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O peso da inércia

 

A quase fatalidade, hoje, da vitória de Mitt Romney entre os republicanos, nos Estados Unidos, é, ao mesmo tempo, a da inércia do status quase consumado.

Desaparecem os consensos das polarizações, tal como os centros permanecem num tédio insuperável, e o próprio jogo do Partido Democrata, frente aos rednecks, continua não acontecendo.

O mesmo anticlímax parece adormecer a candidatura Obama. Certo da sua vitória, praticamente não se aproveita das contradições do outro lado para, de vez, dar o passo adiante que lhe permitiu a federalização dos serviços de saúde e um começo de redistribuição da renda pelo aumento da fiscalidade dos super-ricos. Esbateram-se, também, as confrontações no mundo mediterrâneo. É o avanço do próprio fundamentalismo, gerado pelo paradoxo da Primavera Árabe e pela regressão política, vinda das eleições democráticas, com o que se vê, por exemplo, num território inesperado, como o turco, o avanço da torna ao véu, bem como do fortalecimento da rigidez do sistema, eliminando as condições para a possível abertura a um federalismo curdo.

Da mesma forma, e ao contrário das esperanças de há um ano, perde terreno a perspectiva internacional desta nova ordem na região, atentando, sobretudo, ao consenso sobre a intolerabilidade da violência e o julgamento desses crimes pelo Tribunal Penal Internacional. Saif Kadafi, o filho do ditador líbio, será definitivamente julgado no próprio país, e, dentro da perspectiva do ajuste de contas, cada vez mais ameaçado dos conflitos tribais emergentes no território.

Da dinâmica inercial destes anticlímax, muitos veem, até, o próprio desbarato nacional da Líbia, e irá nesse separatismo crescente entre a Cirenaica e a Tripolitânia. É o perigo de uma mesma desagregação latente, e que já levou os EUA a manter transições de fachada com o governo de Saleh, no lêmen.
 
De toda forma, não emergiram novas lideranças nítidas na Primavera Árabe, no post-scriptum lamentável do anticlímax. A Praça Tahrir, símbolo do futuro, não se enche mais, frente ao choco governo militar egípcio, sem agenda para o dia seguinte. 

 O Globo, 31/3/2012