Poucos, como Marina Silva, marcaram a cara do governo, desde as falas e promessas de 2003. O Planalto se reforçou desta referência internacional ganha pela Ministra, na perspectiva mais rigorosa da preservação ambiental. Sua convicção arraigada desmontou os temores e utopismos, a chegar, então, ao pedido de internacionalização da Amazônia.
A autenticidade do testemunho de Marina espancou o açodamento externo e a ingerência sobre a soberania de países que malbaratassem, agora legítimas reservas naturais "para o futuro do planeta". No caminho concreto e, às vezes, paradoxal da mudança, o sucesso do nosso desenvolvimento envolve contradições e o teste dos estritos valores ambientais, diante dos reclamos da justiça social. Sobretudo da percepção de que o maior atentado a nossa condição de vida é o quadro limite de fome e desamparo a que lhe vota o mundo da marginalidade, simultâneo ao da prosperidade concentrada do mercado rompante do século XXI.
Marina deu-nos o caráter já iconológico de sua presença, juntando à autenticidade acreana, a da mulher, e da religiosidade, chegada quase à força de um misticismo, na defesa de sua visão de mundo. Defrontaríamos, no segundo mandato, os conflitos de prioridades das políticas públicas, na luta contra o tempo, para, de vez, virarmos a página, frente às inércias recorrentes de um statu quo como o brasileiro.
Estes últimos anos implicariam em novos reptos ao conceito de sustentabilidade da mudança e do alcance de seus fatores, como vê, por exemplo, o nosso Ministério do Futuro, de Mangabeira Unger. . Exprime-o, por exemplo, o reclamo de uma política energética, apoiada em nosso potencial hídrico, de par com o plantio extensivo, suscitado pela superação dos combustíveis fósseis, em função do etanol. Tal realpolitik envolveria, ao mesmo tempo, o peso crucial da exportação de produtos primários, no reforço definitivo dos nossos superávits comerciais externos. A maturação do governo Lula enfrenta as contradições destas diversas dinâmicas a confrontar os dogmas preservacionistas com o "aqui e agora" da nossa expansão, para o patamar efetivo do desenvolvimento.
Defronta-se, ao mesmo tempo, a impaciência do Presidente, detentor do bater do martelo, no deslinde dos impasses supervenientes à mudança. A demasia burocrática do aparelho preservacionista pode ir ao banco dos réus deste cenário de inconciliabilidade, nascido muitas vezes das demoras e pudores da neoconsciência ecológica com o levantamento da nossa infra-estrutura energética.
O Brasil de Lula, por força, não é o dos sonhos de Blairo Maggi, nem dos líderes dos arrozais de Rondônia. As primeiras declarações do Ministro Minc não lhe valeram, apenas, uma carta branca para o passo à frente. Lula lhe exigiu o abuso, sim, da criatividade, para vencer a realpolitik dos novos ricos da nossa prosperidade e a forra nostálgica do purismo ambientalista.
Jornal do Commercio (RJ) 23/5/2008