Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Noticias > ABL na mídia - Estadão - Caldeira, sobre o Estadão: importante chegar aos 150 anos pensando no que você vai fazer no futuro

ABL na mídia - Estadão - Caldeira, sobre o Estadão: importante chegar aos 150 anos pensando no que você vai fazer no futuro

 

Como chegar aos 150 anos fiel aos seus princípios republicanos, relevante e de olho na diversificação de seus produtos com uma pitada generosa de inovação? Foi essa fórmula, adotada pelo Estadão, que o jornalista, escritor e acadêmico Jorge Caldeira explicou para seus pares e para o público em geral na Academia Brasileira de Letras (ABL) em palestra especial sobre os 150 anos do jornal, realizada nesta terça-feira, dia 4.

“A manutenção de uma empresa sadia não é nada fácil em 150 anos. Ainda mais em um mundo que sofre transformação violenta, não só no papel da imprensa, mas sobre como as pessoas se comunicam”, diz Caldeira. “A empresa faz uma aposta jornalística muito forte em usar vídeos como instrumento de comunicação, e (o resultado é que) 27% do que vai ao ar hoje tem vídeo. Esse é o tipo de resultado inovador que a gente não espera de um jornal de 150 anos.”

Caldeira, sobre o Estadão: importante chegar aos 150 anos pensando no que você vai fazer no futuro.

Caldeira também citou movimentos recentes no jornal, como a chegada dos novos colunistas, a compra da NZN, empresa de conteúdo e tecnologia e dona de marcas como Tecmundo, Voxel, Megacurioso e The Brief, entre outras, finalizada no começo de outubro, e a parceria para trazer para a capital paulista a São Paulo Innovation Week, em maio de 2026, com expectativa de atrair cerca de 30 mil visitantes por dia.

Legado de Julio Mesquita

Para explicar o momento atual, no entanto, o escritor voltou a 4 de janeiro de 1875, quando foi criada A Província de São Paulo. “A Sociedade Anônima foi criada em 1875 contra a Monarquia. (Naquela época) Um jornal com esse objetivo não tinha adversários, mas inimigos. Então, você tinha de fazer um jornal que vivesse fora do poder, que era o principal financiador dos periódicos”, diz. “Como o jornal não tinha perspectiva de receber dinheiro do governo, fez como os jornais modernos, que não existiam no Brasil de então: se organizou para vender publicidade.”

Isso, lembra o acadêmico, está descrito de forma cristalina no primeiro editorial e que norteou a publicação desde então: “Não sendo orgam de partido algum nem estando em seus intuitos advogar os interesses de qualquer d’elles, e por isso mesmo collocando-se em posição de escapar às imposições do governo, às paixões partidárias e às seducções inherentes aos que aspiram ao poder e seus proventos, conta a Provincia de São Paulo fazer da sua independência o apanágio de sua força (...).”

O escritor, autor da obra Julio Mesquita e seu tempo, relembra ainda a chegada do jovem Julio Mesquita (1862-1927) à publicação, em 1888. “O jornal estava em baixa; o número de assinantes tinha caído para 904”, conta. Um ano depois, com a Proclamação da República e a chegada dos republicanos ao poder, Mesquita convence os acionistas que o caminho era posicionar o jornal longe do governo mesmo agora, que, em tese, era governista.

“Ele (Julio Mesquita) começou a fazer um jornal que vendia muito, porque tinha a melhor informação disponível. E também passou a comprar as ações daqueles que estavam descontentes com esse caminho e queriam um jornal partidário”, conta Caldeira. “Com isso, se tornou o controlador da empresa e, quando morreu, em 1927, deixou o jornal com 48.638 assinantes, deixou a empresa sólida e a manteve no espírito do primeiro editorial.”

O acadêmico ainda lembrou os problemas enfrentados durante as ditaduras Vargas e Militar — a primeira tomou a direção do Estadão da família Mesquita e a segunda, impôs censura dentro da redação — e encerrou falando sobre os desafios atuais: “Estamos vivendo um momento de mudança, com a inteligência artificial, os algoritmos e as redes sociais”, diz.

Jorge Caldeira: 'Iniciativas do Estadão honram legado de Julio Mesquita'

Escritor e acadêmico fez palestra especial na ABL sobre os 150 anos do jornal. Crédito: Academia Brasileira de Letras

E citou Rodrigo Lara Mesquita, jornalista, conselheiro do InovaUSP e ex-diretor do Jornal da Tarde e da Agência Estado: “O jornalismo hoje tem sua economia comprimida por taxas de intermediação impostas por terceiros e torna-se refém dos algoritmos. Julio Mesquita deixou um método para transformar técnica em cultura e cultura em instituição pública. Honrá-lo hoje é reerguer a capacidade de mediar em rede com independência. Esse é o fio entre o passado e o presente, capaz de colocar a imprensa no lugar que sua obra desenhou”, afirma. “O Estadão, com as mudanças feitas atualmente, honra a tradição de Julio Mesquita (...) Para saber onde e como navegar nesse futuro obscuro para todos, vale aprender com a leitura, em qualquer mídia, do Estadão.”

Acadêmico desde 2022

Sócio-fundador e diretor da editora Mameluco, Jorge Caldeira foi publisher da revista Bravo!, editor-executivo da Exame, editor da Ilustrada e da Revista da Folha, do jornal Folha de S. Paulo, entre outros cargos relevantes.

É autor de 17 livros, entre eles Mauá, Empresário do Império (Companhia das Letras) e De olhos abertos e pés no chão (Sextante), sua produção mais recente, lançada no começo de outubro, sobre a história da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP) e que levou cinco anos para ser concluída.

Ocupa a cadeira número 18 da Academia Paulista de Letras e, em 2022, sucedeu a escritora Lygia Fagundes Telles na cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Matéria na íntegra: https://www.estadao.com.br/150-anos/manter-um-jornal-por-150-anos-nao-e-facil-ainda-mais-hoje-com-o-mundo-em-transformacao-violenta/

 

05/11/2025