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O Brasil maior depois da espionagem americana

 

Nas conversas entre o chanceler Luiz Alberto Figueiredo e Susan Rice, chefe do Conselho de Segurança dos Estados Unidos, entremostra-se a determinação de Washington em não abrir mão, por enquanto, e até em novo formato, da espionagem sistemática de qualquer Estado no presente quadro internacional. A negativa parece adentrar-se no conflito para a escolha de novos responsáveis do comando cibernético americano.

Possivelmente, a argumentação do chanceler Figueiredo impactou os novos adiamentos da perspectiva de Obama, de consagrar no mundo globalizado uma definitiva intervenção nas dinâmicas da soberania contemporânea. O que começou pelas denúncias de Edward Snowden envolve, ainda, uma vasta e quiçá impossível reorganização da mecânica de aparelhos em Washington, em choque com uma dificílima plataforma de consenso internacional. E esta quer se assentar numa defesa generalizada contra o terrorismo, mas deixando aberta, nessa justificativa, o seu envolvimento com o interesse estrito da segurança americana no mundo de nossos dias.

Só se salienta, por aí mesmo, a força do gesto de Dilma nas Nações Unidas de 2013, denunciando essa espionagem e recusando, subsequentemente, o convite para a visita oficial a Obama. Talvez, não se dê conta ainda a opinião pública nacional do novo destaque, lá fora, que a presidente emprestou à nossa presença externa. Já no início de seu mandato, salientou a necessidade de nossa voz no Oriente Médio, prenunciando o que seria, nestes dias, a aproximação de Obama ao governo Rowani, no Irã. Nesse quadro, dentro não só dentro da base mínima do reconhecimento dos direitos humanos, mas também da nossa torna às economias de mercado da região.

Mal nos damos conta, ainda, da importância latente do nosso País na área, pelo peso da comunidade de sírios e libaneses entre nós, inclusive, nesse último caso, a exceder a localizada no território original. Não se esquecerá, igualmente, da influência de Brasília na reformulação global dos fundos de assistência africanos, a cargo da ONU, nem do patrocínio que a presidente vem prestando ao ingresso do México entre os BRICS. E mal está se abrindo a cortina, tendo em vista a próxima eleição pós-Obama, ao perigo do endurecimento dos republicanos contra os ditos latinos, nas restrições migratórias à população abaixo do Rio Grande. De toda forma, e no presente cenário, não é mais um Brasil terceiro-mundista, ou da periferia de Washington, a nação de presença transatlântica e peça maior no xadrez da convivência com o perigo dos Estados Unidos fundamentalista e de uma “civilização do medo” gerada pelo terrorismo.

Jornal do Commercio (RJ), 7/2/2014