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Skaf rejeita Dilma

 

O desentendimento entre Paulo Skaf, o candidato do PMDB ao governo de São Paulo, e a presidente Dilma Rousseff é reflexo da geléia geral em que se transformou a política partidária no Brasil. A presidente, em reunião com o PMDB em Brasília, procurou atrair Skaf para sua candidatura à reeleição, colocando-o como mais uma opção para derrotar o PSDB além do candidato do PT Alexandre Padilha.

Quem deveria ficar magoado com a declaração seria Padilha, ou o PT. Mas não, foi Skaf quem correu para esclarecer que em São Paulo ele é candidato de oposição ao PT tanto quanto ao PSDB, recusando assim a possibilidade de que Dilma venha a ter um palanque duplo no Estado.

O presidente da Fiesp tomou essa atitude apenas para definir uma posição que lhe dá bastante conforto caso vá para o segundo turno: se contra o PT, receberá os votos dos antipetistas; se contra o PSDB, é a escolha obrigatória dos petistas para impedir que os tucanos continuem no poder.

Mas há também um cálculo eleitoral nessa recusa do palanque para Dilma: Skaf não quer se contaminar com o desprestígio que detecta no governo federal. A exemplo do candidato à presidência da República Eduardo Campos, do PSB, Skaf quer ser a alternativa à polarização entre PT e PSDB em São Paulo e, pelo menos na teoria, está em melhor situação que Campos.

Aparece nas pesquisas em segundo lugar, bem à frente do petista Alexandre Padilha. Nessa situação, o que menos ele quer é aproximação com a presidente Dilma, que, no entanto, é apoiada por seu partido para a presidência da República.

Situação inversa acontece com Eduardo Campos: o PSB deve acabar fazendo um acordo político com o PSDB em São Paulo, entrando na chapa de reeleição de Geraldo Alckmin, mas se recusou a manter o acordo com os tucanos nos demais estados em que ele estava sendo negociado, notadamente Minas Gerais e Pernambuco.

Já o PSD de Geraldo Kassab deve aderir à candidatura de Alckmin em São Paulo, mas não abre mão do apoio a Dilma Rousseff para a presidência da República, dando-lhe seus minutos de propaganda como gesto de gratidão pelo apoio que recebeu na formação do partido.

Com isso, inviabiliza o movimento para que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles venha a ser o vice do senador Aécio Neves, o que seria uma derrota direta do ex-presidente Lula. Meirelles, embora tenha sido eleito deputado federal pelo PSDB em 2002, passou os oito anos do governo Lula à frente do BC, tornando-se um dos símbolos de seu governo, mesmo que em determinado momento Lula tenha pensado em substituí-lo.

A presidente Dilma terá o dobro de tempo de televisão que o segundo colocado, o senador Aécio Neves do PSDB, mas não terá o apoio integral dos 10 partidos que formam sua aliança eleitoral. No Rio, o candidato tucano Aécio Neves tem uma aliança informal maior talvez que a formalizada pelos partidos da base aliada do governo Cabral-Pezão, que oficialmente a apóiam.

Isso acontece por que, segundo o cientista político Sérgio Abranches, o governo está em uma fase de “ambivalência”, tendo perdido sua força centrípeda, que é a fase em que é plenamente dominante. O presidente, com alta popularidade e liderança plenamente assegurada, consegue preservar o núcleo do governo com relativa facilidade, com o poder relativamente compartilhado e a rivalidade entre os parceiros da coalizão se dá dentro dos limites do negociável.

Essa força de atração, explica Abranches, começa a arrefecer em situações de crises de corrupção que atinjam o núcleo central do governo e a própria presidência, ou reversão negativa do crescimento econômico, particularmente com alta da inflação e queda da renda real.

Nesse processo, o regime muda de fase, passando à “fase de ambivalência”, que é onde estamos agora na avaliação do cientista político. “Nesta, o sinal positivo da presidência é fraco, “regular”, pouco indicativo do grau de apoio que ela de fato terá dos eleitores. A rivalidade entre os parceiros passa a afetar o núcleo central do governo”.

Se esse momento não for revertido por uma mudança significativa no ambiente político-econômico, adverte Sérgio Abranches, o regime tende a mudar de fase novamente, entrando na “fase centrífuga”. Nesta, a presidência passa a ter sinal negativo. A popularidade cai de tal modo que a “popularidade líquida” (positivo - negativo) fica negativa e o “regular” não passa dos 20%. A liderança presidencial é contestada, da mesma forma que o núcleo central do governo. Há paralisia decisória e legislativa, levando o sistema para uma crise de governança.

O Globo, 3/6/2014