Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Para onde vão as esquerdas europeias

Para onde vão as esquerdas europeias

 

A prostração da crise financeira na Europa, mesmo se manifeste o caso grego como um fenômeno geral de corrupção, não suscita, apenas, o profundo requestionamento do próprio modelo que assegurou a inaudita prosperidade das últimas décadas. Nem se trata apenas da cupidez dos Executivos e o excesso de ganhos, em que um sucesso especulativo veio, de fato, a comprometer a produtividade intrínseca do sistema.

 

No caso europeu o que estaria em causa, acima de^ tudo, é a exaustão dos recursos fiscais e da mobilização ainda do Estado como mola da estabilidade econômica e social. Tal demonstra, ao mesmo tempo, a perplexidade hoje das esquerdas para promover a mudança do atual status quo europeu. É o que põe em causa já as novas linhas das economias de lazer e de trabalho, no continente cada vez mais da terceira idade, e a discutir os novos limites da aposentadoria e das horas de trabalho de sua economia.

 

Mas, antes das bandeiras de efetiva mudança no seu conteúdo consentido de utopia, que sempre vitalizam as esquerdas, é a seqüela da òrise de 2008 que irá ao abate díessas esquerdas remanescentes no poder, como a de Zapatçro na Espanha.A agudização do contraponto regional na Itália somou a esquerda ao oposicionismo, contra o avanço da liga norte, que conta com a simpatia de Berlusconi, e leva um progressismo indiferen-ciado, a apostar, mais que em qualquer outro país europeu, nas novas dimensões internacionais de seu mercado econômico financeiro. É a mesma polaridade supranacional que levou a um conservatismo crescente às esquerdas alemãs, e a este centrismo milimétrico de que dependem as maiorias da primeira - ministra Merkel.


 

A derrota maciça de Gordon Brown na Inglaterra, por outro lado, é também a do crescente afastamento britânico da União Européia, em favor das superempresas internacionais, mormente em função da política emergente do petróleo no Mar do Norte.

 

A vitória das esquerdas no Legislativo francês não esconde a dificuldade, senão o impasse, de qualquer redistribu-

tivismo de renda, premissa básica das esquerdas, diante dos dispêndios a que já foi levado o Estado sarkozista para a contenção da crise de 2008.

 

O fantasma real dessas esquerdas está no caráter quase malthusiano em que se re-concentrou, como um todo, o sistema do continente numa política de contenção migratória e de corte das pontes com a permanente diáspora turca, árabe e africana. E como passo decisivo para a defesa da pequena Europa, há que atentar ao adiamento indefinido da entrada da Turquia na União Européia e, portanto, da volta de um espaço mediterrâneo como remate obrigatório da gran-de Europa, pensada nos pródomos do após-guerra de 45. Descartam-se as agendas para o avanço das ratificações nacionais da federação, da mesma maneira que o crescimento originalmente previsto para a Europa dos Seis claramente se frustrou diante das nações centro-européias, trazidas à entidade, e hoje claramente numa dependência americana.

 

De toda forma e, de vez, é a expectativa do impasse que rege este momento, mais que os jogos feitos de estagnação e retrocesso, de que dariam conta as novas direitas, à frente das mais conhecidas das retóricas. Não há equivalentes de Le Pen nos países vizinhos à França. E não foi outro o grupo derrotado, no mais significativo da vitória dos socialistas, de Marti-ne Aubry e Ségolène Royal.


Jornal do Commercio (RJ), 30/7/2010