Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Vácuo político

Vácuo político

 

A surpresa radical das opções de voto em São Paulo é a desse empate entre Serra e Russomano para a disputa da prefeitura. E vêm logo as interrogações: o sucesso do evangélico é de um prestígio em queda de suas aparições constantes na TV e, agora, a só viver da nostalgia da sua presença? Ou vamos a um novo vácuo político ideológico preenchido pelos evangélicos, passados, agora, determinadamente, a um protagonismo eleitoral?

O projeto aí está, anunciado pela Assembleia de Deus, de lograrem os pastores ou seus representantes, pelos menos, um vereador em cada uma das 5.565 cidades brasileiras. E tal, dentro de uma inevitável coligação, não obstante o contraste entre o disparo ascendente da Assembleia e a queda da Universal, de cujos programas e audiências se beneficiou Russomano. E o recado latente aí está, no que hoje leva o povo às ruas, a partir dos 350 mil participantes da Marcha para Jesus, no centro de São Paulo, superando, inclusive, a afluência à Parada Gay.

As eleições municipais reptam na geração de novos quadros de lideranças, tendo em vista as limitações objetivas do número de seus candidatos às prefeituras. E o que a capital paulista, agora, nos mostra é a exigência do conhecimento, senão da personalidade, do pretendente, à margem das palavras de ordem, tal como evidenciam, até agora, os 7% da opção por Haddad, no futuro pleito. Diga-se, também, que tal não põe em causa os rumos nacionais do petismo, na perfeita sequência entre Lula e Dilma. Deparamos uma consciência da irreversibilidade nessa decisão, contra qualquer torna ao status quo de há 10 anos, ou de qualquer esperança da volta do velho tucanato ao Planalto.

Trata-se, aí, do entranhamento e da maturidade democrática do país, saído da marginalidade, nessa década, e de uma tomada de consciência, independente das mediações partidárias clássicas. Já, dentro de alternativas de futuro, o acerto petista no sistema muda, profundamente, a visão de seus possíveis herdeiros, a longo prazo, no PSD ou no PSB.

Os seus desencontros nas novas coligações municipais se autoanulam, frente à vigência do governo Dilma, e aos cálculos de longo prazo sobre a sua sucessão. De toda forma, e, sobretudo, as presentes perplexidades e a caução evangélica sobre esse vácuo só evidenciam o quanto o Brasil de Lula excede o PT, e mantém-se indexe a qualquer nova arregimentação política nacional.

O Globo, 26/7/2012