O avanço, já insuperável, de Mitt Romney para a candidatura republicana, afasta, de vez, também, o radicalismo fundamentalista do partido, na competição com Obama. Há um esvaziamento doutrinário, em bem de um hiperpragmatismo, nas defesas do status quo capitalista do país. Romney é um multimilionário dono de negócios, a apostar no caráter acidental da crise do sistema, e na volta à idade de ouro do desempenho econômico de há uma vintena. Mas o candidato, que reforçou sua escolha na América profunda, o fez na Flórida, e confia no suporte crescente do Texas. O apoio a distância de Jeff Bush, irmão do ex-presidente, levanta a interrogação de se não é este o candidato encoberto, caso os contornos mais nítidos de um oposicionismo levem à torna da era dos Estados Unidos imperiais, a quererem se impor à nova globalização.
A redução da instituição do Tea Party vem de par com um retorno religioso nítido, e a juramentos, pela fé, no apoio aos republicanos nos cáucus da Flórida. Aos mesmos se soma – na contramão do voto pró-Obama, da latinidade americana, assentado nas migrações mexicanas – o peso dos cubanos transplantados, na violência reacionária, que levou Marco Rubio ao Senado americano. Nada mais oportuno, neste contrafreio, que as declarações da presidente Dilma, em Havana, ao salientar o contraditório com o purismo democrático americano do escândalo de Guantánamo. O avanço, hoje, de nosso recado internacional está em discutir as contradições que envolvia, na visão americana, a conjugação de democracia, direitos humanos e cidadania. E o fracasso da Pr i m a v e ra Árabe já nos deu o seu alerta de como o regime político das eleições livres pode levar ao fantasma das novas “guerras de religião”.
É cada vez mais provável a vitória de Obama, mas pergunta-se se um segundo mandato democrata vai aproveitar da oportunidade histórica de um novo rooseveltismo, e do reencontro de uma política pública de bem-estar, fora do progressismo providencialista republicano. As últimas gafes históricas de Romney, descartando os pobres, e os vendo como um resto, na prosperidade da classe média americana –, deixam claro quem vai votar do outro lado e não quer o país cada vez mais nas mãos dos muito, muito ricos.
Jornal do Commercio (RJ), 24/2/2012