Devo esclarecer que também não conhecia a palavra “coincho” ou, se a conhecia, tinha esquecido. Fui espiar “vozes de animais” no Houaiss e peguei-a lá. Refere-se ao som emitido pelo – como direi? – aparelho fonador do porco. Para nós, humanos, o coincho tem uma capacidade de comunicação muito limitada, mas vai ver que isso não passa de antropocentrismo preconceituoso e a porcalidade terá, quem sabe, até mesmo seus oradores. A esta altura grandemente ofendidos com a nova nódoa sobre sua imagem, que, por obra de lamentáveis e injustos mal-entendidos, nunca foi das melhores, haverão de estar coinchando protestos revoltados, em pocilgas pelo mundo afora. Os porcos, milenarmente transformados em pernis, presuntos e linguiças, devem achar é pouco essa gripe aí, como resposta aos muitos gravames que lhes infligimos. Mas não serão escutados, porquanto – reza um dos ditados em que acho que estou ficando viciado –, se o lobo compreendesse o cordeiro, morreria de fome. Pois é, não entendemos coinchos e não queremos entender. E assistimos impassíveis até a genocídios suínos, como acaba de acontecer num país cujo nome agora esqueci, onde, ao que parece, não sobrou viva nem a Petúnia do Gaguinho. É assim a ingrata existência, não se pode fazer nada.