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As novas esperanças do Brasil de sempre

 

Os dados contundentes do Ibope neste fim de ano desfizeram toda garantia de uma reeleição de Lula. Os números castigaram, tanto do ponto de vista das preferências paulistas, quanto de um decréscimo generalizado, no país, da popularidade do presidente. Teria talvez atingido a própria base profunda, ou o sertão do seu sucesso. Mas não há como confundir este abalo, não só com a viabilidade de um êxito final, mas com a clara superação dessas desvantagens de percurso, desde que o próprio Planalto se dê conta de que a continuidade de Lula não é o fruto amadurecido do primeiro mandato. O novo, sim, é o impacto desses números sobre a reentrada na liça, para valer, da eleição, e as esperanças que desperta nos oposicionistas que dava como favas contadas a manter o presidente a faixa no peito, agora reforçada de seu peso em ouro.


Voltam à rinha candidaturas transferidas para 2010 e que podem, agora, antecipar-se o gosto de uma vitória. A recuperar o atraso, aí está a chamada ao cenário de Geraldo Alckmin, como o verdadeiro candidato do establishment, frente à gasta corrida às urnas de José Serra, mesmo ponteasse, no Natal, a sua clara preferência sobre o governador. Já que não se vai à brinca ao pleito, não há como subestimar o poder de fogo de São Paulo que vem à luta com todas as baterias do poder econômico, e na vantagem de apresentar um nome novo, sem as cicatrizes do prefeito.


Não há um Serra novo, mas tão-só requentado, diante da realpolitik conservadora, focando todas as suas baterias na plasticidade prometedora de Geraldo Alckmin. Aí está o debate autofágico, entre os detentores do segundo e terceiro cargos políticos, a levar os morubixabas tucanos a temperar a opção na volta ainda às pesquisas na clara trégua armada. Como fica nela o poder arbitral de FHC, chamado talvez mais cedo do que esperava a ter que tomar partido num tira-teima encarniçado?


As trombetas de guerra, por outro lado, soam no PMDB, mais que nunca, o verdadeiro decisor do que virá a ser um segundo turno para o atual inquilino do Planalto. A arrancada de Garotinho quer já os jogos feitos e neles arrisca tudo. A conseguir, de fato, a convenção para início de março, elimina os contendores objetivos e, de fato, se torna dono do pedaço eleitoral. Ao contrário, esmaece-se logo a chance de Nelson Jobim de ser o vice de Lula, ou levar o partido do Dr. Ulysses ao segundo turno, a consagrar o petista, de desenvolver o mais sofisticado dos apoios ao situacionismo.


O gaúcho é o homem de todas as estações, com a visão mais clara, talvez, do que poderia ser um protagonismo político pós-Lula, sem retorno, de fato, ao país de sempre. Detentor da mais notória biografia, não tem competidores no reconhecimento de sua persona nacional. Mesmo porque, das frituras e lamentações de 2005, não saiu nenhum herói vindicante do Brasil-bem. A passada é larga e estratégica. Jobim vai à candidatura do PMDB, para somar-se no segundo turno à Lula, e cobrar o seu preço? Ou, desde agora, como vice da chapa petista, permitirá o seu apoio, reforço de verbas, benesses e mimos do Planalto à ampliação das bancadas peemedebistas no novo Congresso?


Difícil outra pretensão nacional à candidatura do PMDB, tanto o seu berço são os governadores bem-sucedidos, e as pesquisas aí mostram, o castigo do antes mais promissor desses delfins, Germano Rigotto. E como se alinham as outras legendas? Só deparamos as contaminações pelos mensalões, do evangelismo político chegado ao grotesco, ou o tatibitate, entre renúncias e recibos, do petebismo, ou o troca-troca de cabeça de chapa do PDT.


Não será o resto da antiga aliança maldita que pesará, em qualquer agulha de balança das novas maiorias governamentais. O PSOL e o PPS testarão a recompensa do melhor idealismo político, mas sufocado pelo estrito moralismo das classes médias que não abraçarão, agora, Heloisa Helena. O presidente sabe do próprio potencial ainda não atingido pelos donos da opinião pública. É o efeito multiplicador que mal começa dos programas do ministro Patrus, a partir do Bolsa-Família. E a ter agora comida e escola, na prova do começo da mudança efetiva, ainda que tardia.


Jorge Viana, governador do Acre, quer dar a partida ao movimento popular pela entrada de Lula, a fundo, na reeleição, já acertada a não espancar dúvidas sobre o que fará o presidente. Mesmo por fora do sucesso atrasado dos programas, ou de uma volta ao ramerrão de promessas, quem ganhará a reeleição é o Lula de uma esperança que é tão perseverante quanto o vencer-se a injustiça brasileira, que não se permite o luxo nem a volubilidade de escolhas do país do ''tudo-bem''.


 


Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 11/1/2006