Há um evidente exagero no que vou dizer, mas vamos lá: tenho vivido o ano de 1968 mais agora do que na época. É apenas uma sensação, claro, mas tão intensa que vou ter que tirar umas semanas de férias para poder dar conta dos compromissos assumidos — artigos, entrevistas, inclusive para rádios, documentários e teses, e palestras aqui e em outras cidades.
O que mais me tem surpreendido nesses encontros é o interesse dos jovens por um tempo tão distante, o que já foi chamado de nostalgia do não vivido diante de um presente tão desanimador e de um futuro incerto.
Mas é possível também um olhar para trás que não seja de fuga, mas de busca de lição para ajudar a entender essa nossa complexa atualidade. Isso aconteceu, por exemplo, no dia 5 último. Era uma daquelas ensolaradas manhãs de sábado em que é difícil encontrar na Zona Sul do Rio um programa que suplante a curtição da praia e de um chope com amigos.
Pois mais de 800 pessoas, a maioria de jovens, preferiram se trancar num teatro, o Oi Casa Grande, para participar durante cinco horas, com apenas um intervalo de 15 minutos, do evento “1968: Presente”, uma realização do Colégio de A a Z em parceria com O GLOBO.
Às 7h15m, quando o motorista veio me pegar em casa, informando que às 13h30m estaria esperando na porta do teatro para me trazer de volta, teimei com ele que era engano. Expliquei que a reunião estava marcada para começar às 8h30m e não poderia durar tanto tempo assim, a garotada não aguentaria ficar ouvindo sentada cinco horas de papo de professores e seis convidados (Emilia Silveira, Chico Otavio, Luiz Tenorio, Cid Benjamim, Carlos Andreazza e eu). Propus meio-dia.
Poucas vezes vi uma plateia tão animada, tão participante, tão interessada em debater as questões que nos preocupam hoje. Sabem aquele estereótipo de que o jovem brasileiro não se interessa por política, só quer saber de ficar se xingando nas redes sociais? Ali estava um desmentido.
Enquanto assistia, me lembrava com emoção das noites dos anos 70, quando, naquele mesmo teatro, o “Grupo Casa Grande” (Thereza Aragão, Paulo Pontes, Chico Buarque, Guguta e Darwin Brandão, Max Haus, Moysés Ajhaenblat, Nelma Salles, Mary Ventura) desafiava a censura e as ameaças de bomba, promovendo debates proibidos.
Valeu a pena ter trocado minha caminhada ao sol por aquele programa. Quando consegui sair, eram quase duas horas. O motorista tinha ido embora, claro.
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O descanso a que vocês também têm direito começa no próximo sábado. Até junho.