Ensaísta italiano Pietro Citati promete devorar Prêmio da Latinidade anunciado ontem no Rio
O crítico, biógrafo e ensaísta italiano Pietro Citati é o vencedor do 2º Prêmio da Latinidade, oferecido pela Academia Brasileira de Letras e pela Academia francesa. O prêmio, no valor de 80 mil euros (equivalentes a R$ 134.000), foi anunciado na tarde de ontem, na sede da ABL, no Centro do Rio. "O que vou fazer com este dinheiro? Viajar? Não, não. O que vou mesmo fazer é um grande banquete. Vou comer!", brincou o escritor, em entrevista ao Jornal do Brasil, por telefone, de Roma.
"No ano passado, concedemos esta premiação pela primeira vez e o vencedor foi o escritor mexicano Carlos Fuentes. Desta vez, nos conectamos através da Internet com os acadêmicos franceses, que enviaram seus votos por e-mail. A princípio, no dia 8 de julho, Citati recebe o prêmio em Paris", explicou Maurice Druon, presidente perpétuo da Academia Francesa. Ele veio ao Brasil especialmente para a votação, da qual participaram cinco imortais franceses e seis brasileiros.
O nome de Pietro Citati era um consenso mesmo antes da votação oficial. Florentino, de 69 anos, o escritor é conhecido na Europa pela erudição de seus ensaios biográficos e pela crítica literária que exercita há décadas no jornal italiano La Republica. No Brasil, foram lançados seus livos Proust e Goethe, ambos pela Companhia das Letras e, na Europa, saíram seus estudos sobre Kafka e Tolstói. "Citati é um grande pensador de nosso tempo e ele penetrou no sentido e na profundidade de Proust. E nos deu uma explicação deste escritor e de sua influência muito além de tudo o que foi feito antes", elogia Druon. Seu Goethe foi saudado pelos jornais literários como "o mais belo e nobre livro sobre o autor na literatura italiana, com elegância de estilo e madura reflexão." E o escritor Italo Calvino o definiu como "um bibliotecário iluminado".
Entre outros assuntos, Pietro Citati também já escreveu desde importantes artigos na época do assassinato do cineasta Pier Paolo Pasolini a deliciosas crônicas sobre albergues italianos e cogumelos secos, que ele classifica como "os filhos prediletos da natureza".
O autores contemporâneos não gozam da mesma simpatia que os cogumelos porcini. "Estamos numa era da mediocridade. É um tempo triste, pois desde o fim da Segunda Guerra Mundial não surge um grande escritor", lamenta.
Entre outros nomes selecionados pelas duas academias para concorrer ao prêmio, estavam o do argentino Ernesto Sabato e do também italiano Claudio Magris. "A escolha caiu sobre um crítico, mas poderia ter sido muito bem um poeta ou um romântico. Foi feita uma lista sêxtupla, com três indicações dos franceses e três dos brasileiros, sendo que, por uma questão de elegância preferimos não premiar ninguém que fosse destes dois países. A partir do ano que vem, isto não vai mais ocorrer e poderemos premiar escritores de qualquer idioma, como, por exemplo, um romeno. Não há qualquer impedimento regimental quanto a isso. Apenas não queríamos entregar um prêmio a concidadãos. Ele não é uma ação entre amigos", conta Tarcísio Padilha, presidente da Academia Brasileira de Letras.
"Fiquei muito contente com esta nova láurea. Soube há dez minutos atrás", disse Citati. O escritor já tinha recebido os prêmios Bagutta - o mais antigo da Itália - em 1981, pelo livro Breve vida de Katherine Mansfield e, no ano seguinte, o prêmio Flaiano, também italiano. Ele conta que não é especialista em literatura brasileira, mas manteve amizade com Gilberto Freyre - "escrevi artigos sobre ele também" - e conhece a obra de Guimarães Rosa.
"Houve uma certa confusão a respeito do Prêmio da Latinidade este ano, porque alguns jornais o associaram a Academia da Latinidade, que está sendo fundada. Esta instituição não tem nada a ver com o prêmio e a ABL. O professor Cândido Mendes também participa da Academia da latinidade, mas isto é apenas uma coincidência", avisou Tarcísio Padilha.
Ele explicou que a premiação conjunta das duas academias é uma conseqüência da relação filial entre a instituição francesa e a ABL. "Basta lembrar que este prédio, o Petit Trianon, foi um presente do governo francês para a ABL. Nos inspiramos na Academia Francesa para fundar a Brasileira. Eles têm um fardão, nós temos o nosso. Eles têm 40 membros, nós também. E nossas regras para eleições têm os mesmo rituais que as deles", explicou Padilha.
Além disso, o presidente atribui à influência cultural francesa um motivo decisivo par a associação com a Academia Francesa: "Durante décadas a língua de cultura foi o francês e hoje pensamos que é o inglês, mas o também acadêmico Sergio Correa da Costa realizou um longo estudo que está sendo lançado hoje (13/03/2000) no livro Palavras sem fronteiras, que prova que a língua de maior influência em 46 outros idiomas é o francês, seguido do inglês, do latim e do italiano, o que prova a importância do francês na cultura mundial."
Mauro Trindade