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O terrorismo vai à guerra

 

A XXVI Conferência da Academia da Latinidade, em Paris, deu especial atenção à nova e inesperada revivescência do terrorismo islâmico. Não foi outra a surpresa dos acontecimentos do norte do Mali e da Argélia, tendo forçado a intervenção militar e peremptória do governo francês, agora seguida de vacilantes, ainda, concursos das Forças Armadas de vários países europeus. Tal como avançou na conferência o professor Al-Salimi, de Oman, o que está em causa não é a mera ocupação do vácuo de Bin Laden, mas a emergência de uma nova geração do confronto islâmico. É a liderança, já, de Mokhtar Belmokhtar, amadurecido em conflitos pontuais no Afeganistão, que vem ao comando do que parecia uma provocação terrorista, rapidamente erradicada. O que se vê é um choque frontal no terreno com forças armadas rebeldes, e treinadas, a assentar-se num território e não mais a buscar apenas o atentado pontual, típico dos homens-bomba.

A nova estratégia envolve uma ocupação das áreas mais abandonadas, senão excêntricas, à urbanização. Associa à convocação islâmica a saída de condições literais de anomia social ou de larga marginalização dessas áreas africanas. O exemplo do norte do Mali reflete condições análogas do noroeste africano, e, sobretudo, dos confins do antigo colonialismo francês. Mas o confronto pode, também, crescer, na agressão de núcleos isoladíssimos de produção de petróleo, nos descampados desérticos da região, como vem de ilustrar o que ocorreu nos focos de extração maciça de petróleo na Argélia. A iniciativa atinge o Ocidente, desprevenido, a criar, da noite para o dia, uma quase impossível rede de proteção para essa especialíssima área de produção isolada na África, mas umbilical para a economia do Ocidente. Mais ainda, o desdobramento dos incidentes do norte do Mali indica uma ação concertada que mal começa e, sobretudo, acena, ao lado dos conflitos frontais, à ameaça do terrorismo nas metrópoles europeias, num prometido jogo de retaliações ao decorrente da intervenção do governo de François Hollande.

Ainda hesita a ONU na rapidez de sua ação, cobrindo o gesto francês, reconhecendo o inequívoco ato de terrorismo internacional continuado no confronto maliense por inteiro, destacável de uma "guerra de religiões". A brutalidade, por outro lado, no trato com os reféns, no caso das refinarias argelinas, distancia o atual confronto das expectativas de negociação quais as da Somália, por exemplo - e aponta a uma verdadeira guerra frontal em estratégias impensadas pela primeira intervenção de Paris. De toda forma, a reestabilização política da imensa região não dependerá mais de uma simples ameaça de retaliação das forças ocidentais, mas de um possível assento permanente das forças antiterror, sob a bandeira das Nações Unidas. E o mundo vira-se, também, para Obama, e a cooperação esperada do país que, até hoje, repudiou toda ação internacional desse gênero, em proveito da estrita e direta ação militar, então avançada pelos republicanos no poder, do Afeganistão ao Iraque.

Jornal do Commercio (RJ), 1/2/2013