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Para onde vão os países bálticos?

 

O mundo báltico foi o do advento temporão, na Europa, dos Estados nacionais, de depois da queda do Muro. Estônia, Lituânia ou Letônia marcam identidades distintas, via de regra simplificada pelo regionalismo territorial. A continuidade litorânea não impediu notória diferença entre os influxos culturais, as tradições históricas e as ambições de poder destes países, ciosos dos seus limites, das suas línguas e de suas culturas, muitas vezes descartadas por uma parentela geográfica.

 

Riga foi a terceira cidade do czarismo, e estuário marítimo do império de Pedro, o Grande. A língua russa continua matricial hoje na Letônia, e a parentela arquitetônica da capital é a dos palácios de São Petersburgo, as avenidas imensas, e os seus palácios de verde e azul desbotado. Mas o fim do século XIX emprestou-lhes um matiz cultural único, de art nouveau na riqueza de cariátides e atlantes, que ornam as fachadas dos edifícios gigantescos do centro da cidade. Vem da matriz de um só artista, de Eisenstadt, a proliferar, subseqüentemente, na vivacidade dos boulevards e do jogo de vista únicos em que se entrelaçam os balcões da metrópole.


Os bulbos, nas torres grossas das suas igrejas, abrigam um luteranismo que contrasta, de logo, com a profunda presença católica da Lituânia.É ela a do desborde dos grão-ducados, e principados, tanto poloneses quanto alemães, de entremeio com o país de missionarismo cristão permanente, a se centrar em Wilnus. E as catedrais repetirão toda imponência de um barroco germânico, e as imagens do rococó chegado a toda estatuária religiosa do século XIX. Já a Estônia viveria da sideração hanseática, passada claramente, e a partir da língua, ao vis-à-vis com a Finlândia.


Poucas vezes assistimos ao arranque pontual e diferenciado de Estados-nação, como no que o Báltico oferece agora de estuários ao mundo eslavo, entre russo e polonês, e germânico. E na nova Federação européia, hoje travada no seu primeiro ímpeto, não há como se imaginar um voto em bloco destes países. Nem o acordo de uma comunidade financeira pela diferença clamorosa da política de valorização das suas moedas.


Em novos azimutes históricos, o futuro destes países vai mais à associação com a Bielorússia e a Ucrânia, na chegada desses países ao mar nórdico, e na utilização da riqueza da Universidade de Riga ou de Wilnus, ou Tallinn, para o avanço da antiga União Soviética meridional. Após os fracassos da primeira Federação Européia, os países bálticos oferecem hoje, com os seus vizinhos do Leste, a retomada maior desta continentalidade fundamental para os rumos de nosso tempo.

 


Jornal do Commercio (RJ), 8/10/2010