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Exposição: "Antonio Callado: o doce radical"

Sobre: 

A Academia Brasileira de Letras inaugurou no dia 31 de agosto, quinta-feira, às 17h, em sua Galeria Manuel Bandeira, a exposição "Antonio Callado: o doce radical" com leitura dramatizada da obra do escritor. O ator Milton Gonçalves e a atriz Tessy Callado, filha do escritor, foram dirigidos por Ricardo Kososvski, em uma apresentação no teatro. A exposição ficou aberta ao público durante todo o mês de agosto e teve seu término no dia 29 de setembro.
O escritor Antonio Callado foi cidadão de rara estirpe. Explorou todos os territórios da palavra: ficção, jornalismo, dramaturgia, crítica teatral, radialismo, tradução e magistério. Escrever era vital: "Acho que escrever é a idéia de sobreviver. Acho que é o duro desejo de durar", dizia ele. Além disso, em toda sua trajetória de vida ele lutou pela liberdade e dignidade humanas e respeitou os diferentes grupos étnicos que compõem a cultura brasileira.
Antonio Callado: o doce radical é uma exposição que enfatiza o texto - e a atualidade de questões nunca resolvidas no país, mas que sempre fizeram parte da agenda de Callado: a reforma agrária, a fome, a questão indígena e a marginalização imposta aos negros. São 32 painéis com 12 temas: (auto)-retrato, opinião, teatro, índio, Brasil e América Latina, reflexos da paixão, amigos e profetas, Rio de Janeiro, literatura e jornalismo, guerra, revolução e revelação, depoimentos.
"Um dos elementos da exposição é um tronco de casuarina, cedido pela Fundação Parques e Jardins, que remete não só ao Quarup indígena, mas a toda a literatura de Antônio Callado. Simboliza a busca do centro do país - o grande e necessário movimento de transformação da terra brasileira numa pátria mais igualitária e justa", explica Clarisse Fukelman, curadora da exposição.
O nome da exposição foi uma apropriação do tratamento carinhoso do grande amigo Hélio Pellegrino: o escritor era veemente na defesa de seus pontos de vista, mas o homem não abria mão da polidez, mesmo com seus opositores. Outro título honorífico foi dado a ele por Tom Jobim: "caboclo inglês". Antonio Callado nasceu no Rio de Janeiro, em 1917, e passou a sua infância numa casa em Niterói. Cursou a Faculdade de Direito, enquanto trabalhava em uma firma, mas nunca advogou. A carreira jornalística começou no Correio da Manhã, na mesma data de início do Estado Novo. Em 41, em parte para escapar à censura na redação, atendeu a um chamado da BBC e partiu para a Europa. Lá se casou com Jean Watson, com quem teve três filhos. "Eu ia visitar, como jornalista e escritor, o centro de uma guerra mundial. Em Londres e depois em Paris transmitia notícias para o Brasil. Ia por seis meses. Acabei ficando seis anos! Foi me dando uma saudade muito grande de um Brasil que eu conhecia mal, como em geral é o caso dos brasileiros. Essa vontade me levou ao interior, aos índios e me despertou de vez para a carreira de escritor, que havia começado com Assunção de Salviano e A Madona de cedro. O resultado desse acesso de amor pelo Brasil desembocaria em Quarup". Callado entrou para a Academia Brasileira de Letras em 1994, ocupando a Cadeira nº 8, que pertenceu ao acadêmico Austregésilo de Athayde. Com a sua morte em janeiro de 1997, o escritor Antonio Olinto foi eleito para a sua cadeira no dia 31 de julho do mesmo ano.
Dada a riqueza do material, a Editora Nova Fronteira irá imprimir um tablóide de oito páginas, a ser distribuído aos visitantes, que também fará parte da exposição. O tablóide constará de fotos e trechos da exposição.
OBJETOS QUE FIZERAM PARTE DA EXPOSIÇÃO:
- Dois retratos pintados por Portinari e João Callado e um quadro que foi presente de Djanira para enfeitar a cela dos Oito do Glória (dentre eles, Callado) - artistas e intelectuais presos em 64 após um protesto contra os militares no hotel Glória.
- Vitrines com objetos pessoais de Callado: souvenirs que ele trouxe da Guerra do Vietnã feitos com restos de aviões americanos abatidos; a santa que enfeitava a estante desse escritor que se dizia ateu, mas que tinha um profundo sentimento religioso; medalhas.
- Vitrines com cadernetas originais de viagem, desde 52, onde o escritor fazia anotações e que deram origem a livros como "Quarup" e "Expedição Montaigne", além de um original de romance não publicado, em homenagem ao profeta Oséias.
- Vitrines com correspondências: Ferreira Gullar no exílio, Juscelino Kubitschek, Gabriel Garcia Marques, Antonio Houaiss, Hélio Peregrino, Lúcio Costa (explicando a Callado o plano piloto de Brasília, com desenhos), Drummond, Francisco Julião (sobre reforma agrária).