Machado de Assis foi acusado de embranquecer e ter negado sua negritude e sua origem na favela do Morro da Providência, especialmente pelos movimentos negros e antirracistas no Brasil. Pensando nisso, a Academia Brasileira de Letras traz para o centro do debate a questão racial de Machado de Assis no próximo ciclo de conferência, que tem na coordenação a escritora e Acadêmica Heloisa Teixeira. A palestra está relacionada ao curso Machado Quebradeiro, voltado para formação de escritores em comunidades de periferia do Rio, que está sendo realizada na ABL todas as terças-feiras.
O ciclo “Machado de Assis e a questão racial” começa no dia 4 de junho, às 16h, com a palestra “Machado de Assis: o devir negro na literatura brasileira”, comandada pelo escritor Jeferson Tenório (O Avesso da pele). É composto por quatro conferências e a entrada é franca.
A conferência pretende discutir de que forma a obra de Machado de Assis nos ajuda a pensar a literatura brasileira contemporânea como um “devir negro” em permanente construção. Segundo Tenório, uma literatura que torna a categoria “negro” inapreensível, justamente porque a arte não define exatamente seu significado, mas revela a subjetividade de sujeitos historicamente subalternizados.
- É preciso pensar Machado de Assis para além de sua condição social e compreender de que modo a sua trajetória intelectual e literária contribuiu para pensarmos um devir negro na literatura, ou seja, refletir de que modo sua obra emula uma análise mais precisa da sociedade brasileira a partir dos privilégios, da escravidão e das injustiças sociais - destacou.
Segundo a Acadêmica Heloisa Teixeira, o ciclo propõe uma leitura sintomal da obra de Machado e revela seu empenho na abolição, além de explicitar as contradições das elites brancas olhadas com aguda ironia pelo escritor.
- Este ciclo discute como é conduzida a questão racial na obra de Machado. A presença negra em seus contos, romances e, especialmente crônicas, mostra o equívoco de uma pretensa alienação do bruxo de Cosme Velho. Em suma, vamos revelar um novo Machado visto agora com novas lentes. Afinal, a ABL é a sua casa e tem a responsabilidade abrir esse debate que o afasta do conjunto da população – ressalta Heloisa.
O ciclo segue no dia 11 de junho, com a palestra "Era... de cor como eu": racismo e antirracismo na trajetória de Machado de Assis", ministrada pela historiadora e professora Ana Flávia Magalhães Pinto.
No dia 18 é a vez do professor de Literatura Afro-Brasileira Paulo Dutra discorrer sobre “Machado e a invenção do "ser-branco" no Brasil”. Encerrando o ciclo, no dia 25, o professor de literatura brasileira da Universidade de Princeton, Pedro Meira Monteiro, e o professor de Literatura Brasileira da USP, Hélio de Seixas Guimarães, discutirão sobre "As melindrosas presunções da branquitude". Hélio é vencedor do Prêmio Jabuti pelo livro Os leitores de Machado de Assis.
INSCRIÇÕES:
11 de junho - "Era... de cor como eu": racismo e antirracismo na trajetória de Machado de Assis" - https://www.even3.com.br/era-de-cor-como-eu-racismo-e-antirracismo-na-trajetoria-de-machado-de-assis-464137/
18 de junho - "Machado e a invenção do "ser-branco" no Brasil” - https://www.even3.com.br/machado-de-assis-e-a-invencao-do-ser-branco-no-brasil-464141/
25 de junho - As melindrosas presunções da branquitude" - https://www.even3.com.br/as-melindrosas-presuncoes-da-branquitude-464143/
27/05/2024