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A nova aposta em ciência e tecnologia

 

A presidente Dilma Rousseff, na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, deu a máxima ênfase à organização do novo programa de formação profissional e tecnológica - o Pronatec - que deverá ser objeto, sem maiores delongas, de Medida Provisória. E, ao mesmo tempo, pela iniciativa do ministro Aloizio Mercadante, soma ao projeto a intensificação da qualidade de ensino, através de amplo convênio com múltiplas universidades estrangeiras, entre as quais as de Princeton, Oxford, Cambridge, Salamanca e Harvard.
 
O projeto deve envolver uma primeira convocatória de 28 mil candidatos. A presidente afirmou a marca de salto estratégico que tem a iniciativa, permitindo superar toda a defasagem entre as formações tradicionais e o input deste saber-fazer, buscado lá fora, para acelerar a nossa política de desenvolvimento sustentável. E é também nesse quadro que é tempo de o Brasil assinar o Pacto de Bolonha, nos dando acesso a toda a rede de intercâmbio que já criou esta verdadeira agora de conhecimento no espaço continental europeu.
 
O programa sofreu a crítica de que, no quadro da classificação das bolsas, beneficiaria a população mais rica do país, frequentadora dos melhores colégios, e repetindo no âmbito deste intercâmbio, paradoxo que leva as classes mais favorecidas a se classificarem para as universidades públicas, beneficiando-se da sua gratuidade.
 
Por força, o regime não poderá deixar de contemplar o sistema de quotas e ponderações que ensejem, de fato, a presença expressiva de grupos sociais das classes C e D, na circulação internacional desse conhecimento.O que se perguntaria, sim, é do quanto, neste empenho de extrema valorização do input de ciência e tecnologia, se definiu o quadro de carreiras e vocações dos atuais bacharelados no Brasil, merecedores desse incentivo. E pode Aloizio Mercadante mostrar que os cursos de engenharia respondem apenas a 1% das procuras do ensino superior.  

Continuamos presos - sobretudo, nas classes que começam a chegar ao mercado - à noção do status tradicional, que leva as novas gerações menos favorecidas a buscar os cursos de direito e de administração. O atual projeto é absolutamente categórico nesse particular. Favorece estritamente a engenharia e cursos afins, bem como o âmbito das ciências biológicas e médicas.

Alegar-se-ia que, ao deixar de fora os cursos mais procurados do País, e especialmente o das ciências sociais, abre-se mão da ferramenta tecnológica que hoje é indissociável dentro da política de mudança, do avanço do processo de urbanização, ou do assento dos próprios fundamentos de uma política ecológica no desenvolvimento sustentado. Mas o projeto é especialmente sensível nas estratégias em que o avanço do know-how da mudança contrapõe a ciência e tecnologia à inovação. E neste particular reforça toda a cautela no favorecer uma formação interdisciplinar no conhecimento das políticas "-" de mudança, essenciais a que se possa, de fato, encontrar os guetos, mais mesmo do que as quebras de rotina, na busca efetivamente de novas combinatórias, responsáveis por uma verdadeira alavancagem e aceleração do perfil da mudança brasileira.
 
Tal como frisou a presidente, a grande aposta do Pronatec e do projeto de bolsas de estudo que o alicerça, tem o caráter exemplarmente compensatório da inércia e da tranquilidade dos saberes meramente cumulativos da nossa tradição cientifica. O inédito vai, por inteiro, à aposta na aceleração da mudança, na mesma retomada do "Plano de Metas" ou dos "50 em 5", do governo Kubitschek.

Jornal do Commercio (RJ), 5/8/2011