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Reforma política e voz das ruas

 

A presidenta deu-nos a chave para entender a erupção continuada dos protestos no país e, sobretudo, o caráter crescentemente difuso dos seus clamores. Estaríamos diante de uma “toma de consciência” da crescente melhoria social nesta última década, a, exatamente, querer mais na melhoria coletiva que experimenta o país. É a tomada de consciência generalizada desse avanço que explica o caráter genérico da ida às praças, muito mais próximo da “Revolta dos Indignados” espanhola, do que das nossas anteriores descidas às ruas na “Marcha dos 100 mil”, ou do “Fora Collor”.

E Dilma se antecedeu no impacto e, nesse sentido, assegurou a iniciativa governamental, na sua sequência. Previu, inclusive, o desgarre do Legislativo e propôs-se ao plebiscito, e, até, à miniconstituinte, para que fosse à atualização do sistema político ao pretendido desajuste funcional de nosso aparelho de Estado. O Congresso, de logo, esmerou-se em rechaçar as propostas do Planalto para fazer escoar toda resposta à “voz das ruas” à sempiterna reforma política.

No que se viu nos seus primeiros avanços, aí estava a insistência na prestação de contas dos parlamentares, bem como a redução dos tempos de campanha eleitoral. Avançavam, também, as propostas de desempenho partidário, da exigência da “Ficha Limpa” para o exercício do mandato – objeto de iniciativa popular –, e o novo empenho pela verticalização das coalizões. Todos esses impulsos, entretanto, veem-se, até agora, bloqueados pelos recursos judiciais do Tribunal de Contas.

E a nova vaga de recuos das propostas legislativas mostra que já se volatizou toda a aragem da mudança em função do status quo. Vamos às prestações de contas, verbais e sumárias, do que se entenda como corriqueiro, das despesas vistas como módicas do pleito eleitoral, e, afinal, a boa consciência do Congresso vai ao que, na reforma política, represente tão só uma desburocratização do processo eleitoral.

Torna a inércia no país da memória curta; o novo momento já é pré-eleitoral e, nele, a iniciativa política volta ao comando partidário. Nela, uma opção instintiva já foi feita para o fortalecimento do status quo, e essa opção pelo sistema a justificar, inclusive, a  inaudita cafila ministerial. As oposições não disseram a que vieram, nem se apropriaram do protesto a esmo. No que já é o compromisso de Dilma com o processo de mudança, voltaremos aos plebiscitos ou à destrama dos travames constitucionais para o país que aprendeu a querer mais de seu bem-estar.

Jornal do Commercio (RJ), 9/8/2013