Ao saber que a polícia acredita que foi assalto e não atentado o que ela sofreu, a deputada Martha Rocha reagiu: “mesmo que tenha sido tentativa de roubo, é inadmissível que bandidos circulem de máscara e fuzil em plena luz do dia”. Foi desse jeito que o carro blindado em que viajava com a mãe de 88 anos foi perseguido e alvo de vários tiros, um dos quais atingiu a perna do motorista.
No ano passado, a ex-delegada foi informada pelo Disque Denúncia de que “um segmento da milícia planejava atingir algumas autoridades e o meu nome vinha especificado”. Uma das mensagens vinha de um presídio em Bangu e outra, da avenida Cesário de Melo, em Campo Grande, Zona Oeste.
O presidente da Alerj, André Ceciliano, chegou a se reunir com o interventor federal, general Braga Netto, e o então secretário de Segurança, general Richard Nunes, para denunciar que a deputada estava sendo ameaçada. Segundo ele, há seis parlamentares na mesma situação.
O governador reage quando se diz que ele é conivente com as milícias. Que não seja. Mas sua preocupação sempre foi com o que chamou, ao assumir, de “narcoterroristas”. Nem palavra nem ação contra as milícias. Ficou famosa sua estratégia: “o certo é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e.... fogo!”.
O problema é que os milicianos não costumam exibir a “cabecinha”. São mais profissionais, contam com integrantes e ex-integrantes das forças de segurança do Estado, como policiais, bombeiros, agentes penitenciários. E têm grande capacidade de se infiltrar nas instâncias do poder constituído. Quando surgiram, foram saudadas como um mal menor que seria muito útil no combate aos traficantes.
Hoje, elas “tomaram conta do Rio de Janeiro”, disse o procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, no seu discurso de posse. Ele tem certeza de que há relação entre as milícias e a morte da vereadora Marielle Franco. “Espero que o fato lamentável ocorrido com a deputada Martha Rocha não seja mais um capítulo dessa história” — uma história que está comemorando dez meses de impunidade.