A fatalidade da vitória de Dilma não acarreta, apenas, um desinteresse crescente à campanha, implica uma completa deserção das temáticas do futuro governo, e leva a candidata até a descartá-los como fator de mobilização do voto para o 3 de outubro. De toda forma, é de se esperar uma manifestação clara sobre a negativa de qualquer Assembléia Constituinte para obter-se a decantada e utópica reforma política nacional.A consciência pública já se deu conta do novo escapismo que representaria a proposta suscitada por Marina, na contramão das prioridades do "que-fazer" brasileiro.
É possível que a força do apoio a Dilma lhe permita definir com nitidez o novo modelo econômico do País, com a clara presença do Estado na infraestrutura da mudança e em investimentos críticos para o aumento, já, do nosso PNB. Não estamos num quadro em que a dinâmica do país, após a crise, vá toda à restauração da competitividade da área privada ao antigo estilo, e em contraste à dimensão social que comanda a nova produtividade brasileira.
A programática da candidata poderia avançar a discussão das PPPs, e no avanço das parcerias para a ação pública, nas propostas inovadoras que continuam guardadas nas gavetas do Ministério do Planejamento. Tomou-se claro, por outro lado, ainda, o quanto a política externa não vai à ribalta eleitoral a entremostrar o país voltado para si mesmo, na satisfação da melhoria social, e na surpresa dos antigos sem-nada, de chegar aos bens de consumo doméstico, e no enfileiramento da televisão, do fogão e da geladeira.
Por um momento pensou-se que, pelo menos uma nova geração, ainda virgem das urnas, se empolgasse com o cenário radical de mudanças, inovando a ida de Plínio Arruda Sampaio e do seu PSOL à mídia. Teve todo o efeito de um "revival" jurássico, do país das esquerdas pré-mudança, no arsenal utópico das reformas agrárias, da nacionalização dos bancos, dos lotes mínimos de propriedade. Os "twitters" tilintaram, por uma semana, atraídos pelo exotismo e pela curiosidade nos repentes trazidos ao Brasil da mudança, no seu melancólico passadismo.
Não se fez roldão o estrépito de Plínio, por contraste com o "povo de Lula", no abraçar a tática vingada do Brasil que está aí. Mas, sobretudo, nunca deparou o país, nesta próxima ida às urnas, um estilhaçamento tão grande das escolhas eleitorais frente aos partidos. Nenhuma legenda pode prever a coerência de votos de seus partidários, nem jamais pareceu tão clara esta multiplicidade entre a escolha para o Senado, a deputação federal e a estadual.
São muitas as somas algébricas que quebrarão as maiorias partidárias na contagem desses votos, amiudando o poder de pressão das legendas, no desbarato, até, das clássicas coligações para o Congresso e as Assembléias estaduais. Com a obsolescência da oposição clássica, deparamos também o esvaziamento, de vez, do que ao início da redemocratização pensavam-se fossem a consolidação dos partidos e o mínimo de vínculo entre o eleitor e o candidato selado pela fidelidade ao programa.
O "povo de Lula", que garantirá a maioria inédita a Dilma, não se compromete com qualquer revanche petista. E o partido pagará ainda pelo mensalão e pela falta de lideranças com que se inaugura o terceiro mandato na nossa opção, de vez, pela mudança.
Jornal do Commercio (RJ), 10/9/2010