Um dos elementos centrais, estruturadores, da pintura de Branca Paixão é a cor, e uma cor essencialmente ligada ao cromatismo popular e tradicional brasileiro, brasileiro de fato, muito mais do que carioca, o que é fascinante no caso de uma artista tão ligada à ambiência do Rio de Janeiro.
De fato, se a Cidade Maravilhosa marca importante presença como temática em sua obra, nas visões das favelas, no icônico aqueduto da Lapa, na fusão onírica de ambos, as cores mais utilizadas pela artista, inclusive um marcante uso do negro, nos remetem a cores inseparáveis de tradicionais manifestações folclóricas dispersas pelo território nacional, como no Maracatu, no Cavalo Marinho ou como em certas Folias de Reis, o que nos parece ser um traço inconsciente da sua visceral brasilidade.
Em todos os seus quadros, nos quais se pode supor uma naïveté inexistente, há uma união sui generis de humor e religiosidade, de ironia que chega quase ao sarcasmo com uma construção contidamente hierática das figuras, como em certos retratos de santos. O uso das máscaras, que tantos nos evoca o grande James Ensor, propicia uma carnavalização da vida e dos homens, o que mais uma vez não pode deixar de nos relembrar o Rio de Janeiro, sua cidade.
É com a maior satisfação, portanto, que a Galeria Manuel Bandeira oferece ao público esta mostra numerosa de uma pintora apaixonada pelo seu ofício, o ofício apaixonante de transfigurar em arte libérrima a nossa vida, sempre tão limitada em todos os seus aspectos.
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