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Opinião: Depois dos foruns mundiais

 

A história fará toda justiça ao vigor da procura das alternativas ao que está aí, do mundo após a Queda do Muro e do massacre da idéia socialista pelo universo dos aparelhos e do universo mediático. O vigor da iniciativa de um forum mundial brotada em Seattle entranhou-se na sociedade civil de nosso tempo, confiando nas trincheiras dos movimentos sociais e das "ações afirmativas". Acreditou-se no protesto permanente como o contrapeso à expansão neoliberal, assentada urbi et orbi. Tal, e sem volta, pela sua passagem à hegemonia, à imposição ideológica da democracia. O contraponto buscado pelo Forum Mundial recuou da busca de modelos para a estrita sobrevivência histórica no alinhamento contra o Salão Oval às primícias do socialismo do século 21.


O chavismo prospera à base dessa chamada, e o presidente venezuelano juntou em Quito, a Morales e Correa, o abraço e a jura de Ahmadinejad. Mas até onde o jogo do confronto final hegemônico vai a uma guerra de polarizações antes de se poder permitir o luxo real das alternativas? E em que termos a aceleração histórica dessas contradições leva à usura de busca intrínseca da mudança e seu permeio pela sociedade civil, desde o sopro peregrino de Seattle, passando por Porto Alegre e Caracas, até, agora, as conclusões de Nairóbi?


A busca da alternativa nas raízes históricas do socialismo sepulta-se nos confrontos emergentes das guerras de religiões, das novas "civilizações do medo", dos Estados Unidos aceitando, por consentimento cidadão expresso, a espionagem de todos os seus telefones e o novo fundamentalismo, que não deixa, também, de contaminar os democratas para a derrubada de Bush. O intervalo de 2008 na reunião dos foruns é para uma volta às catacumbas, para uma resposta realmente dialética ao neoliberalismo global? Ou vamos permanecer na confrontação mediática das periferias ao mundo hegemônico?


Corremos o risco de perder o pé na própria formulação utópica do outro caminho, fora dos reflexos condicionados chavistas. A estratégia ora avançada para a expansão dos foruns no Quênia indica uma vigorosa articulação de redes locais, no realismo de sua vigência a longo prazo. O risco está em manter-se a força da idéia da alternativa ao lado da mobilização. Como a configuração do antiliberalismo ganha a coerência prática e a abrangência que reclama, diante da terraplenagem hegemônica? Entre as novas experiências dessa busca, o Brasil que emerge terá importância crítica. De toda forma, a se reunir de novo em Salvador daqui a um biênio, o Forum Mundial não será uma continuação de Nairóbi. Sobretudo quando o avanço da visão virtual da realidade nos levará a enfrentar, de saída, o protesto domesticado e a pseudo-resistência.


Jornal do Brasil (RJ) 21/2/2007