A guerra da dengue
Com mais de mil notificações por dia, peço desculpas, mas a dengue continua a ser - e não só para quem mora no Rio - o assunto mais importante. É consternador ver nesta condição uma das maiores e mais belas cidades do mundo. Cada vez mais convivem nela, grotescamente, a era neolítica e a alta tecnologia, a civilização e a barbárie, a alegria e o medo, tudo com o denominador comum da mais completa insegurança e do quase completo desamparo. Dengue, uma doença considerada erradicada há décadas, marca eloqüente de degradação, descaso e atraso. Nada mais natural que os cariocas, assim como seus parentes que vivem em outras cidades, entrem em pânico gradualmente, vendo em si mesmos, seus vizinhos ou membros da família, que não se trata de onda da imprensa ou exploração política, mas da morte cujas formas mais agressivas atingem principalmente as crianças, transportada e entregue por um bichinho de asas que pode estar em qualquer parte. Morte mais de 20% acima do tolerado pela OMS.