As esculturas de Alice Pittaluga lidam com o movimento. "Na verdade, essas peças querem nos repor no instante congelado e tenso em que determinado movimento encontra o repouso", explica Luiz Camillo Osório.
Alice Pitalluga, acompanhando o marido diplomata a várias partes do mundo, teve que se adaptar a estar constantemente em movimento. As viagens, a dança - grande fonte de inspiração - o Japão e Matisse são influências claras na sua obra. "Não é por acaso que sua escultura ganhou fôlego no período em que viveu no Japão. A delicadeza e a intensidade que dão vida própria aos gestos dos japoneses, foram assimilados pela escultora. Last but not least, o encantamento da pintura de Matisse foi-lhe fundamental", completa Camillo Osório. Alice Pitalluga começou a esculpir em Nova Iorque, onde morou em 1980. Lá mesmo, desde a década de 60, havia estudado desenho e pintura no Arts Students League, com os grandes mestres Marshall Glasier e Howard Trafton. Foi Glasier, com quem desenhou vários anos, que enxergou nos seus desenhos o talento para a escultura. Mudou-se para o Japão em 1987, levando na bagagem a escultura "Súplica de Paz", em homenagem às vítimas de Hiroshima. Em Tóquio participou de uma competição e foi selecionada, com esta peça, para o Memorial da Paz da cidade de Hiroshima. Essa escultura, em tamanho natural, foi inaugurada oficialmente no novo museu, aberto ao público em 1995. Também em Tóquio, onde morou cinco anos, fez uma exposição individual na Galeria Taimei, de Ginza, onde expôs seus bronzes em 1989. Em 1990, ainda em Tóquio, durante a últimas temporada de dança da companhia Martha Graham, foi selecionada com uma escultura, para ser doada à bailarina e coreógrafa pela comunidade americana no Japão. Essa escultura se encontra atualmente no Lincoln Center de Nova Iorque. Ainda no Japão, Pittaluga teve seus trabalhos incorporados às coleções de vários museus, bancos e sedes de companhias internacionais, como o Banco de Tóquio, Daichi Kangio e Fuji Xerox.
Em Praga, para onde Alice Pittaluga se mudou depois que deixou o Japão, continuou seu trabalho com peças em bronze. Impressionada pela pintura " La Danse", de Matisse, que viu em Paris na retrospectiva que trazia pela primeira vez o quadro de São Petersburgo, criou sua versão, em bronze, desse ícone da arte moderna.
"Eu procuro a beleza e a sinceridade no meu trabalho. Não é só a forma que eu quero que apareça, mas quero transmitir uma emoção forte. Nos primeiros oito anos, as minhas esculturas refletiam os sentimentos: solidão, tristeza, etc. Depois, foi no movimento da dança que me inspirei para continuar o meu trabalho. Tenho um projeto de mostrar a série "La Danse", inspirado em Matisse, ao ar livre. Aqui no Brasil, estou encantada com o trabalho do Grupo Corpo e da Débora Colker. O Brasil tem uma maneira de se mexer muito peculiar. É o movimento que identifica o brasileiro no exterior. O Brasileiro é extremamente gracioso", revela Alice.
A exposição "Alice Pittaluga - Um Percurso" ficou à disposição do público na Academia Brasileira de Letras, com ENTRADA FRANCA, até o dia 31 de outubro de 2000.