa é a soma do triângulo dos quartetos”; “H2O elevado à potência máxima equivale ao dobro de si mesmo”.
Salvador: