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O fantasma, já, do Tea Party

 

O maior impacto da crise econômico-financeira global está, já, no rigor da polarização antecipada que criou para as eleições americanas de 2012. Percurte nela a torna do fundamentalismo dos Estados Unidos, em que o cerne dos rednecks, no seio do continente, e de sua população desligada de qualquer realidade mundial, criou o próprio antídoto ao padrão básico da democracia, e do país das liberdades jeffersonianas. E, significativamente, foi buscar os ossos do elitismo pré-independência, no entendimento do país dos puros, vindos do Mayflower, afirmando toda descontaminação com o bárbaro, no contexto em que se enraizava. O movimento que o encana hoje, o Tea Party, vai até, praticamente, à recusa dos imperativos do que seja um Estado moderno, à busca do país das liberdades selvagens e da drástica redução de impostos. 
 
O que é significativo agora, diante dos novos e primeiros alinhamentos eleitorais, é a mediocridade geral das propostas dos republicanos. Confrontam a iniciativa de Obama, que remete à ideia de justiça social qualquer políticade mudança fiscal e prometendo a redução dos impostos da classe média. Os pré-candidatos da direita radical aí estão: Herman, Pawlenty, Romney, Perry, Huntsman e Michele Bachmann, a indicada pelo Tea Party, ainda dentro da indefinição de Sarah Palin. Mas Perry parece emergir como favorito. Após um começo democrático, foi convertido ao mais explícito dos evangelismos e à visão do futuro como entregue ao providencialismo divino. 

A maior garantia, entretanto, ao bom-senso dos futuros eleitores, a prevalecer como opção a Obama, é o recado do seu governo no Texas, depois de uma década. Deixou o estado com a terceira taxa de pobreza nacional, o segundo percentual de presidiários, a pior taxa de gravidez adolescente, a menor proporção de formandos no ensino médio, o maior percentual de população sem seguro médico e a pior participação eleitoral do país.

Mas se há uma eleição sem ambiguidades, nem surpresas de última hora, na rigidez que separará democratas e republicanos, é a confissão fundamentalista de Rick Perry em favor de uma inquietante América do Tea Party. A de que a vitória republicana em 2012 "virá das pradarias varridas pelo vento, no meio da América, das fazendas desta grande terra, nos corações e mentes dos americanos tementes a Deus".

Jornal do Commercio (RJ), 19/8/2011