As promissoras notícias sobre as vacinas de Oxford e da China, com o início dos testes em milhares de voluntários no Brasil, nos fazem olhar com melhores olhos o nosso amanhã, ainda que com cautela. Aliás, anteontem, aqui mesmo nesta página, dois importantes artigos falavam dessa incógnita que tanto nos intriga, o “novo normal”. Rosiska Darcy de Oliveira e Cacá Diegues, sem otimismo ingênuo e sem pessimismo masoquista, trataram o assunto com aquela bem dosada esperança, que é a profissão dos brasileiros.
Ela termina o seu texto lembrando que agora não é só a menina sueca, a “pirralha” Greta, de 16 anos, como fenômeno isolado, mas milhões de pessoas querendo ter voz ativa. “É um novo mundo, invisível aos obtusos”.
O cineasta, autor do clássico “Deus é brasileiro”, não se aventura a adivinhar, mas acha que “podemos esperar por um mundo mais leve, menos arrogante (...). É preciso virar o jogo e, ao contrário do que já fizemos, disfarçar a grandeza da utopia com gestos mais simples de extrema objetividade. Teremos que viver com coisas aparentemente mais simples”.
Comecei a ver a série “Medici”, que se passa na segunda metade do século XIV, durante parte da “Peste Negra” ou bubônica. Causada por um bacilo e transmitida primeiro pelas pulgas dos ratos, a “mãe de todas as pestes” migrou da China, onde teve origem, para a Europa, transformando-se numa pandemia que exterminou dois terços da população do continente.
Mas mesmo esse horror foi capaz de incubar um dos mais ricos movimentos culturais, o Renascimento, que produziu gênios como Leonardo Da Vinci, Michelangelo e Rafael, para só citar os principais.
Uma tese tenta explicar o divino mistério desse período: a devastação de Florença pela peste provocou uma tal mudança de mentalidade e de visão que, paradoxalmente, teria levado ao Renascimento. Da distopia à utopia.
____
Eric, meu neto de 7 anos, aproveitou o confinamento e escreveu esse poema sobre o tempo:
“Tic, tac, tic, tac/ É ontem que vai passando/ E vai até o último trilho/ Tic, tac, tic, tac/ O trem volta/ E vai até o primeiro ponteiro/ Quando chega o amanhecer.”