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O Oriente Médio entre a revolução e o terrorismo

 

O começo de 2014 só acentua as suas surpresas, com o desbloqueio de situações de conflito e de impasses que marcavam de pessimismo o avanço da década. Aí está, como exemplo, a reintegração do Irã à economia mundial, agora reafirmada de Davos, inclusive com o convite para investimentos a longo prazo no país, dentro de um calendário nítido, até o fim do mandato do novo primeiro-ministro. Contagia, aliás, essa busca da interlocução de Rowani – em contraste com Netanyahu, em Jerusalém, criando um clima dificilmente revogável de diálogo, a que já se abriu o secretário de Estado americano, John Kerry.

Em Davos, por outro lado, ainda ressoou, no apoio a essa aproximação, a iniciativa do governo brasileiro, de meses atrás, assumindo a liderança, no mundo latino-americano, na superação, de vez, do isolacionismo de Teerã.

Ao mesmo tempo, consolida-se o imprevisível nesse mesmo Oriente Médio, com a estabilização do governo Assad, em Damasco, que sobrevive a todas as moções europeias para a sua derrubada. Emerge aí o reconhecimento, sem volta, de que a queda do ditador traria o caos do avanço terrorista, após as declarações incisivas de Al-Zawahiri, sucessor de Bin Laden. A Al-Qaeda cresceu no território sírio e aponta os novos lances de agressão, como os Frente Al-Nusra e do Levente. O que estaria em causa é o inquietante enraizamento do radicalismo muçulmano, a prometer um longo e desdobrado confronto com o Ocidente, iniciado pela queda das torres em Nova York. Torna-se cada vez mais claro como a liquidação de Bin Laden em nada interrompeu o avanço do mais violento extremismo, infiltrado nas antigas meras sublevações políticas de ocasião e a assumir a ideologia de uma violência sem retorno.

As presentes negociações de Genebra parecem já ter confirmado a certeza da permanência do presidente sírio – impensável no último trimestre. Está em causa, sob o álibi da legitimidade da rebelião contra o ditador o avanço de movimentos para a instalação de uma articulação federal da Al-Qaeda, contra todos os cenários de pacificação do Oriente Médio.

O novo pragmatismo com que a cena internacional aceita conviver com Assad é muito mais do que o reconhecimento da obsolescência dos velhos embates, vinculados às críticas tiranias do poder, e da radicalidade do novo conflito cultural tornando obsoletas as presunções de uma política de paz meramente apoiada nos jogos de tigres e classes do presente modelo, ainda do começo do século.

Jornal do Commercio - RJ, 31/01/2014