Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Os partidos reféns do PAC

Os partidos reféns do PAC

 

O impacto da candidatura Dilma venceu, de vez, o passo da aceitação definitiva da sua dimensão nacional. Nesta altura não há um pós-Lula, mas um pós-Dilma, na eventualidade de o impredimento da doença se sobrepor ao que agora é um fato consumado diante da opinião pública. Seus desdobramentos, de qualquer forma, não alterarão o rumo da opção profunda, por onde vai o povo de Lula.


Doutra parte, a candidatura de Serra - como disse o próprio presidente - não permitirá o antagonismo político entre o país à frente e qualquer reacionarismo conservador. O salto emprestado ao nosso presente inviabiliza qualquer reação de um velho status quo. A administração paulista já venceu o dogmatismo social-democrárico, e se perfila, até, ao refazimento de um PAC estadual, nas linhas e nas prioridades definidas pelo governo Lula. As novas polaridades eleitorais se definirão no gerenciamento, menos de denominadores partidários que dos contingentes municipais e estaduais, afetados pela mudança.


Desponta nos resultados deste PAC uma aliança das Prefeituras com o Planalto, por sobre as máquinas públicas estaduais e as cobranças de fidelidade, que desbaratou o novo aliancismo pelo plano de obras e benefícios irrompido à frente dos eleitores.


Difícil imaginar-se qualquer projeção de comando de legendas que arregimente, de fato, bancadas municipais, estaduais e federais, na ida às urnas, dentro de qualquer jogo anterior de maiorias presumidas. No somatório do atual peso eleitoral dos partidos, a larga maioria das legendas pode anular, em soma algébrica, os seus aliancismos regionais anteriores, e estes, por sua vez, demorarão até a última hora na avaliação - e cobrança - de sua força política. É difícil se imaginar um protagonismo particular do PPS ou do PTB, ou do PDT nos ninhos esparsos de sua acomodação de poder nos Estados.


O DEM, na própria mudança recente de denominação, quer se despegar do travo mais ostensivo do conservadorismo. Mas perdeu a condição de formar entre as legendas maiores, ao longo de um balanço real de forças, capaz de mudar o jogo desses meses. A perplexidade maior, entretanto, é a dessa desconexão inédita entre a força do Presidente e a do PT, preso ainda ao vergaste do mensalão - muito menor do que se imaginava de saída - mas, sobretudo, à dependência sindical e às dificuldades de alinhamento para uma campanha, tal como as anteriores do partido.


DESEMPENHOS. Não sai a legenda como líder de qualquer área regional, não obstante o peso maciço e objetivo do "povo de Lula", no Nordeste e no Norte do País. Despontam, sim, na iniciativa dos próximos meses, os desempenhos do PSDB e do PMDB. Refletem distintas oportunidades e aflições deste inédito aliancismo brasileiro, em que a liderança do executivo, por mais portentosa, não comanda as eleições representantivas e a disputa das próximas maiorias no Congresso.


O PSDB ganharia ainda um perfil aglutinador capaz de evocar o que, no Brasil de hoje, se possa aproximar de uma liderança pragmática. Beneficia-se de uma nostalgia tucana, num sentido instintivo, ainda, de contraponto ao presente status quo, mas cada vez menos suscetível de reivindicar a ortodoxia social-democrata. Neste particular, o destaque entre o marco de FH e de Serra só se agrava na linha objetiva em que o sucesso da administração de São Paulo hoje - e seus trunfos para a eleição - vão a outro nível do distribuitivo, à presença do Estado na mudança e ao claro caminho das parcerias público-privadas. O sucesso do Governador corre a um cortejo entre duas esquerdas, comparadas com o regime, onde inclusive, uma contrafação do PAC cada vez mais identifica objetivamente um mesmo caminho da mudança brasileira.


O PMDB, por outro lado, transformou-se no gestor intransitivo do aliancismo, à margem de qualquer veleidade programática, consciente hoje do abalo político do PT, e detentor dos enlaces estaduais de apoio para garantir, ao mesmo tempo, o mais nítido, ainda que frágil e quebradiço, vínculo ao Planalto.


Todos os conflitos presentes, do mais ostensivo clientelismo, a que se rendeu o governo Lula, assumindo a mais confessa das realpolitiks, criam um pacto de negociações tecnicamente maquiavélicas, menos no conteúdo do que nos seus prazos de vigência. E o governo tem flexibilidade para abrir mão das reformas mínimas no atual Congresso para, de fato, empurrar o PMDB às negociações, estritamente para o próximo pleito, em que fica refém dos municípios para manter o último chão do voto de deputados e senadores. Quem é refém de quem? O gatilho continua em mãos do planalto. Pode abrir mão da reforma política ou da tributária ainda neste governo. Quem sofre é o avanço intrínseco da máquina do Estado para a aceleração da mudança. Mas o PMDB perde o seu verão para credenciar-se ao longo prazo do novo governo.


O atual tumulto do loteamento de cargos públicos - veja-se a Infraero - é o último da concessão governamental ao velho regime. Por ele o PMDB poderia - apoiando o governo - deixar a sua marca no aparelho de mudança nacional. A força política vai cada vez menos ao compadrio que ao evento da obra pública e seu benefício. e o que perdeu o PT ganha o PAC, como aglutinador do governo, da legislação e da vantagem social, frente ao inerte País das clientelas.


Jornal do Commercio (RJ), 22/5/2009