Se o prefeito Eduardo Paes achava que podia caminhar em harmonia com dois parceiros que são, entre si, declarados desafetos políticos — Jair Bolsonaro e João Doria —, bastou a primeira segunda-feira do ano para desfazer a ilusão. No dia 19 de dezembro, Paes havia assinado em São Paulo um termo de cooperação com o Instituto Butantan para a aquisição da vacina contra a Covid-19. Mas, anteontem, O GLOBO publicou reportagem de página inteira revelando o plano da prefeitura para a vacinação.
Na matéria, Paes alega que, ao contrário de São Paulo, ainda não tem calendário para a campanha porque resolveu seguir o Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde. E contou que o ministro Eduardo Pazuello lhe dissera que anunciaria as datas do PNI no dia seguinte. “Ouvi até a especulação de que seria no dia 20 (data em que o Rio comemora seu padroeiro, São Sebastião).” Só que, em vez disso, no dia seguinte o Ministério da Saúde negou que fosse anunciar as datas do plano, desmentindo assim o prefeito.
Paes não esconde os motivos por que precisa agradar a Bolsonaro. Sobre o primeiro encontro entre os dois, declarou que o objetivo era “abrir portas para resolver problemas do Rio”. E que espera manter uma boa relação com o governo federal para conquistar investimentos, como a finalização das obras da BRT Transbrasil, sem falar, claro, no enfrentamento à Covid-19 no município, uma prioridade da agenda do prefeito. Como não fica bem expor publicamente as motivações eleitorais para a disputa — um, o presidente, pretende continuar no poder; o outro, o governador de São Paulo, quer o lugar —, aparece só uma razão: a divergência sobre a vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.