![](https://login.academia.org.br/sites/default/files/styles/perfil_square/public/academicos/imagens-pequenas/merval-pereira-thumbnail2.jpg?itok=y08EhSnk)
A encruzilhada dos BRICS
O contraste entre os países do BRICS pôde ser medido ontem pela ambição de seus representantes no debate promovido pela Globonews aqui no Fórum Econômico Mundial em Davos.
O contraste entre os países do BRICS pôde ser medido ontem pela ambição de seus representantes no debate promovido pela Globonews aqui no Fórum Econômico Mundial em Davos.
Tratado como uma espécie de salvador da pátria, mas sem deixar que isso o faça esquecer os problemas que tem pela frente, o novo ministro da Fazenda Joaquim Levy encontrou em Davos, no Fórum Econômico Mundial, o ambiente ideal para vender a imagem de um novo modelo econômico que ele, cuidadoso, mas mostrando determinação, fez questão de ressaltar sem, no entanto, definir como antagônico ao que estava em uso nos quatro anos do primeiro mandato da presidente Dilma.
O Fórum Econômico Mundial que começa seus debates hoje em Davos dá razão à desistência da presidente Dilma, que preferiu ir à Bolívia a estar aqui. Pelo menos na terceira posse em sequência de Evo Morales a presidente brasileira terá lugar de destaque, dando a verdadeira dimensão a que o país está relegado no cenário internacional. Em Davos, a participação de autoridades brasileiras está limitada a discussões sobre a América Latina.
O processo do petrolão não será julgado pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, mas por uma de suas turmas, o que dará mais agilidade às decisões. Mas a composição dessa turma é que dará muito pano para manga, pois ela, presidida pelo ministro Teori Zavascki, tem uma vaga a ser preenchida pela saída antecipada de Joaquim Barbosa e até novembro terá outra vaga, na aposentadoria do ministro Celso de Mello.
O que é ruim vai ficar ainda pior, como dizia Ulysses Guimarães quando alguém reclamava do baixo nível da representação parlamentar. A Câmara eleita em 2014 aumentou de 22 para 28 os partidos políticos com representação, o que significa que as decisões serão tomadas por um plenário cada vez mais fragmentado, cuja lógica decisória obedecerá a critérios os mais díspares, quase que individuais e mutantes, caso a caso.
A denúncia dos Procuradores da Operação Lava Jato sobre indícios de que a corrupção não foi estancada na Petrobras, mesmo depois de todas as prisões realizadas e de todas as investigações que estão sendo feitas, é a mais grave que poderia surgir a esta altura dos acontecimentos, e justificaria a demissão sumária de toda a diretoria atual da estatal, a começar pela presidente Graça Foster.
A prisão de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobrás indicado pelo PMDB, coloca na cadeia o segundo dos três ex-diretores da estatal envolvidos nos escândalos da Petrobras. Paulo Roberto Costa, ligado ao PP, já estava preso, e falta agora Renato Duque, indicado pelo ex-ministro José Dirceu para a Diretoria de Serviços da Petrobras. Umbilicalmente ligado ao PT, teve o que poderia se interpretar como um tratamento diferenciado ao receber habeas-corpus para se livrar da prisão.
A informação do advogado Antônio Figueiredo Basto, responsável pela defesa do doleiro Alberto Youssef, de que seu cliente nunca enviou dinheiro nem para o ex-governador de Minas e atual senador Antonio Anastasia, nem para o deputado federal Eduardo Cunha, mais do que inocentar os dois parlamentares nesse caso, traz à tona novamente a utilização política do processo do petrolão.
Num momento em que a liberdade de expressão está em xeque em diferentes instâncias, seja de maneira dramática pela ação terrorista em Paris para calar as sátiras do Charlie Hebdo, ou em diversas partes do mundo, em que governos totalitários tentam limitar, ou mesmo barrar, a liberdade de crítica da mídia independente, faz bem tomar conhecimento dos conceitos emitidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello à respeito do tema.
Enquanto não sair a lista oficial dos acusados de envolvimento no petrolão, que deve ser apresentada pelo Procurador-Geral da República Rodrigo Janot nos primeiros dias de fevereiro ao Supremo Tribunal Federal, o Congresso viverá sob tensão, e todos os partidos políticos estarão sujeitos a vazamentos de informações que, por serem parciais, servem para blindar os parlamentares eventualmente citados.
A tragédia que se abateu sobre o jornalismo mundial é, sobretudo, a tentativa de sobrepor a violência à liberdade de expressão, um dos pilares do estado democrático. Mas é também a expressão mais brutal do desentendimento de sociedades que marca nosso mundo contemporâneo.
A presidente Dilma nomeou um ministério que pode ser medíocre em seu conjunto, mas tem um conceito por trás em algumas áreas fundamentais. A questão é que o conceito é uma repetição de manobra já realizada anteriormente pelo ex-presidente Lula, e por isso mesmo Dilma corre o risco de transformar em farsa a repetição de uma estratégia política que depende de um líder de reconhecida capacidade de articulação política para não provocar crises contínuas.
Curiosamente, a presidente Dilma Rousseff começa seu segundo mandato provocando as mesmas incertezas que desafiavam seus interlocutores durante a campanha presidencial de 2010, muito embora não haja motivos para se acreditar que ela tenha mudado.
O novo ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira terá uma tarefa árdua pela frente: tirar o Brasil da quase irrelevância nas relações políticas e econômicas internacionais. Ele destacou no discurso de posse a necessidade de ampliar o comércio internacional, o que parece indicar que o Itamaraty dará mais atenção ao comércio exterior - uma necessidade - do que à política, que pode vir a ser uma consequência. A quase irrelevância política brasileira, dentro e fora dos BRICS, foi confirmada em recente pesquisa do Ash Center para Governança Democrática e Inovação, da Harvard Kennedy School, que perguntou a cidadãos de 30 países suas opiniões sobre 10 influentes líderes nacionais que têm impacto global.
O Brasil começa 2015 em situação descendente, em que pese a enganosa euforia da presidente Dilma em seu discurso de posse no segundo mandato. A despeito de sermos a sétima economia do mundo, tudo indica que perderemos esse posto para a Índia este ano, segundo a consultoria britânica Economist Intelligence Unit, ligada à revista econômica The Economist.