Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > A presidenta e a grande potência

A presidenta e a grande potência

 

O discurso da Presidente Dilma nas Nações Unidas, na sequência de uma tradição ininterrompida, enfrentou os estereótipos das crises mundiais e, sobretudo, do convencionalismo da sua expectativa. Frisou o caso inédito da primeira mulher a abrir a Assembleia Geral da organização, não sem repetir a clássica reivindicação brasileira a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. No quadro geral dos problemas trouxe a tônica  indiscutível, do ponto de vista das nações em desenvolvimento, do que seja, de vez, a superação das globalizações hegemônicas.

O que impactou, mais que as conclamações de boa vontade, foi a firmeza da determinação brasileira diante de um permanente adiar de questões cruciais de nosso tempo, ou da interferência dos blocos centrais, buscando resolver pela força conflitos nacionais do antigo Terceiro Mundo. 

Dilma foi contundente ao proclamar o reconhecimento do Brasil à independência da Palestina e mostrar a intolerabilidade da agenda de dilações que, a duríssimos esforços, empurra os Estados Unidos à decisão final para 2012. Ressalta na fala da Presidenta a nítida condenação do desempenho da Otan no conflito líbio, insistindo na sua solução internamente. Mormente quando são frouxíssimos os vínculos nacionais do país, assegurados por Kadafi, frente a uma dominância clânica e tribal, e que pode levar à fissura, de vez, entre a Tripolitânia, a Cirenaica e os aglomerados bérberes de Fezã.

A resistência do ditador em Sirtes, e em várias outras regiões, marca o presságio de uma guerra civil e a surpreendente permanência de Kadafi mais reforça o impasse. O açodamento dos governos francês e britânico, em reconquistar um controle da exploração do petróleo líbio, soa a ressurgência das políticas do velho imperialismo econômico, protegido pelos álibis da segurança, e de uma indigitada repressão ao terrorismo. Dilma conclamou as Nações Unidas a atentar à sua responsabilidade ao proteger os imperativos humanitários. É chamado que fará fortuna frente aos aparelhos intervencionistas internacionais na paz e estabilidade de nossos dias.

A convocatória imediata da Presidente, em Nova Iorque, nos encontros da década que se abre, é a conferência Rio+20, em junho próximo. Marcaria a alternativa ao discurso cansado da globalização, pela prioridade do desenvolvimento e do imperativo da melhoria de vida na consciência dos direitos contemporâneos.

 
Jornal do Commercio (RJ), 7/10/2011