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Opinião pública e democracia profunda

 

O ministro Gilberto Carvalho avançou, no fórum de Porto Alegre, proposta crítica  para o aprofundamento da  democracia em nosso país.  Mas, no quadro da sua problemática  contemporânea,  não há só a reconhecer o  avanço do Brasil, hoje, diante  das perplexidades das esquerdas europeias e do risco fundamentalista americano, frente à complexidade da vida social e econômica dos nossos dias. Ou, sobretudo, dos sistemas de controle que aquele regime político engendra, assegurando a liberdade para o exercício pleno da cidadania. O ministro evidencia a grande tensão atual entre a manifestação da opinião pública e o seu controle pelo universo mediático, que pode levar às adesões de massa aos interesses de um status quo generalizado, a partir do capital financeiro internacional.

Percute, mais ainda, esse risco, de comando de um sentimento coletivo vago, frente à necessidade da crescente partidarização que reclama a vida política, e num jogo das diferenças na visão da mudança social. Mas Gilberto Carvalho vai mais adiante, a mostrar o quanto a ideologia é essencial para essas mediações e como, de fato, um processo de ampla comunicação de massa pode fugir ao palco do processo democrático.

Não sabemos até onde essa ditadura clandestina atingiu o avanço das classes médias e a sua impregnação pelo conservadorismo. Perguntar- se-ia se, de fato, esta passagem da marginalidade social e econômica ao mercado, na característica essencial dos governos Lula e Dilma, gerou uma consciência fundamental da mudança que a blindaria frente ao horizonte do país instalado. E é nesses mesmos termos que apenas começa esta luta pelo acesso à informação de um país que emerge, e o papel essencial que tem o poder público em oferecer e assegurar a alternativa à mesma matriz ideológica que disseminem os meios de comunicação.

O pronunciamento de Gilberto Carvalho ecoa o do ministro Patriota, em Davos, mostrando, exatamente, como no Oriente Médio, as maiorias eleitorais podem levar, também, aos fundamentalismos e à própria regressão final da democracia, como, hoje, enfrentam a Tunísia e o Egito. A palavra, quase simultânea, dos nossos dois ministros evidencia o impacto, hoje, do Brasil de Lula e de Dilma, na denúncia de todo o purismo de modelos, diante do que seja a experiência real da mudança. E da visão, como vemos, hoje, entre nós, de que o aperfeiçoamento político casa e rima sempre com a sustentabilidade do desenvolvimento, de vez, do País.

Jornal do Commercio (RJ), 3/2/2012