Esta coluna deveria começar assim:
“Diante das revelações da CPI da Covid, da já chamada ‘Covaxingate’ e de outras contrariedades, como sua perda de popularidade e o crescimento de Lula, Bolsonaro está completamente desnorteado. Ou, como diriam seus colegas do tempo de caserna, ‘o Cavalão perdeu as estribeiras’.
O maior sintoma disso é a mistura que ele vem fazendo de xingamentos escatológicos, do tipo ‘caguei pras perguntas’, com apelos dramáticos em feitio de oração — ‘só uma coisa me tira de Brasília: é o nosso Deus’. Na realidade, se as eleições fossem hoje, os votos o tirariam, já que Lula ganharia em primeiro turno, com 56% dos votos válidos ante 26% de quem se julga imbrochável e imorrível.
A propósito, o problema de Bolsonaro com as mulheres não é ideológico, é idiossincrático. Sua misoginia inclui até a própria filha. Não é segredo o que ele já disse: ‘Tenho cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher’ (haja terapia para ela quando, adulta, se der conta de que foi indesejada pelo pai).
Sua hostilidade depois de eleito fixou-se nas repórteres. Daniela Lima (CNN), ele chamou de ‘quadrúpede’; Driele Veiga (SBT), de ‘idiota’; e assim por diante. Para Patrícia Campos Mello, ele teve de pagar indenização por tê-la ofendido com comentários de cunho sexual...”
Desculpem interromper o relato. Mas são 20h03 de domingo e acabo de saber que o Xexéo morreu. Estou arrasado, sem chão, sem palavras, vazio, imprestável. Ele era um dos meus melhores amigos e um filho profissional.
São 22h19. Fiquei até agora diante da TV vendo os depoimentos dos amigos, colegas e admiradores em geral, ilustrados com fotos de Xéo (como o chamava) em vários momentos da vida — alegre, sorrindo. Não deixo de pensar no Paulo, seu marido e sua paixão há 30 anos.
Volto ao computador e encontro esta mensagem assinada por Tutty Vasques: “Zu querido, só para te dizer que meu coração está aí batendo juntinho com o seu, beijo, Alfredo”. Em seguida, Mary lê para mim mensagem de WhatsApp de Fernanda Montenegro: linda, emocionante. A próxima é de outra amiga, Míriam Leitão: “Você o chamou de filho profissional e era mesmo, lembro-me dos dois juntos, sempre juntos no JB”. Ainda bem que a meu lado estavam Mauro e Mary, que foi quem descobriu Xexéo para mim.
Eram mais de 2h quando fui deitar. Dormi mal e, no sonho ou pesadelo, me lembrei do episódio em que num dos últimos telefonemas eu o provocara dizendo que ele estava virando especialista em obituários de famosos. E completava:
— Mas você vai cumprir o que já me prometeu, que fará o meu também.
— Ih! Mas isso vai demorar — foi a resposta, rindo.
Vocês podem imaginar como ainda estou.