Mas sua memória, sua obra e seu amor por nossa cidade permanecem vivos – assim como sua voz, registrada para sempre em um dos mais emocionantes discursos já proferidos na ABL – Academia Brasileira de Letras.
Quase 40 anos se passaram desde aquele 2 de julho de 1985, quando Vilaça tomou posse na cadeira 26 da ABL, sucedendo o também nazareno Mauro Mota. Diante dos maiores nomes da literatura e da cultura do país, ele fez o que poucos ousariam: transformou o Salão Nobre da ABL em uma extensão da nossa cidade. E começou dizendo: “Nazaré da Mata”.
Foi mais do que uma saudação. Foi um gesto de pertencimento. Um chamado à memória. Um tributo à terra natal que o moldou como homem, pensador e poeta. Em cada frase daquele discurso – resgatado agora pela Prefeitura de Nazaré da Mata, por meio do acervo da própria ABL – havia a essência do nosso povo, a força da cultura da Zona da Mata, a doçura das lembranças de infância e a firmeza de quem nunca esqueceu de onde veio.
Marcos Vinicios Vilaça citou nomes, ruas, sons, cheiros e cenas que fazem parte da alma nazarena. Lembrou do Cinema Lux, da Troça Doutor Pisada, do jornal Gazeta Nazaré, da Rua do Bom Jesus, do Engenho Pedregulho, das bandas Revoltosa e Capa-Bode, da escola de Alice, das farmácias de Artur Neves e Joel de Lima, da Praça da Catedral, da Rua do Juá. Era como se a cidade caminhasse com ele, subindo degrau por degrau da imortalidade.
Ao falar de Mauro Mota, não apenas homenageou o poeta, mas nos presenteou com uma leitura sensível da alma nordestina. Fez do regional uma ponte para o universal. Ensinou que o menino da cidade do interior canta o que está fechado, escondido, pequeno – mas cheio de grandeza e poesia. Com delicadeza e humor, lembrou que Mauro era o poeta que via o mundo nas entrelinhas da vida cotidiana. E, assim, reafirmou o valor das raízes, da memória, da cultura como forma de eternidade.
Marcos Vinicios Vilaça foi um homem de muitas frentes: presidiu a ABL por dois mandatos, foi ministro do Tribunal de Contas da União, professor, advogado, jornalista, membro da Academia Pernambucana de Letras e da Academia Brasiliense de Letras. Mas nunca deixou de ser, como ele mesmo disse, “o menino sob os cajueiros de Nazaré da Mata”.
Como prefeita de Nazaré da Mata, escrevo este artigo não apenas para agradecer sua contribuição à cultura brasileira, mas para reafirmar o compromisso da nossa gestão com a preservação da memória e da identidade do nosso povo. Resgatar o discurso de Marcos Vinicios Vilaça neste momento de luto é também um gesto de reconhecimento: à sua trajetória, à sua cidade, à sua palavra.
Seu nome, já inscrito na história das letras brasileiras, seguirá ecoando por nossas ruas, nossas escolas, e em nossos corações e memória do nosso povo. Que seu exemplo inspire nossas futuras gerações a amar sua terra, valorizar suas origens e acreditar no poder transformador da educação e da cultura.
Obrigada, Marcos Vinicios Vilaça, por nunca ter esquecido de Nazaré da Mata. Agora é nossa vez de garantir que Nazaré da Mata jamais se esqueça de você.
Matéria na íntegra: https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/opiniao/2025/03/marcos-vinicios-vilaca-o-imortal-que-levou-nazare-da-mata-para-o-cor.html
01/04/2025
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